Hana e eu nos reunimos na janela para assistir ao abraço caloroso que Nicolas e minha mãe trocaram depois do dia emocionante. Como ela prometeu, fez pizzas naquela noite, e todos pudemos ajudar a montar. A conversa foi divertida e conseguimos fazê-la rir muito.
— Somos apenas amigos, tá? — ela disse sem jeito quando notou que estávamos ali.
— Até quando? Estou de olho nas suas intenções com a minha mãe, Sr. Marques! — brinquei.
Nicolas sorriu e esticou seu braço para afagar meu cabelo.
Estávamos sonhando com as férias de verão. Os dias foram passando por nós numa calmaria agradável, apenas um dia após o outro, a batalha de sempre.
Hana e eu voltávamos da escola, numa conversa animada sobre o possível namoro da professora de artes com o professor de física. A tarde estava ensolarada, mas com a brisa fresca, e foi ali no bairro que encontramos uma senhora conhecida aparentemente perdida e cheia de sacolas.
— Senhora Marques? — perguntei ao reconhecer a mãe de Nicolas.
— Graças a Deus! Adam! — ela sorriu espontaneamente, o que achei estranho, já que no nosso único encontro, parecia ser uma pessoa fria e sem sentimentos. — Achei que ficaria perdida! Estava procurando sua casa!
Peguei suas sacolas e indiquei o caminho. Ela nos seguiu contando toda a aventura que viveu até chegar ali. O taxista, que ela encontrou na rodoviária, garantiu que conhecia o endereço, mas a deixou na casa errada e foi embora imediatamente, deixando a senhora para trás. E ela passou boa parte da tarde caminhando por ali na tentativa de nos encontrar. Parecia desconfortável usando aquele vestido azul, reto, o tecido parecia quente, ainda mais com meia-calça preta, e sapatos fechados.
— Sua mãe ainda não chegou, eu presumo — ela disse olhando para a casa com curiosidade. — Ela sabe que sua amiga veio com você?
— Sim, minha amiga Hana está morando conosco por algum tempo — contei, e a senhora arregalou os olhos no mesmo instante. — Ela era agredida pelo pai, e enquanto procuramos sua mãe, a minha a acolheu na nossa casa.
Não quis expor a história da Hana, mas estava cansado de as pessoas serem inconvenientes, e percebi rapidamente que elas perdem a fala quando se deparam com a verdade crua.
A mulher alternou o olhar entre nós dois e assentiu com a cabeça, mas seu semblante ainda estava levemente chocado. Hana abaixou a cabeça, mas sorriu quando passei o braço pelos seus ombros.
— Sua mãe é uma mulher de bom coração — ela disse depois. — Adam, gostaria de pedir sua ajuda em uma coisa!
— Prossiga.
— Eu também sou mãe e quero ver meu filho feliz! Você acha que o Nicolas ainda tem chances com Amélia?
— Eles se amam — contei desconfiado. Talvez o motivo da separação tenha vindo dali. — Mas por algum motivo estão separados.
— Eu quero consertar o meu erro! — ela disse depois de um suspiro. — Então, poderia me emprestar sua cozinha hoje? Quero fazer algo para sua mãe!
— Fique à vontade! — apontei para a cozinha. — Mas posso te dar um conselho?
— Claro! — me encarou com expectativa.
— Adicione sal na comida.
A senhora desatou a rir e assentiu já seguindo para a cozinha. Hana e eu ajudamos descascando os legumes e pegando tudo que ela precisava.
— Vocês são tão gentis! — ela disse sorridente mexendo algo numa panela. — E pensar que eu iria descartar a possibilidade de ter esse neto carismático! Que Deus me perdoe e me dê uma nova chance!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amélia
RomanceAmélia Campos não é apenas uma mãe solteira de um garoto de 12 anos, o qual ela teve muito cedo em sua vida, ela é também uma dona de casa, faxineira numa editora, pequena fornecedora de geleia, uma vizinha prestativa e outra coisinha que ela esquec...