Cinco Vidas - Heartstopper

Epílogo

Se prestassem bastante atenção, ouviriam o som das ondas na praia e o vento pincelando os pomares ao longe. A areia sob os pés lhes fazia cócegas enquanto caminhavam em direção à água. Haviam cadeiras de balanço na varanda e junto delas milhares de histórias foram compartilhadas. Desta e outras vidas, ainda que não fossem mais capazes de distinguir passado, presente e futuro.

Uma garrafa de vidro foi trazida pelo mar até os pés de Charlie. Havia um pequeno pedaço de papel ali dentro.

Provavelmente o tempo já havia se livrado de qualquer mensagem ali guardada. Por outro lado, o olhar otimista de Nicholas insistia que tirassem a rolha e chegasse o conteúdo. Aquela garrafa viajou por muito tempo, mais do que podiam imaginar... Merecia ao menos o esforço de uma tentativa genuína de resolver o mistério engarrafado.

O já idoso Charles Spring sabia que não poderia resistir àquele olhar. Então, com a pouca força restante não levada pelo tempo, retirou a rolha permitindo que a mensagem se libertasse do frasco.

—Melhor você ler, meu amor. Sabe que não consigo ler sem meus óculos.

O papel deslizou para as mãos trêmulas do loiro como se aquela preciosidade guardasse os segredos do universo.

Um pequeno silêncio se fez presente como uma expectativa alimentada despretensiosamente. Nick não sorria, estava concentrado em distinguir os rabiscos de letrinhas.

—Você tinha razão, meu amor. Um pouco de água deve ter passado pela rolha, a mensagem se perdeu — devolveu o conteúdo para a garrafa, fechando novamente —De todo modo, melhor devolvê-la ao mar, a história ali subentendida ainda pode sobreviver a muitas eras no mar.

Compartilhavam um sorriso complacente.

—Ainda pode ultrapassar os oceanos, o tempo e a própria vida.

A imensidão azul os convidava a mais uma aventura. Reconheciam aquele som, como um chamado tênue ligado ao próprio destino. Seguiam de mãos dadas.

—Tem certeza que está pronto, amor?

Um aceno positivo foi acompanhado de um sussurro que já era consumido pelo ambiente.

—Até a próxima vida, meu amor. Quando me encontrar, por favor, cuide bem de mim.

—Eu cuidarei, Char. Até logo.

A garrafa mergulhou na água seguindo o fluxo das ondas em uma dança ensaiada. Logo se perdeu de vista, voltando a fazer parte do todo como está destinada a ser.