❤ CAPÍTULO 24 ❤

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— Não podemos ter essa conversa por ligação! — foi a última coisa que Nicolas disse antes de finalizar a chamada.

Eu sabia que ele estava vindo me encontrar, então me levantei da cama e saí de fininho de casa. Adam estava adormecido, e felizmente ele tinha um sono pesado.

Já era muito tarde, mas me vi sozinha na entrada da vila, andando de um lado para o outro com pensamentos intensos e perturbadores. Não conseguia ter certeza do que diria ao Nicolas, não conseguia ter certeza do que estava sentindo, para ser sincera. Era frustrante pensar que eu mesma não estava tão disposta assim a lutar por nós dois. Talvez meu medo estivesse ligado a todos os traumas que eu ainda não conseguia lidar.

Nicolas não demorou a chegar, provavelmente o trânsito estava tranquilo por conta do horário. Tentei não me retrair quando o homem alto se apressou em me alcançar. No escuro ele parecia ainda maior e mais forte. Seu rosto não escondia a aflição e preocupação.

— Oi! — disse quando ficamos de frente um para o outro. — Sabe, vim desejando que essa possa ser apenas mais uma discussão boba e passageira!

— Eu sei! — respondi sem graça. — Me desculpe, Nicolas!

— Então, não acha que nosso relacionamento está bom? Estou sendo direto, porque não quero mais que fiquemos nos enganando. Eu senti que você estava insatisfeita com algo, mas pensei que me diria, e em algum momento fiquei com medo de perguntar, porque talvez não quisesse a resposta. Mas, o que está acontecendo com nós dentro de todo esse silêncio, Amélia?

— Não tenho resposta mais simples para lhe dar a não ser meu medo bobo — suspirei envergonhada.

As coisas não pareciam substanciais quando precisaram ser faladas. Todos os meus sentimentos de insegurança se retraíram, mas eu sabia que mesmo que eu dissesse "tudo bem, vamos deixar isso para lá", eles voltariam quando eu estivesse sozinha.

— Não é bobo! — ele disse, e suspirou impaciente.

Pelas estações que passaram ao nosso lado, eu podia dizer que conhecia Nicolas e sabia que ele não era um homem calmo todo o tempo. Como qualquer ser humano, ele se estressava e se irritava até com coisas bobas. Apesar de conseguir contornar muito bem a maioria das situações e nunca despejar suas frustrações em mim.

— Está com raiva? — perguntei observando a tensão que se formou entre seus olhos.

— Estou assustado! Você duvidou sobre se o nosso relacionamento vai dar certo depois de tudo que vivemos... Isso me magoou, e não posso esconder isso de você!

— Eu sei...

— Eu vivo bem sendo a sua segunda opção, e mesmo agora que você parece nem se lembrar da minha existência, eu tenho paciência! Não estou competindo com o Adam, e mesmo quando me sinto frustrado, eu aguento!

— Não deveria se sentir assim num relacionamento — lamentei. — E de fato, não tenho desculpas...

— Eu amo o Adam, mas você deveria pensar mais em si mesma às vezes! Não vai conseguir protegê-lo de todos os conflitos do mundo, Amélia!

— O mundo é arisco, sei disso, mas pelas minhas mãos ele nunca se machucará. O que sua mãe me disse me assustou, e imaginei um filme em minha cabeça, onde o Adam se veria excluído de coisas, e isso só o faria ter mais certeza de que seu nascimento foi um erro.

Cobri meu rosto com as mãos para esconder as lágrimas que voltaram. Pensar naquilo me deixava aflita a ponto de perder o controle sobre os meus sentimentos.

— O que ela disse foi extremamente cruel, eu sei! Estou muito envergonhado e indignado! — Nicolas disse, mas não se aproximou de mim carinhosamente como fazia, estava inquieto e nitidamente frustrado. — Mas você deveria ter falado comigo! Está me tirando o direito de resolver as coisas, Amélia!

— Não quero que se desentenda com a sua mãe.

— Eu fiz uma escolha, a de ficar ao seu lado! — contou me encarando seriamente. — E posso resolver o que estiver nos atrapalhando, até porque tudo isso não parece demais para mim!

— Nicolas...

— Mas pelo visto... — me interrompeu e abaixei o olhar quando ele se aproximou de repente. — Você não me escolheria... Não é?

— Eu quero te escolher.

— Querer e fazer são coisas muito diferentes — suspirou.

Apesar de estarmos a centímetros um do outro, desviamos os olhares. Encarei a rua, revestida por paralelepípedos, a qual já era muito antiga e estava cheia de buracos.

— Talvez eu não seja a mulher que você precisa — murmurei ciente de todas as necessidades não saciadas do homem em minha frente.

— Não!

— Precisa de alguém melhor e que possa arriscar tudo por você!

— Não diga isso!

— Te amar como você merece...

— Amélia!

— Eu não posso fazer isso! — admiti com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — E não posso suportar te ver incompleto por escolher a mulher errada. Quero vê-lo feliz!

— Nos amamos...

E depois das confissões do Nicolas, eu percebi que a verdade era mais dolorosa do que apenas as suposições. De fato, eu não conseguia retribuir o seu amor com integridade. Nicolas se propôs a ser um dos meus pilares mais fortes, me preencheu em todos os setores, e transbordava a ponto de eu não conseguir dar atenção a tudo que era oferecido para mim. Os anos estavam passando e naquele momento me senti em dívida com aquela pessoa.

— Talvez tenha sido um erro — murmurei com os olhos fechados.

— Não diga bobagens! — tocou meus ombros. — Nunca fomos tão impulsivos assim com o outro! Olhe para mim! Podemos não casar, então, tudo bem!

— Mas não é o que você quer?

Criei coragem para olhá-lo mais uma vez, e sua expressão continuava indecisa e triste.

— Vai continuar se sacrificando por mim quando não faço o mesmo por você? — sussurrei.

— Você parece decidida em me mandar embora... — sorriu, um sorriso amargo e sofrido. — Então, eu sou o elemento descartável na sua vida, não é? Na verdade, é compreensível... Já que o Adam não pode ser...

— Cruel — murmurei já rouca. — Estamos trocando palavras amargas hoje e talvez não possamos ignorar isso.

Nicolas suspirou e escondeu seu rosto em meu ombro. Contornei seu corpo num abraço, seu cheiro continuava sendo inebriante para mim, confortável, querido.

— Vou sentir sua falta!

Amor da minha vida.

AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora