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Micael.

Não acredito que falei uma bobagem dessa.

- É.. É melhor. - Lizandra comentou segundos depois de um jeito mais tímido.

Olhei para ela depois de um longo tempo em silêncio.

- Está melhor? - Me olhou confusa e desviei o olhar. - Do resfriado.

- Ah, sim, você deixou uma farmácia toda ontem no quarto, não tinha como eu não tomar pelo menos um. - Riu sem graça.

- Entendo. - Suspirei meio alto então fui me afastando. - Se quiser, durma de novo.

- Ah, espera Micael. - Ela falou meu nome segurando rapidinho o meu braço. Me virei para ela um pouco surpreso e corei desviando o olhar na hora que sem querer vejo através do cobertor.

Liz acabou soltando uma das pontas da coberta que fez uma parte dele descer e mostrar que ainda estava com o vestido de ontem, e que claramente estava sem sutiã.

- Diga. - Espremi por segundos meus olhos e ela solta meu braço, segurando novamente o cobertor.

- Eu ainda não achei minhas roupas, nem meu material, nem meus livros, e eu realmente preciso estudar. - Falou mais séria e pensei um pouco, ainda estava vermelho de vergonha, provavelmente Lizandra nem mesmo percebeu.

- Ainda é de madrugada, suponho que suas roupas seus pais tragam, mas também minha mãe irá insistir para comprar novas pra você. - Ouvi ela resmungando algo que não entendo e fazendo careta. - Em relação ao material.. Chegam provavelmente às sete.

- Sete?? Merda, eu terei que sair esse horário. - Fez uma cara frustada e colocou uma das mãos no rosto.

Bem, não era culpa minha e eu não tinha muita utilidade em ajudá-la no momento. A não ser..

- Você.. Estuda o quê, específicamente? - Questionei, e ela me olha meio desconfiada.

- Direito, por que? - Me despertou uma ideia e até lembranças de momentos antigos.

- Me siga, te darei uns livros. - Fui andando e ela, mesmo não entendo direito, seguiu mesmo assim.

- Por que você teria livros do meu curso na sua casa? - Subi as escadas com Liz logo atrás de mim.

- Eu cheguei a estudar Direito, mas desisti. - Ela me olha totalmente surpresa e parece não entender.

- Desistir do tipo, largar todos os anos de estudo? Como.. - Para por uns segundos de falar, então para não deixar um total silêncio, me abro enquanto fomos para o sótão.

- Eu não queria aquilo, e só fui perceber o que eu realmente queria ser quando.. me ajudaram. - Me salvaram, foi o quê quis dizer, porém é uma lembrança que pesa minha mente, não consigo contar isso assim.

- Então, você cursa ou trabalha com o quê agora? - Se abaixou um pouco do meu lado e observou os livros nas estantes. Peguei três específicos sobre alguns assuntos do curso dela.

- Administração. - Sinto ela me olhar chocada e acabamos nos encarando. Desviei o olhar um pouco incomodado. - Por causa do meu pai.

- Ah, o homem rico. - Comentou e sorriu quando a entreguei os livros. Me senti derretendo por segundos vendo aquele seu lindo sorriso. - Valeu, de verdade.

- Pode ficar com eles se quiser, eu não uso mais, de qualquer modo. - Fomos saindo do sótão.

- Ah, falando sobre esse lance de de estudos.. - Começa a falar enquanto andávamos devolta para o quarto que Liz estava. - Eu.. Esbarrei em você na universidade que estudo.

Ela se lembrou.

- Oh, isso.. - Tentei explicar mas ela me corta.

- Quero pedir desculpas, sabe. Você não me deixou cair umas duas vezes no mesmo dia, e agora está me emprestando uns livros que preciso. Então obrigada também. - Senti docura enquanto ela falava, e confesso que senti vontade de beijá-la no mesmo instante.

- Também.. Sinto muito pelo que você está passando. - Abaixei o olhar, desviando. - Acredite, é difícil para mim também, porém você deve estar sofrendo bem mais que eu agora.

[...]

Liz.

Deus, como que eu vou para a universidade agora? Eu nem prestei atenção nas ruas ontem.

E não quero pedir carona para meu futuro noivo.

Por sorte, minhas roupas chegaram mais cedo, como ele havia me avisado. Finalmente pude trocar de roupa.

Coloquei uma camisa branca com um detalhe de coração pequeno e uma calça preta, junto com um tênis branco.

Amarrei meu cabelo num rabo de cavalo com a xuxinha preta que carrego comigo sempre, arrumando em seguida os livros que o homem me emprestou.

Eu li bastante, deve ser por isso que estou exausta agora. E ainda irei ter que ir andando para meu destino, adivinhar as ruas ainda.

E para ainda mais o azar: meu material todinho ainda não tinha chegado.

Ou seja, to indo estudar sem um lápis no bolso. Me apoiei na penteadeira do meu novo quarto suspirando e encarei um pouco o espelho.

- Tudo bem, vamos lá.. - Respirei fundo e saí do quarto, apenas com um dos livros emprestados nas mãos. Me perdi por uns segundos já que não sou acostumada com um lugar tão grande.

- Lizandra. - Deus, eu realmente detesto meu nome que chego a revirar meus olhos quando ouço falarem. Mas me arrependi de imediato percebendo que era a mulher de ontem, a mãe do meu noivo.

Me virei devagar com certo medo e ela estava bem elegante, enquanto eu, parecendo uma mendiga.

- Venha cá, querida. Vamos tomar café juntos. - Seguiu seu caminho até a cozinha antes mesmo de me ouvir falar.

- Ahm.. Senhora? - Andei só um pouco atrás dela, tentando acompanhar. - Eu.. Não posso ficar, tenho que ir.

- Bobagem. - Balança a mão e bufo baixo. - Eu sei que seu material não chegou ainda, então fique tranquila e não se preocupe em faltar hoje.

Eu iria começar a questioná-la, totalmente indignada, porém chegamos na cozinha depois desse longo corredor, onde de cara fui encarada pelos dois homens da "casa". Micael e seu pai tinham xícaras na mão e ambos bem vestidos.

Me sinto totalmente desarrumada e nem é um exagero.

- Bom dia.. - O mais velho fala parecendo tentar lembrar meu nome e consegue. - Lizandra, Lizandra..

- Bom dia, Senhor..? - "Senhor não faço a mínima ideia".

- Renato. - Soou casual, dei apenas um meio sorriso e tentei não olhar muito para Micael.

Passei uns segundos em pé alternando em brincar com minhas próprias mãos e balançar meu pé, nitidamente ansiosa.

- Vamos comer logo. - Micael deu ideia virando seu olhar para mim. Agradeci mentalmente por isso, quero ir embora.

Quando já estávamos todos na mesa da cozinha, a mãe de Micael toma o café em sua frente, soltando um suspiro de satisfação e me olhando em seguida.

- Não se sinta tímida, Lizandra. Coma à vontade.

- Obrigada mas.. - Inventei qualquer mentira. - Eu comi mais cedo.

- Coma de novo então querida. - O que mal pode fazer né? Me rendi e peguei um pedaço de torrada, comendo. - É bom cuidar do corpo, já que logo será mãe.

Eu e Micael engasgamos ao mesmo tempo.

- O quê? - Falamos juntos de olhos arregalados.

Continua..

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