Capítulo 18: Entrevistas e a Volta ao Lar

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Pov Sunoo

(Roupa na mídia)

- Você desistiu de todo aquele aparato de "garoto que pega fogo"? - o questiono.

- Você que está dizendo isso - diz ele, e desliza o conjunto sobre meu corpo, antes que possa me virar para o espelho, ele fala - Não esqueça os sapatos!

Venia me ajuda a calçar um par de coturnos, tão negros quanto a mais escura noite, mas que possuíam cadarços mais brancos que uma folha de papel. Então, me viro para o espelho. Ainda sou o "garoto que pega fogo", o tecido, tanto da calça quantos das blusas, tem brilhos amarelos, enquanto me observo, Dylan vem por trás e coloca um casaco sob meus ombros, casaco esse que parecia ser feito com pele de lobo, os pelos, que alternavam entre o preto e o cinza, eram macios e, no grande capuz que estava caído em minhas costas, tinha duas orelhinhas de lobo, onde ficaria o topo de minha cabeça. Comparando, o traje da carruagem parece exagerado, e o da entrevista artificial demais. Nesse traje, dou a impressão de estar emitindo luz, tal como um raio de sol.

- O que você acha? - pergunta Dylan.

- Acho que esse é o melhor de todos - respondo.

Quando consigo desviar meus olhos do tecido brilhante, estou mais ou menos em um estado de choque. Meus cabelos lisos, e agora platinados, estão jogados por cima da testa. A maquiagem, suaviza e preenche os ângulos duros do meu rosto. Um esmalte negro cobre as minhas unhas das mãos. A roupa, que apesar de parecer folgada em meu corpo, destaca as curvas que ainda possuo. Em poucas palavras, estou parecendo um menino, um menino jovem. Treze anos no máximo. Inocente. Inofensivo. Sim, é chocante Dylan ter bolado esse traje, se considerarmos que eu acabei de vencer os jogos.

Entramos no elevador e subimos até o nível em que realizamos nosso treinamento. É de praxe que o vitorioso, ou nesse caso, vitoriosos, junto a sua equipe de apoio, surjam da parte de baixo do palco. Primeiro, a equipe de preparação, seguida do acompanhante, do estilista, do mentor e, finalmente, do vitorioso. Estou em uma área pouco iluminada da parte de baixo do palco, uma placa de metal novinha em folha foi estalada para me transportar até o mesmo. Dylan e a equipe de preparação, se despedem para vestir seus próprios trajes e tomar suas posições, deixando-me sozinho. Na penumbra, vejo algumas paredes improvisadas a alguns metros ao meu redor, e imagino que os meninos estejam atrás das mesmas.

O ritombar da multidão é ensurdecedor, de modo que não reparo a presença de Zyon até ele me tocar o ombro. Dou um salto, surpreso, metade de meu ser ainda vivendo as agruras da arena, presumo.

- Calma, sou eu, vamos dar uma olhada nisso - diz Zyon. Estendo meus braços e dou uma voltinha - Dá pro gasto! - Não é exatamente um elogio.

- Mas? - pergunto.

- Mas nada. Eu estou brincando. Você está lindo docinho, que tal um abraço pra dar sorte.

Tudo bem, esse é um pedido um tanto, ou quanto, esquisito da parte de Zyon, mas, afinal, sou um dos vitoriosos. Talvez um abraço pra dar sorte caía bem. Coloco meus braços em volta de seu pescoço e fico preso em seu abraço, por um momento ele me traz um sentimento que já não sentia há anos, o de um abraço paternal. Ele afrouxa o abraço e vejo um pequeno sorriso em seu rosto, não os sarcásticos como sempre, mas um sincero.

- Melhor a gente ir logo pros nossos lugares - ele me conduz ao círculo de metal - Essa é a sua noite, docinho. Aproveite. - ele me beija a testa e desaparece na penumbra.

O cheiro úmido e rançoso do espaço abaixo do palco ameaça me dar ânsias de vômito. Um suor pegajoso surge em minha pele, e não consigo me livrar da sensação de que os estrados acima de minha cabeça estão a ponto de cair, e me enterrar vivo embaixo dos destroços. Assim que saí da arena, assim que os trompetes soaram, deveria estar a salvo. Daquele momento em diante. Pelo resto da vida. Porém, minha mente não vai deixar eu relaxar. Ela vai ver perigo em tudo, e em todos, por um bom tempo.

EN- 100° Edição: Jogos Vorazes A Tradição Onde histórias criam vida. Descubra agora