❤ CAPÍTULO 8 ❤

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Então, eu me arrumei. Fiquei num enorme impasse sobre como queria parecer perto do Nicolas, e sofri curtos momentos que variavam de "isso é muito errado" a "qual o problema nisso?".

Não havia um problema, mas havia Adam.

Se eu por acaso me envolvesse com um homem, será que meu filho veria aquilo com bons olhos? Nunca falamos sobre isso, nunca sequer cogitamos deixar alguém mais entrar em nossas vidas. E eu tinha medo de que tudo que construímos juntos fosse perdido, que ele se afastasse de mim, que não quisesse mais ser entendido. Não suportaria perdê-lo.

E foi aí que decidi que Nicolas Marques seria apenas um amigo para mim, o que me forçou a tentar mudar meus pensamentos sobre aquele "encontro".

Mas me arrumei, porque queria lembrar que fui bonita pelo menos um dia depois de muito tempo. Não passava de uma mulher num vestido florido rosa com um casaco brega, mas era bem o estilo Amélia Campos.

Nicolas acenou assim que cheguei ao cinema. Ele estava totalmente diferente do Sr. Marques que eu encontrava todo dia no metrô. Dessa vez vestia uma camisa branca, de gola alta e mangas compridas, uma calça jeans e tênis brancos.

— Já comprei os ingressos. — Ele disse com um sorriso largo.

Eu não consegui pagá-lo de volta, porque ele não aceitou, e aquilo me deixou aflita por um tempo.

Assistimos ao filme Beleza interior, que era um romance, com uma boa pitada de drama. O filme que poderia ser uma simples história de amor me deixou melancólica. O protagonista não podia ser apenas uma pessoa, mas ela conseguiu amar todas as formas dele, e aquilo me deixou comovida. Era mesmo capaz ser amada? O que realmente importa é quem somos por dentro?

— Achei que iria gostar do filme! — Nicolas disse parecendo desapontado enquanto andávamos pela calçada. — Lançou essa semana... Eu realmente achei que você iria gostar... — sua voz foi esmorecendo, o que me fez encará-lo.

A rua não estava muito movimentada, e o sol já estava se pondo.

— Eu gostei! — falei o fazendo erguer as sobrancelhas. — É que fiquei pensativa.

— No que está pensando? — colocou as mãos nos bolsos e encheu seu peito quando respirou fundo.

— Se é realmente possível gostar de alguém sem pensar em quem somos por fora. A cada dia que passa as pessoas só querem saber das características primárias. Bonita ou não? Idade? No que trabalha? — sorri sem graça vendo o quanto ele estava concentrado em meu discurso. — Parece que vivo no século passado ainda.

Nicolas sorriu e covinhas surgiram em suas bochechas.

— Que tal jantar comigo e conversamos um pouco mais sobre isso? — perguntou e apontou para o restaurante do outro lado da rua.

— Eu não sei se é uma boa ideia...

— Adam não está em casa. Acho que você não tem uma boa desculpa.

Abri a boca, surpresa. Estava de frente para um rapaz um pouco diferente daquele que me encontrava todos os dias. Nicolas havia desistido das formalidades, além de sorrir todo o tempo e me pôr contra a parede.

— Mesmo assim — falei abraçando meus braços. — Pode ficar tarde.

— Vou me assegurar de que chegará bem em casa — sorriu e fez um gesto com a mão, mencionando que eu seguisse o caminho do restaurante. — Não negue meu convite, Amélia, por favor!

Hesitei um pouco antes de concordar. Éramos amigos, qual problema jantar juntos?

Nicolas me observou enquanto eu lia o cardápio. Talvez minha expressão perdida tenha o entretido. Eu era engraçada para as pessoas, até porque tudo sempre parecia novidade para mim. Mas aquele restaurante era demais para mim, toda a decoração já me dizia que tudo seria o olho da cara.

AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora