Capítulo 35

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Acordo com o sol batendo em meu rosto e ao me virar me deparo com Erik, dormindo tão tranquilamente, Jasmine com certeza deve estar querendo me matar, mas a verdade é que eu não conseguia ficar naquela festa, não depois de descobrir que meu pai, meus irmãos e minha cunhada estão doentes.

Levanto-me sem fazer muito barulho e calço minhas pantufas, vou então em direção ao quarto de Jasmine, pelos corredores ocultos do palácio, não estou afim de ser vista nesse estado por algum soldado ou criado, quando chego em meu quarto ouço um barulho vindo do quarto de minha mãe e me dirijo até lá, onde a porta entreaberta me permite ouvir o que estão dizendo.

— Ele não pode ter ido assim — ouço minha mãe dizer entre os soluços.

— Calma mãe, tenho certeza de que ele não iria querer que a senhora chorasse, que nenhum de nós chorasse.

— Eu sei meu filho, mas...

— Sim mãe, eu sei, em um dia ele pegou a gripe e no mesmo faleceu, mas olha para mim — Kayque e minha mãe fazem silêncio, por alguns minutos — eu estou aqui está bem, todos nós, seus filhos estamos com a senhora e não vamos te abandonar, papai pode ter ido para um lugar melhor, mas tem um pouquinho dele em cada um de nós.

Coloco minha mão na boca, querendo evitar um grito, meu pai, não, por favor não. Vou andando para trás e ao encostar na parede eu desabo, chorando, sem saber o que fazer, não consigo nem me mexer direito, minha mente, um turbilhão de pensamentos e de memórias.

— Clara, o que faz aqui?

Levanto minha cabeça vendo tio Vini me olhando, mas eu não consigo dizer nada não sai nada, olho então para a porta do quarto de meus pais, onde minha mãe ainda chora, quero levantar, quero abraçar ela, dizer que vai ficar tudo bem, mas a verdade é que não está nada bem. Tio Vinicius se senta então no chão me abraçando e deixando que eu chore em seu uniforme.

***

A tarde foi muito estranha, começou a chover e o tempo não abria, por conta da gripe todos estamos proibidos de sair do quarto, mas me informaram que uma vacina foi criada em Carolina e que já está sendo distribuída gratuitamente para a população, graças ao meu irmão Kayque, em meu quarto, de pijama o que sei fazer é chorar, acredito que já estou desidratada, de tanto que chorei, minhas criadas até perguntaram se eu queria algo, mas o que eu quero elas não podem me trazer.

— Clara — ouço alguém dizer e sei quem é.

— Desculpa, eu não tive coragem de voltar para a festa, deveria ao menos ter te avisado.

— Tudo bem — a ouço mais perto de mim, sinto ela deitar na cama e me viro, vendo seus olhos vermelhos — fiquei sabendo que a vacina já chegou no palácio, estão distribuindo a todos.

— Espero que ajude nossos irmãos e nossa cunhada.

— Eu também.

Ela chega mais perto de mim, fechando os olhos, vejo então uma lagrima descer por seus olhos.

— Jas?

— Sim?

— Promete que nunca vai me abandonar?

Ela abre os olhos e me dá um sorriso triste, estende então seu dedo mindinho e eu entrelaço o meu.

— Nunca, jamais irei te abandonar, por mais longe que possamos estar uma da outra você sempre será minha melhor amiga.

Dou um sorriso e beijo seu mindinho, ela faz o mesmo, ouvimos então alguém bater na porta e ela se levanta para abrir. Dando passagem para uma enfermeira.

— Altezas, vim lhes trazer a vacina, podemos?

Eu concordo em silêncio, meu pai voltaria dos mortos se eu não tomasse essa vacina. Quando a enfermeira termina e sai, me sinto estranha, mas penso que todas as vacinas me deixam estranha.

— Eu vou ir tomar um banho, já está quase na hora do jantar.

Jas se levanta e vai até à porta. Parando e me olhando com carinho, aquele que sentimos uma pela outra, o amor e a ligação de gêmeas nos deixa emotivas às vezes.

— Eu te amo Jasmine — digo sorrindo fraco.

— Eu te amo Clara — ela diz e se retira.

No jantar, todos estavam quietos, incluindo nossos convidados, que nem deveriam estar ali, não sei nem porque nós estamos jantando juntos, a gripe não foi erradicada ainda.

— Eu sei que tivemos uma grande perda — Kayque diz e eu olho para meu irmão, nem percebi que ele pediu para ser ouvido — eu e meus irmãos perdemos nosso pai, minha mãe, o amor de sua vida, nosso povo, o seu rei, por isso eu peço que rezem para que não tenhamos mais perdas e que essa gripe seja erradicada de nosso país, pois Iléa perdeu um grande rei, pai, amigo e protetor, um brinde ao rei Maxon e que ele esteja olhando por nós e por nosso povo — ele ergue a taça e todos erguemos as nossas.

Todos voltam a comer em silêncio, mas eu não sei se consigo engolir algo, sinto como se meu estômago estivesse cheio, sendo que não engoli nada do prato, e nem quero. Me levanto pedindo licença e saindo dali, não consigo ficar ao lado de todos, mas logo ouço saltos correndo atrás de mim.

— Jas eu quero ficar sozinha.

— Eu sei, mas não vou deixar, vou dormir com você hoje — não digo nada apenas continuo subindo as escadas — Clara para! — Não paro — Clara quer me esperar. Eu sei que você está sofrendo todos nós estamos, ele era meu pai também sabia.

— Jasmine me diga a última vez que você nem sequer leu um livro com ele depois que ele concordou com Kayque em te mandar para o internato — digo me virando e ela fica quieta — vamos, me diga um único dia em que você sentou com ele no escritório enquanto ele trabalhava e apenas conversou com ele, eu te amo Jas, mas não venha me dizer que sua dor é igual ou talvez maior que a minha, pois não é.

Volto a subir as escadas e ela demora um pouco para continuar até que entra na minha frente me impedindo de continuar.

— Não se faça de coitada Clara, você sempre faz isso, se coloca acima dos outros, mas isso não é certo, não é porque eu não falava direito com ele que eu não estou sofrendo, ele era meu pai também, se não fosse ele eu não seria quem sou hoje, então para com isso, pois você não é melhor que ninguém para dizer que não estou sofrendo tanto quanto qualquer um nesse palácio.

Com as palavras dela sinto as lágrimas rolarem por meu rosto novamente, ela tem razão, não posso me sentir superior apenas porque era mais ligada a ele que ela, pois não sou. Sento-me em um dos degraus da escada e começo a chorar mais forte, mas sei que preciso conversar com ela.

— Me desculpa Jas, eu só não... Eu não deveria estar me sentindo superior a você, me desculpa, eu só não consigo aceitar que ele se foi.

Ela não diz nada, apenas senta ao meu lado e me abraçando chora comigo, logo nossos irmãos, tirando os mais novos, estão ao nosso lado, nos confortando, pois eles sabem o que era ser a princesa do papai, afinal até Liana nascer éramos só nós duas de meninas, e agora, agora não temos mais o pai para dar bronca, para colocar de castigo, para fazer rir e chorar, agora somos apenas nós e nossa mãe.

Rainhas de IlléaOnde histórias criam vida. Descubra agora