Alto mar - final

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Darcy sabia que era uma boa irmã. Desde que se entende como gente estava segurando a mão de Nick sendo levada para suas pequenas aventuras. O loiro sempre gostou de explorar lugares, descobrir coisas novas e, mais do que tudo, sempre foi apaixonado pelo mar. Quando seus pais souberam que o mais velho não iria continuar os estudos, que gastaria cada centavo que lhe restara para comprar um navio... Não imaginavam que também perderiam sua princesa para as águas desconhecidas.

E lá se foi a jovem encrenqueira, içando velas, corrigindo rotas, escalando cordas como nenhum outro marujo o faria! Ser a segunda no navio foi conquistado, nada lhe foi dado de bom grado.

-Darcy, eu... Irei me casar. Com Tara Jones.

Casar-se com a herdeira dos Jones foi o último pedido de sua mãe antes da morte, que desejava ver o filho com um lugar para voltar de suas viagens. A jovem sempre fora amiga de seus filhos, mas felizmente não foi contaminada pelo desejo inevitável de navegar. Darcy morava com ambos, viajava com o irmão, voltava com o irmão, ajudava com a casa e fazia companhia a Tara quando Nick saia para preparar viagens. Sua nova obsessão era navegar ao redor do mundo através das terríveis águas do norte. Nem mesmo Darcy confiava nessa ideia, e nenhum navegador responsável aceitava lhe acompanhar.

-Darcy...Ele...Ficará bem?

Sua esposa não tinha forças para lidar com seus longos desaparecimentos. Sempre abandonada, sempre o recebia de volta com novos ferimentos e torcia para que aquela fosse a última aventura. Daquela vez, nem mesmo Darcy poderia lhe dar uma palavra de confiança. Ao invés disso, tentou aliviar sua dor com o que sabia fazer melhor: uma aventura!

-Qual foi a última vez que ouviu música ao vivo, Tara? Poderíamos... Ir ao teatro. Juntas.

A morena sorriu com a ideia. De fato, sentia falta de eventos normais que um marido levaria sua esposa para se divertir a noite.

Um primeiro encontro. Então um segundo, um terceiro... Todo dia alguma notícia no jornal relatava navios afundando ou embarcações sendo atacadas. Toda noite, a loira encontrava uma forma diferente de lhe fazer sorrir. Com o passar das noites, já não propunha como uma resposta a uma notícia ruim...Apenas queria apreciar a companhia uma da outra. Conheceram o circo, compraram e venderam obras de arte. Ofereceram bailes e liam livros juntas na lareira até perder o sono juntas.

Uma noite, houve um beijo mal posicionado, mas estranhamente agradável. Pela manhã, outro. Haviam sorrisos sem graças como se pedissem desculpas silenciosas pelo erro, mas logo se tornou um hábito convidativo a ambas, principalmente quando dividiam o sofá para ler poemas românticos juntas:

-DOCE TORMENTO...

"O mal que venho sofrendo

E que em meu peito se lê,

Sei que o sinto, mas porque

O sinto é que não entendo."

Darcy olhou com carinho para Tara esperando que siga as linhas do poema cuja as palavras lhe sufocavam, a morena continuou:

-"Sinto um desejo nefasto

Pelo objeto ao qual aspiro;

Mas quando de perto o miro,

Eu mesma é que a mão afasto."

Darcy lera a próxima estrofe:

-"Já paciente, já irritada,

Vacilo em penar agudo:

Por ela sofrerei tudo,

Tudo; mas com ela, nada."

Cinco Vidas - HeartstopperOnde histórias criam vida. Descubra agora