A Faca

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ANGELIQUE

A semana foi conturbada demais! Enxurradas de pedidos, exigências, prazos. Perdi as contas de quantas horas fiquei em um café próximo ao meu trabalho até que fechasse e me colocassem para fora. Envergonhada, pedia desculpas e voltava a repetir tudo no dia seguinte!
A sexta-feira logo chegou e eu tinha que ir ao show no Galpão I-45, fora da cidade. Confesso que não gostava muito de sair da cidade de noite, ainda mais para shows, pois tínhamos que trafegar por uma rodovia que, ao me ver, não era iluminada como deveria. Vícios da profissão, querendo mudar tudo! Porém, eu tinha que prestigiar os rapazes da banda.
Como todos iriam beber após o evento, os rapazes alugaram uma van para poder caber todo mundo e os instrumentos musicais.
A van nos deixaria na porta do local e depois voltaria para nos buscar, assim, não iríamos correr o risco de o motorista se animar no show e acabar bebendo também.
O horário para nos encontrarmos era às 19h, pois daria tempo de chegarmos no galpão e todos os equipamentos serem montados, além de um breve teste de som e etc. O show estava previsto para começar às 21h.
Vesti um vestido preto de alcinha, cujo comprimento ia até cinco dedos acima do joelho, uma meia 7/8 preta e não exagerar na maquiagem.
Perto das 19h fui para o studio e o pessoal já estava lá. Todos os músicos me olharam de cima a baixo, elogiando. Alex foi o que mais me elogiou, e em particular, em meus ouvidos.
Notei que o Brian não havia chegado e o meu coração apertou um pouco.
-E o Buckethead? - perguntou Jape.
-Disse que iria para lá mais cedo. - Respondeu Thomas.
Na parte da frente da van estavam os rapazes conversando e na parte de trás estávamos nós, as namoradas/diversões dos músicos. Por sorte, muita sorte, Stela não estava a fim de conversar e ficou calada o caminho inteiro e supus ter acontecido algo de ruim a ela. Também permaneci em silêncio, pois não conhecia muito bem as moças que estavam ali.
Jape guiava o motorista e os rapazes conversavam animadamente, enquanto seguíamos para o galpão.
Em meia hora chegamos em segurança e os rapazes descarregaram a van. Haviam fãs na porta do local, ansiosos pelo evento e ouvíamos gritos e assobios.
Na parte de dentro do galpão, havia um enorme palco montado, cheio de luzes e caixas de som.
Próximo ao portão de entrada, haviam vários foodtrucks. O espaço também contava com uma área só para motos.
As paredes eram pintadas com tinta spray e possuíam desenhos old school. Sem dúvida, era um local apropriado para um show de rock.
Havia uma parte reservada, com regalias e uma vista privilegiada para o palco.
No primeiro andar do galpão, uma imensa ala VIP, com sofás de couro e uma vista privilegiada para o palco.
Quando todos entraram, Brian estava próximo do palco, afinando sua guitarra e plugando todos os cabos. Os rapazes assobiaram, bateram palmas e ele apenas olhou em nossa direção e continuou o que estava fazendo.
Buckethead vestia uma camisa azul marinho de mangas compridas e uma calça preta. Usava um balde branco na cabeça, sem nada escrito e a máscara de costume. Os cachos castanhos emolduravam seu visual exótico e fiquei observando a forma como ele arrumava todos os seus instrumentos.
Observei as portas abrindo e ao passarem por uma breve revista pela equipe de brigada, os fãs foram enlouquecidos em direção ao palco. Gritos e assobios ecoaram por todo o ambiente.
A banda se posicionou no palco com seus estrondosos instrumentos e um globo espelhado desceu do teto. O design dele era interessante: possuía os ladrilhos espelhados e também espinhos.
Antes que o show começasse, Alex sussurrou em meu ouvido que no final eu seria dele e todas as coisas que iria fazer comigo...
Os fãs foram à loucura após o primeiro riff da guitarra.
Quatro músicas se passaram e Brian entrou em cena, arrasando com sua guitarra em um som bastante claro de "Siege Engine". Ele tinha aquela especialidade de criar efeitos com rapidez e os fãs ficavam hipnotizados. Percebi que alguns até estavam com baldes na cabeça!
Em algumas músicas, ele se aproximou um pouco do público para deixar que tocassem em sua guitarra, enquanto ele a segurava pelo braço.
Próximo ao final do show, Brian largou a guitarra e começou sua dança robótica. Meus olhos se prenderem nele, pois os movimentos que fazia pareciam de uma máquina!
Achei tão fascinante a dança e o jogo de luzes que também gritei de onde estava. Comecei a me sentir dentro de uma suposta rave de "O Exterminador do Futuro 3: A rebelião das máquinas". Gritei, sorri, acenei, fiz tudo o que tinha direito como fã.
Após o final do show da banda deles, quando todos já estavam retornando, nós da ala VIP começamos a aplaudir e os rapazes já entraram rindo.
Brian permaneceu no palco com seu talento em manusear nunchakus, mas logo retornou para onde estávamos. Alex me cumprimentou com um beijo e logo foi atrás de bebidas para comemorar, enquanto uma outra banda entrou no palco para se apresentar.
Aproximei-me do Brian para elogiar sua performance e dizer que eu havia gostado da sua faceta de robô.
-Obrigado. - ele disse, sereno como sempre.
Continuei rindo e perguntei:
-Você não sente um frio na barriga?
-Geralmente sim.
Eu não percebi naquele momento, mas enquanto conversávamos, Stela, como sempre, fofocava com as outras mulheres.
-Olha ali. O esquisito. – Ela dizia com desdém.
As outras moças comentavam outras coisas e então ela soltou:
-Aposto que ele está apaixonado por essa daí, namorada do Alex.
Todas olharam em nossa direção e quando senti vários olhos pregados em mim, pigarreei e perguntei para o Brian:
-Bem, eu vou procurar umas batatas com queijo ali. - apontei para a entrada do galpão. - Você quer também?
-Agora não. - Ele respondeu, tirando a correia da guitarra do corpo.
Desci as escadas do camarote e o segurança afastou a corrente para eu passar.
Havia tanta gente no show que foi até difícil de chegar no foodtruck. Passei por aquela multidão pedindo licença e abrindo caminho, já imaginando minhas batatas com queijo caindo no chão. Certamente, eu não iria poder voltar com elas ao camarote.
Quando estava quase chegando, um cara me puxou pelo braço com força e eu pensei ser alguém conhecido. Mas não era!
-Quem é você!? Solte-me! - eu gritei. Mas o som estava tão alto que ninguém me ouvia.
Aquele homem foi me puxando cada vez mais para longe dos foodtrucks e eu entrei em desespero.

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