A mulher do pastor <{jenlisa)>

Jennie

Quando Lisa encontrou com ela na praça, estava totalmente confusa, o frio parecia que tinha congelado todos os seus pensamentos fazendo com que duvidasse das coisas que via, pensou naquela hora que a outra fosse só uma imagem causada pelo desejo que sentia em vê-lá, só acreditou que era mesmo real quando sentiu o casaco ainda quente e com o perfume de Lisa tocar em seu corpo gelado.

Mas ela estava mesmo lá, insistindo para tirar Jennie daquele lugar, se preocupando, não lembrava das palavras exatas, mas conseguia lembrar quando a outra disse que ficaria ali no frio com ela se não fosse para outro lugar. Já havia feito mal a Lisa quando a magoou, não podia fazer mal fisicamente também, então aceitou ir para casa dela.

O tempo parecia tão congelado quando ela, e seu pensamento cada vez mais lento, subiu na moto. Ao menos isso se lembrava, e depois só tinha lembranças de estar na cama, coberta e tomando alguma coisa quente com gosto de água de feijão, só que isso tudo não foi o suficiente para que se aquecesse e parasse de tremer, com um choque (bom) sentiu quando Lisa deitou na cama e abraçou, sentiu o corpo dela junto ao seu, as mãos fazendo carinho em seu braço, o calor dela passando pra si, então tudo, não só o frio ou sua mente, mas todo o seu mundo pareceu entrar em ordem, pareceu fazer sentido.

Deixou se levar por essa sensação boa, o sono queria assumir o controle, mas ela não pretendia dormir, queria sentir o máximo possível o prazer de ter Lisa tão próxima, sentir que a outra não odiava.

No momento em que Lisa estava saindo cuidadosamente da cama, Jennie sabia que não podia deixar ela sair assim, precisava dizer tudo que realmente vinha sentindo. Pegou a mão dela e a reteve ali.

__ Por favor, fica aqui comigo Lisa.

Não conseguia ver o rosto dela, só uma pequena claridade vindo da luz do corredor que iluminava o quarto naquela hora, mas mesmo assim imaginou distinguir um pouco de surpresa no rosto de Lisa quando disse aquilo.

__ Pensei que você já estivesse dormindo.

__ Não, pode ficar aqui mais um pouco, pode deitar que outra vez?

__ O frio não passou? ainda se sente mal?

__ Estou melhor, só quero conversar com você.

__ Jennie, o que você precisa agora é descansar, posso falar com você amanhã.

__ Eu preciso falar agora, sinto como se fosse explodir em mil pedacinho se eu não falar.

__ Tudo bem então.

Lisa volta a se deitar na cama e acende um abajur com uma luz azul bem fraquinha, aquilo dava o quarto tudo uma sensação de irrealidade. Será que estava mesmo acontecendo ou ela só sonhava? Já não se importava, iria dizer tudo que sentia. As duas ficaram se olhando frente a frente, quando Jennie começou a dizer.

__ Queria muito falar com você sobre o que aconteceu ontem, como a forma que te tratei, não foi justo.

__ Não precisa dizer nada, a culpa foi minha, eu passei dos limites.

A outra tinha dito aquilo de forma tão sentida,como se o arrependimento rasgasse a sua alma, Jennie não resistiu e passou a mão pelo rosto dela, fazendo um carinho, Lisa fechou os olhos.

__ Você não tem que fazer isso, Jennie. Não me deva nada porque te ajudei, não tem que forçar esse carinho.

__ Não entende? Não estou forçando, é justamente o contrário, tenho que usar toda minha força de vontade para não fazer isso, para não te abraçar, é isso que eu precisava te dizer. Cada célula do meu corpo que é você.

__ Então porque disse que esse dia nojo de mim?

__ Porque eu não sabia o que fazer, aquilo me desnorteou, eu sou casada e desejar você dessa forma é contra tudo o que eu acho certo. Naquela hora eu tinha que te afastar antes que toda minha força de vontade cedesse de vez.

__ Não sente nojo de mim então?

__ Não sinto, mas também não posso te desejar desse jeito. A alguns anos atrás quando eu ainda estava no colégio, conheci uma garota, tinha acabado de mudar para e quem ama a minha classe, acabamos amigas, mas com o tempo as coisas mudaram, um dia ela me deu um beijo e eu gostei, apesar de saber que era errado e depois fomos ficando, um dia quando estava com ela no banheiro, achando que não havia perigo, ela me beijou, essa hora uma garota da minha igreja entrou e viu. Foi burrice minha imaginar que ela não contaria ninguém.

Parou para respirar um pouco e conter as lágrimas que estava começando a juntar nos olhos, era doloroso lembrar disso. Então com um suspiro começou a contar tudo para Lisa que se mantinha em silêncio.

__ No dia seguinte meu pai não me deixou ir à escola, me confrontou com a história, num rompante de coragem eu disse que era tudo verdade, quis assumir aquele sentimento de uma vez, a menina disse que me amava e que nunca me abandonaria. Meu pai me bateu muito e me trancou no quarto, então fiz a coisa mais idiota do mundo, pulei a janela do quarto e fui atrás dela. Quando eu cheguei na casa dela e contei o que aconteceu, eu esperava que ela me apoiasse, que me ajudasse ou que ao menos me desse abrigo, mas ela disse simplesmente que não podia fazer nada e que era melhor a gente não se falar mais. Fiquei ali sozinha parada, em frente à casa dela, perdida, me sentindo traída e arrasada, então engoli meu orgulho e voltei para casa. Alguns dias depois meu pai apresenta Kai e disse que eu teria que me casar com ele, só assim eu estaria curada disso tudo, dessa abominação, como os dois costumam dizer. Apesar de ser infeliz no meu
casamento, eu achei que estava curada, até conhecer você.

Nesse momento Lisa interrompe Jennie.

__ Jennie, você nunca se curou por que isso não é uma doença, cada um é como é: abominação é como essas pessoas te tratam.

__ Eu não sei mais o que pensar, você virou meu mundo de pernas pro ar, eu te amo e te odeio por isso. Não faz sentido né?

__Faz sim Jennie, faz muito sentido, eu tambem te amo e te odeio pelo que me faz sentir.

Lisa chega mais perto de Jennie, dá um beijo terno na testa dela e a abraça.

__ Agora você precisa dormir, posso ficar com você?

__ Deve, desculpa te incomodar tanto, pode me acordar às 5:00? tenho que ir para casa.

__ Eu acordo, agora descansa.