Capítulo 13

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- Indicações sobre o Poder Mental

Seres estranhos e sinistros passavam por nós em todas as direções, todavia o olhar parecia-lhes distante e perdido. 

— São inconscientes? — perguntei. — Na realidade são, esclareceu Orcus. 

— O pensa mento deles conquanto exista, permanece longe ou em botado. Vivem uma vida de peixes ou de seres aquáticos. Não se lembram, muitas vezes, da esfera de cima e supõem que são capazes de articular uma vida diferente em condições superiores. Perderam a noção de valor ou de forma humana. E têm sensações e desejos? — continuei interrogando. 

— Às vezes essas sensações se intensificam naquilo que poderíamos chamar a base-infra-física. À proporção que o ser cai as sensações e desejos concentram-se cada vez mais em seus órgãos de manifestações primárias, e, de maneira excepcional, sexuais. A natureza em toda a parte do Universo exige o seu quinhão e cobra o seu tributo.

 — Mas aqui, nesta região e nestes sítios existe entendimento sexual entre estas criaturas? — exclamei espantado. 

— Talvez não como o entendem os homens, mas existe. A manifestação do sexo é um dos maiores poderes da mente em todo o Universo. A mente em estágio inferior de conhecimento, progresso e vibração expressa-se sexualmente através de órgãos de sensação e reprodução das formas em plano inferior. A mente em estágio de conhecimento, progresso e vibração superior expressa-se sexualmente através de transferência de ali mento masculino ou feminino que em última instância significa troca de valores evolutivos. Não recebe a flor o pólen de outra flor que se situa à distância? E o que é isso em última análise senão manifestação sexual no campo da botânica? Fitei Orcus assombrado. Nunca ouvira semelhantes explicações e, naquele local, tornava-se ainda mais fantástico.

 — Então esses seres que vemos, deformados, escravizados, mutilados, ainda assim se amam e reproduzem? 

— De certa forma, sim. Amar e reproduzir-se é lei de Deus. Através das formas infinitamente diferentes expressa-se a evolução do princípio espiritual em marcha para o Supremo Bem. A escada que conduz aos Cimos espirituais tem sua base nas formas inferiores da vida. Deus está em tudo. A cada um segundo as suas obras, como ensina a Palavra Divina. Da sombra para a luz, e do inferior para o superior, exprimem o princípio da Lei. O que pensam os homens a respeito da Verdade não altera a própria Verdade. Aqui em baixo, como lá no Alto, Deus legisla com o mesmo amor e carinho. Ninguém é órfão da Providência Divina. O ódio é apenas o afastamento da Lei. A desordem somente indica a existência da ordem e o mal é temporariamente a ausência do bem. Estacionar e progredir são estágios de um mesmo movimento. Orcus calou-se e eu fiquei extático contemplando a gelatina verde que continha em si milhões de vidas que representavam a existência de Deus em toda a parte. Orcus sorriu percebendo-me os pensamentos através da tela mental e acrescentou: — Não se iluda, meu amigo, o anjo e o demônio são irmãos... A ameba e as Potências Celestiais mais elevadas detêm em si os princípios da mesma vida universal eterna e gloriosa. Fomos, porém, surpreendidos pela chegada de um estranho polvo de mil braços e olhar fosforescente. Aterrorizei-me. Atafon, no entanto, estendeu a destra da qual partiram fagulhas azulíneas de intensa vibratibilidade. O animal estacou e flutuou à nossa frente. Era, na realidade, um monstro. Antes que me refizesse da surpresa fui tomado por uma surpresa maior. Com voz gutural e horrenda, falou ele dirigindo-se a Atafon: — Não respeitas os teus irmãos? Onde está a tua superioridade, anjo do abismo? — Aqui não se trata de respeitar irmãos, — respondeu Atafon — e sim de autodefesa. Sabes muito bem qual a tua intenção! A Lei não nos obriga a sucumbir! Viajo com finalidades educativas em companhia de amigos, conheces minhas funções de fiscal da Lei, porque me atacas? As palavras decisivas de Atafon pareceram deter o monstro porque permaneceu extático. Antes que dissesse algo, Atafon arrastou-se lago a dentro deixando-o ali parado. A gelatina cobria a imensidade. Sentíamo-nos ansiosos por sair dali. O Grande Espírito percebeu-me a luta íntima porque exclamou:— Sairemos já destas regiões. Espíritos menos compreensivos começaram a infestar este lago! De fato, notei que as "águas gelatinosas" movimentavam estranhamente e julguei vislumbrar seres desconhecidos, de tamanho descomunal, que nadavam em nossa direção. 

O AbismoOnde histórias criam vida. Descubra agora