❤ CAPÍTULO 29 ❤

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Cheguei na escola decidido a ter uma conversa séria e direta com Hana, mas ela não apareceu. Depois de ouvir a conversa de Nicolas com minha mãe, pensei que pudesse resolver as coisas com a minha amiga também. E ela também não apareceu no dia seguinte.

— Adam, você não quer passar um tempo com a gente? — Joice tocou meu ombro.

Não conseguia fazer muito no horário do intervalo a não ser ficar sentado na cadeira com a cara emburrada, repassando pela minha mente todas as memórias como se fosse um filme. Ainda estava procurando o momento em que falhei, ou algum sinal velado.

— Vou só ficar aqui — murmurei ainda olhando pela janela.

— Desde que a Hana apareceu, você não parece disposto a ser amigo de mais ninguém — a garota disse, o que me fez olhar para ela.

A menina pequena, com cabelos lisos e curtos, me sorriu brevemente com os lábios rosados de maquiagem.

— É uma pena! — Joice continuou me encarando fundo nos olhos, e depois de um tempo comecei a me perguntar se o corado que surgiu em suas bochechas de repente também era maquiagem. — Porque eu sempre gostei de você!

— Também gosto de você — tentei sorrir. — Obrigado! Mas estou bem por aqui, não se preocupem comigo.

— É... — sorriu com o olhar no chão. — Se quiser se juntar à galera novamente, é só vir.

Eu ainda estava chateado com a galera por tudo que fizeram Hana passar. Ainda não conseguia entender o que fazia achá-los que aquela garota merecia tanto desprezo. Para mim não importava quem era seu pai e o que ele fazia da vida, ela não tinha nada a ver com aquilo.

Passei a tarde toda encarando o celular, lembrando do dia que levei para a escola pela primeira vez, e deixei Hana mexer nele. Era uma novidade para nós dois. Ainda me lembrava de tê-la feito gravar o meu número... Será que ainda se lembrava?

Atendi com pressa sem nem me importar de ser um número desconhecido quando o aparelho tocou naquela noite.

— Adam? — reconheci a voz sussurrada da garota do outro lado da linha.

— Hana? É você?

— Adam, me desculpe! — continuou surrando, mas pude identificar a voz de choro.

— Você está chorando? Aconteceu alguma coisa?

— Me tire desse inferno, por favor... — soluçou. — Eu não aguento mais...

— Eu vou! — falei com o coração disparado, sem medir as consequências das minhas palavras. — Me diga onde está e vou buscá-la agora mesmo!

A ligação foi cortada, mas pude ouvir a voz de um homem e depois um grito dela. Foi impossível não pensar no pior. Tentei retornar a ligação para o mesmo número algumas vezes, mas ninguém atendeu. Corri para calçar meus tênis, mas não fazia ideia de para onde ir, porque só a acompanhei até metade do caminho, ela me fez prometer que nunca a seguiria, e como um idiota apenas obedeci.

Parei na porta e suspirei alto antes de ligar para o Nicolas. Ele era o único que sabia onde Hana morava.

— Eu quero apenas o endereço! — pedi novamente depois de receber uma bronca sobre ser imprudente da minha parte fazer alguma coisa.

— Nem pensar, Adam!

— Nicolas, por favor! — me sentei no chão e permiti que as lágrimas escorressem pelas minhas bochechas. — Ela nunca me pediu ajuda... E se fez é porque algo muito ruim está acontecendo!

— Não posso deixá-lo ir sozinho naquele lugar! Sua mãe jamais me perdoaria se algo acontecesse com você!

— E eu não vou perdoar se Hana se machucar ainda mais, mesmo depois de me pedir ajuda! Você salvaria a pessoa que você ama se pudesse fazer isso?

— Tudo bem! Eu vou com você! — Nicolas disse de repente. — Me espere na entrada da vila.

Não consegui ligar para minha mãe e contar-lhe a loucura que estava prestes a fazer. Ainda pensava em como ela ficou abalada dias anteriores pela visita inoportuna, e não queria assustá-la. A verdade é que eu não estava com medo de ir até lá, tinha medo do que seria capaz de fazer caso alguma coisa horrível tivesse acontecido.

— O que você tem em mente? — Nico perguntou dirigindo, enquanto eu estava prestes a mastigar minha língua de ansiedade.

— Salvá-la!

— E com certeza você não falou com sua mãe sobre isso... — riu. — Mas tudo bem, garoto! Eu vou assumir as responsabilidades sobre isso. Então, vamos ver o que podemos fazer.

— Obrigado, Nicolas! Eu nunca pensei que encontraria alguém para querer ser igual... — abaixei a cabeça. — Mas eu quero ser como você! Fico pensando que se minha mãe tivesse a sorte de encontrá-lo antes do traste do meu pai biológico, sua vida teria sido muito melhor.

— Mas aí não teríamos você, e eu não iria querer viver nesse mundo sem meu querido Adam!

Fitei seu semblante tranquilo, que me sorriu rapidamente antes de voltar sua atenção para as ruas. O caminho era íngreme e esburacado, o que fazia o carro saltar, então Nicolas estava dirigindo devagar.

— É aqui — ele sinalizou quando paramos de frente à um beco estreito. — Está pronto?

Assenti com a cabeça e saímos do carro. A iluminação era precária, mas Nicolas manteve sua mão em meu ombro enquanto caminhávamos beco abaixo. Havia alguns caras encostados num canto fazendo alguma algazarra, mas seguimos adiante e eles não pareceram nos notar. Diferente do lugar em que eu morava, aquele não era nada acolhedor.

Nicolas bateu no portão de metal enferrujado e eu congelei quando o homem saiu com uma garrafa de cerveja na mão. Indentifiquei logo como o pai de Hana, pois eles eram realmente parecidos, apesar de ele ter a pele mais clara que a dela, mas o homem era menor do que imaginei ser. Ele precisou levantar o queixo para encarar o rosto de Nicolas.

— Boa noite! Hana está? — Nico disse tranquilamente.

Eu estava impaciente tentando ver através da abertura que ele deixou quando abriu o portão. Meus olhos se arregalaram quando vi a garota escondida por detrás da porta, ela estava me olhando com o olho inchado.

— Ela te deve dinheiro? — o homem disse com tom de deboche.

— Não, meu filho é amigo dela! — Nicolas disse e bagunçou meus cabelos com uma risada amigável. — Se conhecem da escola! Ele estava preocupado e pensamos se não podemos falar um pouco com ela...

Continuei tentando fazer algum sinal para que ela viesse até mim, mas permaneceu parada no mesmo lugar.

— Aquela vadia! — bufou com nojo e barrou minha visão com o braço. — Pois voltem do buraco de onde vieram antes que eu — abaixou a cabeça em minha direção, soprando o bafo de cerveja em meu rosto — acabe com vocês!

O homem foi surpreendido quando a garota veio correndo e lhe empurrou para longe de mim. Hana me abraçou e escondeu o rosto em meu pescoço.

— Desgraçada! — o homem ergueu a mão, a qual foi segurada por Nicolas.

— Deixe eu te ver! — pedi tentando afastar a garota. — Hana?

Mesmo com a pouca iluminação não foi difícil ver seu olho esquerdo estava roxo e inchado.

— Senhor, violência doméstica é crime! — Nicolas disse. — Não posso deixar a garota aqui e fazer papel de cúmplice! Portanto, é melhor não reagir, ou as coisas podem ficar muito feias.

Estive tão concentrado na Hana, que cedeu cansada em meus braços, que não me importei com os demais detalhes. Nicolas disse mais coisas para o homem em nossa frente, e depois se apressou em nos levar ao carro. Fui no banco de trás com a garota, que continuou chorando em meu ombro.

— Acho que sua mãe percebeu que você sumiu... — Nicolas disse atendendo a ligação pelo painel do carro.

— Nicolas, o Adam sumiu! — ouvi a voz desesperada da minha mãe. — E deixou o celular em casa! Me desculpe te ligar, mas estou desesperada!

— Ele está comigo — respondeu com um sorriso nervoso no rosto. — Abra a porta, já estamos chegando!

AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora