Não atendi nenhuma das ligações de Nicolas naquela noite. Ele não teve tempo de dizer muito, porque atravessei o portão da vila e corri para minha casa. Aquilo me fez ter vergonha de mim mesma.
Busquei Adam no dia seguinte, e quando ele desceu do ônibus eu pude esquecer tudo que estava me afligindo naquele momento. Não importava o que estivesse acontecendo, tudo daria certo se o Adam estivesse comigo.
— Parece que você se divertiu bastante sem mim! — fui para a cozinha o vendo correr pela casa, colocando as coisas que havia levado no lugar.
— Foi muito legal, mãe! — ele se encostou na bancada. — Mas senti sua falta! É ruim tomar café da manhã fora de casa.
— É mesmo? — acabei rindo e deslizei meus dedos pelo seu cabelo.
— Queria comer sua geleia! — Adam sorriu mostrando os dentes.
— Vou fazer um sanduíche para você.
— A senhora é a melhor, mãe!
— Modéstia parte, sou mesmo.
Ele gargalhou com a minha resposta e comecei a preparar seu lanche. Adam estava impaciente pela casa, e aquilo me fez sorrir, porque sem ele tudo parecia vazio e sem graça.
— O que a senhora fez sem mim? — perguntou despejando seu material sobre a mesinha da sala.
— Fui ao cinema, acredita? — sorri sem jeito.
— Sério? — ele abriu bem os olhos parecendo animado.
Eu iria completar que fui com um amigo, poderia acrescentar ao menos isso, mas alguém chamou do lado de fora. Adam atendeu a porta, e eu sabia pela voz que era da Madalena. Ela entrou depois de bagunçar o cabelo do garoto e logo me encontrou na cozinha.
— Aceita um sanduíche? — perguntei sorrindo.
— Aceito, querida! — ela disse e puxou uma cadeira, onde se sentou. — Adam chegou de viagem finalmente.
Distribuí os sanduíches e me sentei à mesa, perto da Dona Madalena. Adam ficou no chão da sala enquanto terminava a lição de casa que deixou acumular.
— A senhora está bem? — perguntei e percebi que ela me encarava com um sorriso diferente.
— Estou ótima! Você parece mais iluminada hoje! — sorri sem graça.
— Estou feliz que Adam finalmente voltou! Acho que vou demorar antes de deixá-lo ir novamente nessas viagens.
— Acho que vocês dois precisam de um tempo de vez em quando.
Mordi meu sanduíche e mastiguei em silêncio. O tempo que tive do meu filho, eu estava ao lado de um homem. Aquilo fez minha vergonha aumentar.
— Adam! — a senhora o chamou, e ele ergueu sua cabeça a encarando. — O que você acha da sua mãe namorar um pouco?
Abri a boca no susto e meu coração acelerou terrivelmente. Ela tinha visto... Eu queria poder sair correndo e me esconder no buraco mais fundo. Era por isso que eu não queria que ele tivesse me acompanhado.
— Namorar? — Adam repetiu parecendo confuso.
— Sim! Sua mãe é tão jovem... — ela continuou. Senti cada vez mais dificuldade em respirar. — O que você faria se ela te apresentasse a um homem?
— Um homem... — ele murmurou com o olhar fixo na senhora, mas meu cérebro quase explodiu quando seu olhar veio para mim. Eu sabia quando Adam estava nervoso e tentava esconder isso, ele arregalava os olhos sem querer, mesmo que sua boca estivesse séria. — Quem é?
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Amélia
RomanceAmélia Campos não é apenas uma mãe solteira de um garoto de 12 anos, o qual ela teve muito cedo em sua vida, ela é também uma dona de casa, faxineira numa editora, pequena fornecedora de geleia, uma vizinha prestativa e outra coisinha que ela esquec...