" O grupinho "

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Era por volta das sete da manhã, o ônibus encostou na praça central de Duskwood. O céu estava estranhamente bonito, o cheiro fresco das florestas da cidade se misturava com o orvalho da manhã. Duskwood é uma cidade tão silenciosa e pacata, algumas velhinhas estavam em suas calçadas varrendo as folhas secas e alguns jovens estavam andando a caminho da escola.

Peguei um táxi em direção ao hotel da cidade, já que eu tinha feito uma reserva pela internet. Peguei a chave do quarto com a tão famosa senhora Walter, era tudo tão simples e ao mesmo tão aconchegante. Finalmente eu estava em Duskwood, finalmente eu ia conhecer os meus amigos e ao mesmo tempo, conhecer de perto essa misteriosa cidade. A cerimônia de despedida do Richy seria feita no salão da igreja local, o pai dele organizou tudo. O que eu soube é que não seria aberto para o público, somente para amigos íntimos e sua família. É doloroso pensar que não tinha muita coisa para enterrar, se é que você me entende. Mesmo assim, quiseram prestar uma última homenagem ao Richy. A população da cidade estava dividida, uns tinham pena do que aconteceu com ele, outros o chamam de assassino e outros culpam a Hannah. Ela foi de uma garota desaparecida e querida por todos, a uma assassina e cúmplice do Richy.

A vida de todos não está sendo fácil, depois que a verdade veio a tona, as pessoas começaram a perseguir um por um. O meu nome ficou bem famoso em Duskwood, mas posso trafegar livremente por aqui, já que não tenho redes sociais e ninguém sabe quem eu sou pessoalmente. Enquanto eu não disser o meu nome, está tudo bem. Antes de tomar banho e me arrumar, resolvi mandar uma mensagem para a Cleo. Já que ela se propôs a me buscar no hotel e irmos juntas a cerimônia:

S/N: Oi, Cleo.

Cleo: Olá, S/N! Então, você já chegou?

S/N: Sim, acabei de chegar. Vou tomar um banho e me arrumar.

Cleo: Que bom. Estou me arrumando também, fique pronta e daqui a pouco eu te busco.

S/N: Ok. 👋🏻

Cleo: Até daqui a pouco. "Cleo está offline"

Tirei algumas roupas da minha mala e as coloquei dentro do armário. Fui tomar banho e me arrumei. Confesso que eu estava muito nervosa nesse momento, ver todo o grupo pessoalmente e imaginar que tipo de impressão que eu deixaria, me causava borboletas no estômago. Coloquei um vestido preto, bem básico, meu tênis e uma bolsa pequena. Recebi uma mensagem, depois de meia hora, era a Cleo. Ela estava me esperando no estacionamento, então fui em direção a saída do hotel bem rapidamente. No meio dos corredores do hotel, encontrei um menino brincando com um caminhãozinho vermelho. Imediatamente o reconheci, era o Alfie. O menino me olhou desconfiado, mas sorriu. Eu quis me aproximar dele, porém, ele correu para um outro corredor e sumiu de vista. Não fiquei chateada, pois com certeza eu teria outras oportunidades para falar com ele.

Sai do hotel e vi um carro popular estacionado na entrada. Reconheci na hora a Cleo, até porque ela estava vestida com o mesmo casaco de sempre, o vermelho. Fui em direção a ela, a mesma me olhou surpresa e depois sorriu:

- Não me diga que você é a S/N!

- Não fala em voz alta, se não vão querer o meu autógrafo. - Brinquei.

- Você é tão baixinha. - Cleo sorriu e me abraçou.

- E você é alta demais. - Ri.

- Nem acredito que finalmente você está aqui, S/N. Lamento que seja em uma circunstância difícil. - O semblante da Cleo mudou.

- Tudo bem, é bom finalmente estar aqui.

- Já que vamos passar por mais um momento difícil, temos uma última missão antes de ir ao salão da igreja - Disse Cleo, enquanto entrava no carro.

- Qual é a missão dessa vez, Cleo?

- Eu estou bancando a motorista do grupo, vou pegar o último passageiro. Daniel Anderson. Entra ai, a missão vai começar.

- Essa eu quero ver - Me empolguei e entrei no carro, no banco da frente. Cleo começou a dirigir e eu puxei assunto - Como está o Thomas, a Hannah e a Lilly?

- Estão como você pode imaginar, abalados. A Lilly está cuidando da Hannah, junto com os seus pais. E o Thomas vai visitar a Hannah frequentemente - Passamos em frente ao Cisne Negro e já percebi pela faxada que era realmente um restaurante muito chique - A Hannah está com sérios problemas psiquiátricos, está tomando remédios fortes e vive dopada.

- Eu sinto muito. Vocês devem estar muito abalados por ela, não deve ser fácil cuidar dela.

- É. Mas estamos aliviados por ela estar viva e do nosso lado. Estamos tentando apoia-la em tudo, porém o seu estado requer paciência e muito cuidado.

- Imagino. - Fiquei olhando pela janela do carro e prestei atenção em cada paisagem da cidade. Peguei o meu celular e gravei um vídeo curto da paisagem e mandei para o Jake. Ele não me respondeu, mas tudo bem.

- Você tem falado com o Jake? - Cleo me olhou de canto.

- Bom, você o conhece bem. - Coloquei o celular de volta na bolsa.

- Ah, sim. Ele vai aparecer um dia?

- Espero que sim, Cleo. - Sorri ao pensar nessa possibilidade.

Entramos em uma rua residencial e avistamos o Dan, sentado em seu veículo turbinado de duas rodas. Cleo encostou o carro na guia da calçada, eu abaixei o vidro e disse:

- Ei, moço! Foi daqui que pediram um transporte especial para cadeirantes?

- S/N? - Dan arregalou os olhos.

- E ai, Jack Daniel's! - Sorri.

- É você mesma? Porra! Quem imaginaria? - Dan sorriu.

- Dan, que boca suja! - Cleo o repreendeu e desceu do carro.

- Você veio até esse fim de mundo por mim? - Disse ele com um tom debochado e bem humorado.

- Até parece, vai sonhando, Dan. - Brinquei.

Cleo o ajudou a entrar no carro e depois colocou a cadeira de rodas dele no porta malas. Eu olhei pelo espelho do carro e perguntei a ele:

- Como você está?

- Como pode ver, manco.

- Dan, estou falando sério. - Tentei não rir nessa hora, pois estava preocupada com ele.

- Estou bem, S/N. Estou feliz por finalmente conhecer a chefe do grupo. - Dan sorriu.

- Não exagera, seu velho. - Dei risada.

- Bom, espero que vocês estejam prontos para ir no salão da igreja. - Cleo entrou no carro e deu partida.

- Espero que você tenha trazido alguma bebida num cantil, Dan. - Brinquei.

- Foi mal, estou na reabilitação.

- Você está falando sério? - Olhei para o banco de trás, onde ele estava.

- É claro que não! - Dan tirou do bolso um cantil de prata.

- S/N, não dá corda pra ele. - Cleo revirou os olhos.

- Dirige ai, Cleo. Não enche o meu saco! - Dan guardou o cantil no bolso.

Eu estava feliz, mas conforme o carro ia se aproximando da igreja, meu humor mudou completamente e um aperto no peito se fez presente.

(Continua)...

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Duskwood - Depois do AmanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora