Above and Below - parte 4

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Havia algo de poético naquele horário do dia. Durante o crepúsculo, em que o Sol beijava a Terra no horizonte e o laranja consumia todo o céu, as rochas do anel ao redor do planeta brilhavam como cristais de arco-íris. Mesmo que já tenha visto imagens da Lua iluminando a noite como um grande holofote, o que ela se tornou agora parecia ainda mais belo. Para o bem ou para o mal, não importava mais. Já havia se passado um século desde o fim da Lua e aqueles fragmentos dançantes são a herança do que restou aos humanos na Terra.

Charlie gostava de escapar do subterrâneo naquele horário especial e subir nos escombros metálicos do que um dia foi um arranha-céu. Os anciãos da cidadela não toleravam saídas sem propósito, mas ele tinha seus truques para escapar.

Bastava colocar aquele óculos curioso fabricado por sua amiga, Elle, e podia olhar diretamente para cima apreciando as luzes. Vez ou outra algumas rochas se soltavam do anel e caiam como estrelas cadentes.

Uma delas lhe dava o ar da graça naquele momento. Um desejo, rápido!

Fechou os olhos e deixou a mente divagar. Ansiava por uma aventura em que não ficaria preso em cavernas, que seu destino estivesse muito além de sobreviver no subterrâneo enquanto havia um mundo tão vasto e fascinante para se explorar!

Por fim, o que parecia ser uma rocha do tamanho de uma árvore ganhou forma. Parecia ter turbinas e ser feita de metal.

Uma nave espacial.

Aqui deveria escolher: seguir o rastro da fumaça no céu que parecia ir em direção ao lago... Ou voltar para vila, onde estaria em segurança.

Sorriu.

Nunca viu o pedido de uma estrela cadente ser atendido tão rápido.

* * *

Nicholas é o que muitos consideram como prodígio no Novo Mundo. Se adaptou às condições de nascer e crescer em uma grande arca espacial, mas também apresentou excelentes resultados na simulação de gravidade. Naturalmente foi designado para o projeto De Volta para Casa e dedicou sua vida a estudar a Terra para estar preparado para as primeiras missões tripuladas de reconhecimento físico.

—Tudo pronto para o lançamento.

Era particularmente apaixonado pelas imagens de comidas. Tinham acesso a vegetais e animais no espaço, é claro, mas tudo era milimetricamente calculado para ser eficiente e naturalmente coisas como doces e sobremesas não foram uma das prioridades.

A primeira equipe de exploração seguiu cada qual para um ponto estratégico, locais aparentemente sem terremotos, vulcões e tsunamis e com uma frequência razoável de chuva. Nick gostou principalmente da ideia de experimentar frutas terráqueas e descobrir se eram realmente mais doces que as criadas no espaço.

—Atravessando o campo de asteroides e perdendo a comunicação da nave. Até mais, pessoal. Se tudo sair como planejado, logo entrarei em contato!

Quando entrou na atmosfera, algo aconteceu. Talvez um erro na despressurização do ar dentro da nave, não importa mais, já que o controle automático pifou e o astronauta precisou pousar a nave sozinho no meio de uma turbulenta queda.

Lá estava ela, água fresca! Nada parecido com os cristais absorvidos do espaço, havia tanta água que poderia mergulhar por completo.

Foi o que fez, torcendo que a água amenizasse o impacto. Se ejetou na hora certa e respirou pela primeira vez o ar fresco da Terra. Antes mesmo de sentir a textura da água, seus pulmões sufocavam com aquela abundância de oxigênio. Segundos depois, apagou.

Cinco Vidas - HeartstopperOnde histórias criam vida. Descubra agora