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Por sorte quando voltou do almoço na cantina, o pastor Kai não estava mais ali por perto, sentiu um alívio e então se lembrou que ele poderia ter descontado a raiva toda em cima de Jennie, se isso tivesse acontecido Lisa não se perdoaria.

Quando começou a discussão, não pensou nas consequências que isso poderiam ter, só quiz estravassar a raiva e ficar em paz.

Caminhou devagar em frente a calçada da casa deles, mas não ouvia nada, nem gritos, coisas quebrando ou choro, sinais de que não havia acontecido uma briga.

Ainda não se sentia 100% calma, foi até o muro que dividia as duas casas, encostou a orelha ali e tudo também estava silêncioso.

Concerteza essa sensação era tudo paranóia da sua cabeça.

Ainda tinha a tarde pela frente e estava sem vontade de trabalhar, precisava de pelo menos um dia sem mecher com fotos, era o seu descanso, mas não conseguia ficar parada vendo TV, então resolveu dar uma geral na casa, não que a casa estivesse suja e dasarrumada, mas ao menos isso faria o tempo passar mais rápido.

Quando acabou de limpar a casa já era fim de tarde, o sol se punha no horizonte deixando o céu com aquela coloração meio alaranjada, meio rosa. Achava o por do sol lindo, mas aos domingos, não sabia bem por que isso lhe causava uma enorme melancolia.

Fechou a porta e foi tomar mais um banho, Lisa era viciada em banhos, mesmo em dias frios como estava sendo últimamente.

Foi até o escritório e procurou algo pra ler, tinha muita coisa ali que ela não havia lido, poderia passar o tempo lendo. Viu O retrato de Dorian Gray e lembrou que Jennie queria muito ler esse livro, já tinha dado uma cópia da chave de casa pra ela poder entrar e ler sem medo do marido descobrir, se levasse o livro e ele achasse, nunca ia acabar de ler.

Resolveu ler O orfanato da senhorita pereguine para crianças peculiares, já fazia bastante tempo que queria começar esse livro, mas vivia adiando.

Fez um pouco de pipoca, sentou no sofá e começou a ler, não chegou nem ao final do primeiro capítulo, quando a voz do pastor se fez ouvir ribombante pela casa toda. Tinha esquecido do culto de domingo a noite.

A primeira coisa que sentiu foi raiva, por lembrar da discussão, mas pela sua mente passou a voz do outra dia, aquela voz que tanta calma e paz lhe havia trazido. Aguentaria o pastor esbravejando só pra poder no final do culto ouvir a música.

Tentou voltar a ler e se concentrar no livro, mas não tinha como, tanto pela raiva do pastor, como pela ansiedade de ouvir mais uma vez a garota que cantava.

O tempo foi passando e nada da música, já estava achando que hoje não teria a sorte de ouvir. Foi nesse momento que ela começou, não era a mesma música, mas reconhecia o som do teclado.

Aquela voz tomou conta da sua mente, era como se entrasse no seu cérebro e fosse mandado para longe toda lembrança ruim, todos os problemas, era quase como entrar em transe.

Não aguentou a curiosidade dessa vez, saiu e foi até a frente da igreja, queria ver demais o rosto da garota que cantava, precisava ver.

Discretamente chegou até uma das janelas da frente e espiou, não viu muita coisa, só a cabeça de quem tocava o teclado, como estava sentada, não dava para ver o rosto.

Fechou os olhos e aproveitou ainda mais a música, agora que estava tão perto todo o seu corpo parecia invadido pelo som.

A vida me pregou mais uma peça,
Por essa não pude esperar,
Tudo que eu sonhei desmoronou,
A tempo que vivo em cavernas,
E ninguém nunca notou,
Sorrisos que se foram com a dor.
Mas não vou morrer aqui,
Deus me prometeu assim,
Vou clamar até que o céu,
Se abra sobre mim.

Então a música parou, Lisa espiou mais uma vez pela janela e não acreditou no que seus olhos viam. Ali em pé, em frente ao teclado estava Jennie, não a Jennie que Lisa conhecia, mas uma completamente diferente, sem aquele olhar assustado, sem medo, mas sim uma Jennie radiante, quase atérea, ela olhava para o céu como se estivesse em êxtase.

Lisa não conseguia tirar os olhos dela, estava de tal forma hipnotizada por Jennie que nem se deu conta que logo o culto iria acabar, só saiu do transe quando o pastor Kai voltou a falar.

Correu para casa, tomou um pouco de água para se recompor da surpresa.

A noite quando sonhou com a voz, ao menos ela tinha um rosto e era Jennie.

A mulher do pastor <{jenlisa)>Onde histórias criam vida. Descubra agora