Capítulo 2 - Estranho Caminho

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Meu pensamento foi assaltado por vibrações violentas vindas do seio da Terra. Senti como se um poderoso aparelho detonador me atingisse as fibras mais íntimas e me precipitasse em sintonia com a morte. Não era medo o que eu sentia mas era uma sensação quase que de terror. Forças desconhecidas agiam no meu subconsciente e me atraiam para perigoso abismo. A princípio pensei que me desintegraria mas a seguir compreendi que a explosão se dera dentro de mim mesmo. As células de meu organismo espiritual entravam em vertiginoso movimento como se uma verdadeira explosão atômica se realizara no meu interior. Tinha a impressão de que tudo girava dentro de mim. As células haviam se precipitado numa corrida louca de libertação. Centenas, milhares, milhões, em corrida vertiginosa. Minha mente tudo observava como que assombrada com o império de células que se desmoronava. Embora tudo aquilo fosse eu mesmo compreendia a insignificância que somos no emaranhado das leis que nos governam. Imensa era a minha ignorância e grandiosa e infinita a sabedoria de Deus! O cosmo interior da minha individualidade se mantinha como um firmamento cheio de estrelas e planetas. Os astros em meio ao conglomerado de células dispersadas marchavam no vórtice acelerado. Não perdi a consciência, contudo senti que girava em mim mesmo e que minha consciência estava aparentemente desgovernada. Meu ser crescia, crescia sempre como se eu me tomara de repente enorme boneco de borracha porosa que se dilatasse indefinidamente. Quiz gritar algumas vezes mas a voz morria-me na garganta como se sufocada por mão de ferro. Acovardei-me e entreguei-me à vontade de Deus. No alto brilharam as estrelas e aí tive a impressão de que caminhava ao encontro dos astros. Mergulhei no Armamento e subi, subi sempre. Lá embaixo começou a ficar a Terra, perdida no oceano do universo. Não sabia a que alturas haveria de atingir mas via o mundo fugir de mim como a criança que contempla a sua bolinha de vidro perder-se nas águas do mar.

 2 - Orcus 

De repente, senti que não estava sozinho. A meu lado estava Orcus que me contemplava afetuosamente. Olhei-o com atenção e verifiquei que era uma criatura formidável. Longos cabelos brancos, ligeiramente enrolados como se fossem cordas desciam-lhe pelos ombros. Rosto enorme, redondo "aquadradado" sobre um pescoço taurino e peito descomunal. A túnica aberta ao peito dava-lhe ao conjunto a expressão de um dos antigos profetas, talvez Isaías ou Pedro, o apóstolo. O céu repleto de estrelas parecia conter-nos apenas a nós dois estabilizados no espaço por uma força que equilibrava a lei de gravidade. Após o delírio vertiginoso das células em debandada meu ser começou a serenar-se e eu me senti como se fosse uma criatura de dimensões despropositadas, imensas. Eu estava "caído dentro de mim mesmo". Orcus contemplava-me com amor e de seus olhos começaram a partir em minha direção partículas ou centelhas de luz que vinham me atingir o ser. Recebi-as a princípio no coração e fui tomado de uma sensação de conforto retemperado por energias novas. Em seguida estendeu-me o Espírito a destra cintilante e ondas esquisitas se desprenderam dela vindo atingir-me a casa mental. Aos poucos sob este novo influxo, principiei a diminuir-me lentamente e a voltar ao que poderia chamar de "estado normal". Restabeleci-me interiormente sob o domínio espiritual de Orcus que me transfundia poderosas forças emitidas de seu poderoso organismo. Como um enfermo que se levanta do leito, equilibrei-me no Infinito. Na distância imensurável giravam os mundos em turbilhão. Olhei a Terra: ainda estava lá em baixo, perdida na vastidão do universo.

 — Onde estamos, Orcus? — interroguei. 

— Entre as esferas do sistema solar, porém a uma distância de 325.000 km da Terra — respondeu Orcus.

 — Estamos aqui na realidade ou é apenas uma impressão que temos desse deslocamento?

 — Não, não é impressão. Estamos aqui mesmo. Fomos deslocados ao impulso da força mental, que nos arrastou o organismo em direção ao infinito. Você, meu filho, sofreu um processo de liberação parcial das células perispirituais afim de adquirir "leveza" para a viagem. Eu como já estou habituado ao "clima de mais alto" não tive necessidade de passar por esse sofrimento. Tornei a contemplar o Infinito e meu olhar inabituado ao panorama prodigioso de milhões e milhões de astros em carreira alucinante parecia submetido ininterruptamente a detonações interiores que iriam explodir o globo ocular. Tive a ideia que as pupilas estavam sendo dilatadas ao contato das imagens novas do infinito portadoras de teor vibratório diferente da vibração terrestre. E assim, por longo tempo, me embebi na contemplação do Universo.

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