Na dor das promessas quebradas, as palavras se perdiam no eco

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—  Pelo amor de Deus, abaixe esse som, garoto! Que coisa, Zayn. O que deu em você pra colocar ainda mais alto que de costume?

 Yasser não podia negar, estava incomodado com o volume, só que buscava resolver a situação da forma mais compreensiva possível. Não que fosse permissivo e deixasse os filhos fazerem o que quisessem em casa, mas tentava não ser um pai mandão, autoritário e mesmo invasivo como era o caso ali. 

Já havia chamado várias vezes, e obviamente não obteve resposta, percebeu que a porta estava  encostada e decidiu abrir. Mas nada poderia prepará -lo para o que veria. Seu pior pesadelo enquanto pai.

—  AI MEU DEUS DO CÉU! O QUE VOCÊ FEZ, GAROTO?- O ímpeto foi de praticamente gritar. A sensação que invadia era quase como tomar um soco no estômago. Zayn estava meio que sentado no chão, sua cabeça pendia para o lado enquanto era nítido que o menino sufocava e já parecia inconsciente. Havia tentado se matar, infelizmente.

Apesar da dor em ver a cena, a última coisa que poderia fazer era deixar o desespero tomar conta.Yasser começou a agir rápido, naquele momento, cada segundo fazia a diferença

Sem pensar muito, desligou o som, pegou o celular e discou o número da emergência, deixando o aparelho ali no chão, no viva voz. 

Ainda que fosse formado em odonto, o conhecimento básico que tinha de urgência e emergência permitiu que tomasse medidas  enquanto explicava a situação.

Rapidamente tirou o cinto da cabeceira, deitou Zayn no chão, de forma que abrisse as vias aéreas. Apesar da complexidade, ainda tinha pulso e estava respirando.

Tentava "ignorar" o quadro geral do menino, sua pele já fria e pálida, lábios arroxeados e claro, o hematoma enorme no pescoço. O que importava era que tinha agido rápido o suficiente, porém não sabia que o pior estava por vir.

—  Estamos a caminho. Mas continue checando e nos informe, por favor.

Ao fazer o que o cara do outro lado pediu, Yasser teve a pior constatação.

— Ele...Ele tá sem pulso. - A sua voz sumia, tamanha pressão.

— Vou precisar que inicie a RCP. Consegue fazer isso?

— Sim.

Não tinha outra escolha a não ser iniciar as compressões. E, instantes depois, obteve o resultado necessário.

Nesse meio tempo, era perceptível o som das sirenes.

— Okay. A gente assume daqui, certo?- Um dos socorristas diz ao se aproximar.

O tempo passava num borrão, ele apenas via aquilo acontecer e mais que nunca rezava para que acabasse bem. Era de longe o momento mais traumático da sua vida.

Se permitiu reparar de maneira automática o que faziam, aqueles procedimentos invasivos, ainda que necessários. Nenhum pai deveria ter que presenciar isso.

A equipe agia com toda rapidez 

possível, preparando os materiais para intubação e colocavam Zayn na prancha e iam rumo a ambulância.

Com isso, Yasser apenas os seguiu, mal raciocinando. Desceu, trancou a casa e foi onde estavam.

Instantes depois, já a caminho do hospital, fixava seus olhos no monitor de batimentos cardíacos, o que, de uma forma ou de outra, indicava que Zayn ainda estava ali.

Yasser permitiu as lágrimas enquanto pedia a Deus que o seu garoto ficasse bem e se questionava o que mais viria? O que mais teriam que lidar?

— A boa notícia incontestável é que voce salvou a vida dele. Em situações como esta, cada segundo conta, e se você não tivesse chegado à tempo, talvez não teríamos conseguido.

Em cada cicatriz,uma história.Em cada história,uma canção Onde histórias criam vida. Descubra agora