Welcome to western - final

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Antes mesmo dos primeiros raios de sol, Nick estava a postos junto ao bando. A aurora escapava seus primeiros traços no horizonte, um bom momento para fazer suas preces, pensava. Um pouco afastado do acampamento, o ponto mais alto sobre o rochedo era ocupado por quem provavelmente era o único outro religioso do grupo: Ben Hopeless. Enquanto o castanho segurava seu amuleto e enviava pelos ventos seus últimos pensamentos ao seu deus, o loiro se sentava ao seu lado e, na falta de um rosário, apenas juntava as próprias mãos em devoção.
O silêncio reconfortante foi preenchido pelas palavras do pistoleiro:
-Sabe que hoje vai ser um massacre, certo? Independente de quem finalizar a caçada. No fundo, todos nós sabemos disso. Dois mil dólares é muito dinheiro para uma pessoa, mas para um grupo? Dividir com tanta gente... Victoria Spring não seria tão caçada para render apenas cem dólares por cabeça.

A única única resposta recebida foi um olhar de julgamento. Nick sabia muito bem o porquê de Benjamin não poder lhe responder com palavras,
-O que foi? Sabe disso tanto quanto eu. Só estou dizendo... Que depois que todos se matarem, não vai haver grupo para o qual voltar e reportar. Você sempre disse que estava farto de fazer tudo pelo bando. Essa pode ser sua chance de se livrar de todos. - mais um olhar questionador, mas agora acompanhado de um tom jocoso, como se Ben risse da cara do colega - Ora! Sabe muito bem porque eu vou continuar nisso. É a chance que tenho para manter Charlie vivo. Você o conheceu... Não posso deixá-lo se envolver em nossa matança.
O resto do bando já estava se levantando e subindo nos próprios cavalos esperando algum sinal de Charlie se aproximando da Floresta Fantasma. Nick fez um último comentário de sair para alimentar Nellie.
-Foi bom falar com você, Ben. Sabe que... Assim você é muito mais agradável de conversar. Deveria ter perdido a língua muito antes.
Se o Pistoleiro ficasse por mais alguns segundos, poderia ouvir uma risada fraca vinda de Hopeless. Nicholas Nelson é um completo lunático. Foi a última conclusão do mudo antes de alcançar seu próprio cavalo.

* * *

Charlie descia montanha a baixo montado em Henry. No alto da serra, podia ver mais de uma dúzia de cavalos montados lhe seguindo. Se esforçava para não procurar entres estes, qual carregava o jovem que em pouco tempo havia conquistado seu coração. À sua frente havia problemas muito maiores para se preocupar no momento.
Uma neblina densa parecia preencher toda a floresta, como se magicamente estivesse inerente mesmo aos mais distantes troncos de árvore. O moreno se lembrava de ver uma floresta assim quando criança, antes de seus pais morrerem.

O pequeno Charlie Spring seguia os passos da irmã enquanto tentava ver o chão coberto pela camada branca de algodão doce. A brincadeira era simples: andavam para dentro da floresta e depois apostavam corrida para voltar para casa. Não era um floresta muito grande, então em qualquer direção poderiam sair dela, o desafio estava em conseguir fazer o caminho mais rápido possível sem se perder.
Assim que soltavam a mão, Charlie perdia a irmã de vista, mas podia ouvir a risada da mais velha e algumas frases como "por aqui", "estou do outro lado", "venha até mim, Charlie". Na época não soava tão assustador como se lembrar das situações agora. Além disso, sempre que se sentia muito perdido, Charlie se abaixava no chão e podia ver de relance os pezinhos da irmã correndo há alguns metros de distância. Isso era trapacear, é claro, então só fazia uso desses recursos em última instância.

Hoje também corria trás de sua irmã. Motivos diferentes, desafios diferentes, mas no fundo parecia ser a mesma neblina. Respirando fundo, o moreno adentrou o nevoeiro. Ali, pela primeira vez, notou perto das árvores alguns arbustos com pequenas bolinhas roxas azuladas. Blueberries. Definitivamente ele estava no lugar certo.
Henry parecia agitado com a neblina e estar no alto poderia lhe ajudar a ter um panorama do lugar, mas igualmente facilitaria ser seguido pelos caçadores de recompensa, então sua primeira decisão sozinho foi amarrar o próprio cavalo e seguir seu destino a pé. Pelo que havia conversado com Nick há duas noites atrás, o caminho deveria tomar no máximo um terço de dia mesmo estando a pé.

Cinco Vidas - HeartstopperOnde histórias criam vida. Descubra agora