❤ CAPÍTULO 6 ❤

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Nos dias seguintes procurei pela fisionomia do Sr. Marques no metrô, o que acontecia automaticamente. De alguma forma me senti ansiosa para encontrar o rapaz e conversar, o que fazia o caminho para casa passar muito rápido.

— Passei metade do meu dia preenchendo um banco de dados tedioso — Nicolas contou quando perguntei como tinha sido seu dia. Ele estava segurando a barra ao meu lado. — E o seu?

Nicolas havia me contado que era formado em Administração, e pouco depois de se formar no curso, ele passou em um concurso público. Eu ficava imaginando como seu apartamento devia ser bonito, e que ele devia se deliciar com saladas coloridas, e legumes que às vezes eu não conseguia comprar para o Adam.

— Algo engraçado aconteceu na editora hoje! — respondi.

Nicolas me encarou com curiosidade.

— A gráfica entregou um cartaz, e os editores não perceberam que havia uma palavra escrita errada. Estavam todos concentrados em terminar seu trabalho — soltei uma risadinha, e ele levantou as sobrancelhas parecendo ansioso.

— E então? Você salvou o dia?

— Fiquei com vergonha de dizer — me retraí lembrando que talvez fosse mais emocionante se eu tivesse dito, mas as pessoas não levavam faxineiras a sério. — Deixei um bilhetinho anônimo em uma das mesas, e então eles correram para verificar.

— Você salvou o dia! — ele sorriu. — Super-heróis não precisam de reconhecimento.

Inevitavelmente eu sorri. Gostava de contar as coisas ao Nicolas, ele fazia parecer que eu era importante mesmo sendo apenas uma faxineira.

Outro dia, sentados, tivemos uma longa conversa sobre o filme "Sob o Sol da Toscana". Nicolas se mostrou um amante de filmes, e eu geralmente assistia aos que passavam na TV, mas ouvir as histórias contadas por sua voz e seu entusiasmo, me deixava curiosa.

— É um filme sensacional para uma tarde de domingo! — Nicolas concluiu.

— Espero um dia poder assistir! — sorri animada com a ideia. — Uma tarde de domingo bem laranja.

— Isso! — ele disse surpreso, o que aumentou meu sorriso. — Não pode ser numa tarde chuvosa.

E na maioria dos nossos dias falávamos sobre o Adam, que era o meu assunto principal. Nicolas nunca se mostrava cansado de ouvir falar sobre aquele garotinho perspicaz, e algumas vezes ele parecia até curioso.

— Quando ele precisar fazer a barba, o que vou fazer? — perguntei causando uma gargalhada no rapaz. — Preciso aprender a fazer a barba.

— Tenho para mim que o Adam vai aprender antes de você — ele continuou sorrindo. — Ele parece ser um garoto muito inteligente, e não vai colocar a mãe nessa situação.

— Ele é bom em matemática! — contei risonha.

— Me sinto curioso em conhecer Adam Campos! — Nicolas suspirou. — Talvez pudesse encontrar um bom amigo, afinal.

— Ele é meu melhor amigo!

Nicolas assentiu com um olhar caloroso. A maioria das pessoas que conversavam comigo diziam que eu era boba, que por mais que tivesse um filho, meu espírito continuava infantil. Mas Nicolas não parecia achar ruim, e nunca me olhava com desprezo.

Encontrar essa pessoa fazia meus dias parecerem mais felizes, o que era estranho, já que com o Adam eu era muito feliz. Algumas vezes me pegava pensando em meu arrumar um pouco mais. Eu queria mostrar minha melhor versão para o Nicolas. Em alguns momentos era constrangedor o jeito que ele me olhava, e encarava sem desviar, ou quando sentávamos lado a lado e seu sorriso acontecia muito próximo ao meu rosto.

AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora