❤ CAPÍTULO 30 ❤

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Nicolas se responsabilizou em explicar a situação para minha mãe, a qual não hesitou em acolher Hana, que estava ferida. A noite foi conturbada, já que concordaram que deveriam levar a garota para o hospital, e de lá abriram uma ocorrência sobre a agressão com a ajuda dos médicos. Além do olho roxo, ela tinha hematomas no abdômen, e estava exausta. Fiquei ao seu lado todo o tempo, até porque era tudo que eu podia fazer, e não trocamos muitas palavras. Hana estava muito envergonhada e perdida.

— Uma moça no corredor acabou de me oferecer um potinho de gelatina, quando estava voltando do banheiro. Só porque sou bonito! — contei divertido para a garota, que estava encolhida na maca. — Se ela me chamar para sair, é capaz de eu aceitar, depois da oferta da gelatina.

Ela sorriu brevemente.

— Me desculpe por te ligar... — sussurrou.

— Na verdade, fiquei feliz que ligou! Mas por que disse que não poderíamos ser amigos outro dia?

— Porque ele ameaçou machucar qualquer um que tentasse me ajudar — abaixou a cabeça. — Ainda estou com medo que ele te faça algum mal.

— Não vai! — toquei seu cabelo, que estava um emaranhado bagunçado e complicado. — Minha mãe e Nicolas vão cuidar de tudo! Não se preocupe! E eu vou cuidar de você!

Quando conseguimos sair do hospital, já era quase madrugada, e Hana cochilou encostada no meu ombro, enquando Nicolas dirigia. Segurei sua mão com cuidado, e me esforcei para mantê-la quente e confortável. Eu também estava sonolento, mas me forcei a ficar atento.

— A polícia disse que posso cuidar dela até investigarem a situação, e até encontrarmos alguém da família que possa ser um responsável legal por ela — minha mãe disse para o Nicolas, sentada no banco ao lado dele no carro.

— Sim, acho que é o melhor a se fazer! Me desculpe por não ter te avisado que isso aconteceria!

— Agora não faz sentido discutir! Me culpo por não ter feito nada antes! — ela suspirou. — Não consigo imaginar como ela vem vivendo, e isso parte meu coração.

— Não se culpe! Você ainda está assumindo a responsabilidade por isso... Você é tão incrível, Amélia!

— E você? Está ciente do perigo que correu indo até lá? Estou aliviada que não se machucou!

— Eu sou forte! — Nicolas riu, o que acabou fazendo minha mãe rir. — Nunca te contei que sei lutar?

— Você não sabe lutar coisa nenhuma!

— É, não sei mesmo! — continuou rindo. — Mas acho que ser alto serviu de alguma coisa!

— Nunca mais faça coisas perigosas desse jeito! — ela pediu, mas logo limpou a garganta. — Já que estamos todos bem, vamos parar de pensar sobre as coisas ruins que poderiam ter acontecido!

Sorri um pouco, porque eles nem se davam conta de como ficavam bem em ter o outro do lado, simplesmente.

Hana acordou quando chegamos em casa, e depois de tomar um banho e vestir as roupas da minha mãe, ela se recolheu no sofá, muito envergonhada. Os adultos lhe explicaram tudo com cuidado, e só o que entendi era que ela moraria na minha casa até que tudo se resolvesse. Ela também contou que sua mãe havia ido embora há alguns anos, mas que prometeu buscá-la algum dia.

— Vamos encontrar sua mãe — a minha mãe garantiu alisando a cabeça da garota. — E enquanto isso, vamos nos divertir muito por aqui! Ok?

— Muito obrigada, Amélia! — Hana disse envergonhada. — Muito obrigada, a todos!

— Não sei vocês, mas estou morrendo de fome! — falei depois de sorrir, querendo não prolongar a vergonha da minha amiga.

Minha mãe esquentou a sopa que estava na geladeira, e todos nos juntamos à mesa para aquela refeição. Nicolas ajudou minha mãe tirar o colchão que estava embaixo do seu, para que Hana pudesse dormir em seu quarto.

— Nicolas não pode dormir no meu quarto, então? — perguntei emburrado por ter que ficar sozinho.

— Bom, se ele quiser passar a noite aqui... — mamãe murmurou, desconcertada. — Já está bem tarde! E deve estar cansado de dirigir...

— Claro! — Nico assentiu sem contestar como se estivesse apenas esperando o convite.

Ninguém comentou sobre o dia seguinte ainda ser uma sexta-feira e que teria aula e trabalho.

Permaneci com os olhos abertos, mesmo que as luzes estivessem apagadas e o relógio marcasse quase três horas da manhã. Meu coração estava num misto de agonia e alegria. Era bom ter Hana perto de mim, pois não me gerava a ansiedade de se tudo estaria bem com ela. No entanto, a situação era complexa e triste, tinha medo de não conseguir recuperar seus fragmentos depois daquilo.

Tentei ficar mais atento quando ouvi cochichos no quarto ao lado, certamente elas estavam conversando.

— Nico? Está acordado? — sussurrei para o homem, que estava deitado no colchão do chão do meu quarto.

— Estou, amigo!

— O que será que elas estão conversando? — murmurei curioso, e ele riu.

— Segredos femininos... — respondeu parecendo divertido. — Acho que nunca conseguiremos pensar como uma mulher, então, se quer um conselho, não tente adivinhar. Mas, te incentivo a se esforçar sempre para entender e ser claro nas suas intenções. As pessoas não tem como saber o que queremos se não contarmos à elas.

— Você não parece se esforçar para adivinhar os pensamentos da minha mãe... Como faz isso?

— Parece? Ela fala muito bem como os olhos... — suspirou. — Mas ainda indico a conversa direta, sempre haverão coisas que não serão ditas e que fazem muita diferença.

— Você não pretende reconquistá-la?

— Estou apenas esperando ela voltar... — bocejou. — Acho que vou dormir, Adam! Ainda preciso ir trabalhar...

Nicolas adormeceu quase que imediatamente, mas continuei olhando para o teto enquanto suspirava.

A porta do meu quarto estava aberta quando abri os olhos com os raios de sol pela manhã. De lá tinha a visão da minha mãe na cozinha, fazendo tudo com destreza e uma expressão calorosa no rosto. Nicolas apareceu ao seu lado ajeitando o relógio no pulso, e eu sorri pela cena. Ele pegou algum pote que estava alto, e deu à ela com um sorriso no rosto. Alguns meses atrás, eles trocavam alguns carinhos, que podiam jurar que eu não enxergava, mas eram péssimos em esconder sobre o quanto estavam felizes em ter a companhia do outro.

— Hana ainda está dormindo — mamãe contou quando apareci na cozinha. — Concordamos que é melhor que você não vá à escola — trocou um olhar com Nicolas, que assentiu.

— O pai dela pode tentar te encontrar por lá — ele me explicou. — Eu acompanharei sua mãe até a instituição para explicar a situação à diretora. Enquanto isso, fiquem em casa!

— A senhora Clara vai esfregar os olhos freneticamente quando pensar que ganhei um pai bonitão ao te ver! — brinquei fazendo Nicolas gargalhar.

— Adam! — mamãe me advertiu com as bochechas ruborizadas.

— Mãe, você precisava ver o que o Nico disse ontem! Eu não pude reagir, porque o momento não permitia, mas fez meu coração acelerar.

— O que ele disse? — ela perguntou alternando o olhar entre nós dois, com o semblante preocupado.

— O que eu disse? — ele alisou a têmpora fingindo pensar, mas havia um sorriso bobo em seu rosto.

— Disse que eu era seu filho.

Mamãe abriu a boca, e seus olhos não conseguiram esconder como aquela informação era emocionante para ela. Nicolas tinha razão, ela falava mesmo em silêncio. 

AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora