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Micael

Era perceptível o nervosismo de Lizandra ao ver que realmente estaria alguém esperando por nós. Especificamente, um entrevistador de uma página de fofocas.

Ela batucava os dedos numa bolsa pequena em seu colo e respirava fundo tentando ser discreta. Não saímos ainda do carro mesmo tendo chegado a uns dez minutos.

Pensei em perguntar se ela estava bem ou falar que nervosismo era normal, mas a garota foi mais rápida.

- Bem, estou bem. - Respondeu com uma voz tentando manter a firmeza, como se lesse minha mente assim que abro a boca.

- ..Certo. - Apenas concordei e tirei a chave do carro. Me virei um pouco para ela. - Se importa..

- Não. - Nem me deixa terminar. - Faça o que quiser.

- Relaxa, Lizandra. - Tentei repreendê-la e suspirei, saindo do carro primeiro. Dei a volta pelo meu carro e abri a porta do passageiro ao lado do motorista com um suspiro controlado, soltando um sorriso.

Liz lógico que estranha no começo mas lembra de tudo que minha mãe já falou mais cedo e dá um sorriso também. Nervosa ainda, com certeza.

- Apenas fique calma. - Sussurrei perto de sua orelha quando deu um passo para minha frente enquanto eu fechava a porta. Me olhou pedindo ajuda no olhar, desesperada e sem fazer o quê fazer.

- Você jura que vou conseguir ficar calma e normal com um noivo de mentira e num restaurante que vale um rim meu?! - Seu susssurro saiu quase como um berro e arregalei os olhos um pouco, aproximando meu rosto do dela no propósito de fazê-la parar de ser tão escandalosa.

Olhei para sua boca e me segurei para não dar o próximo passo. Dei um sorriso perto de sua boca e parecia querer falar algo mas apenas tremia. Peguei suas bochechas com uma das mãos e com a outra toquei na ponta de seu nariz.

- Cuidado com a língua, Lizandra. - Disfarcei falando baixo e agora me direcionando ao lado da garota, com uma das mãos em sua cintura e a levando para a entrada do restaurante.

Tive que mantê-la distraída após o primeiro flash da câmera de um fotógrafo nada discreto a faz piscar e apertar a bolsa em suas mãos.

- Me conte sobre seu dia. - Confirmei nossos nomes e a recepcionista nos levou até nossa mesa.

- Ahm.. - Parece que Liz volta a realidade, balançando a cabeça e suspira após se sentar. - Agitado? Não sei descrever, é sempre cansativo.

- Você parece se esforçar. - Observei-a do outro lado da mesa e ela não quebrou o olhar, agora curiosa.

- E você? É incrível como vamos nos casar, você já sabe da minha rotina e eu não sei nem seu sobrenome, ou o quê você faz da vida. - Riu sarcasticamente algumas vezes e desviei o olhar.

- Eu trabalho para meu pai, junto com ele praticamente. - Eu não gostava tanto de falar da minha vida já que, até hoje, eu não faço algo que gosto ou que eu queira levar para frente. - E, caso não saiba, Alencar é meu sobrenome.

- ..Alencar. - Parece tentar lembrar de algo e estala os dedo, com uma expressão mais surpresa. - Claro, óbvio que eu já tinha ouvido falarem sobre vocês, mais dos seus pais na verdade.

- Eles gostam de chamar atenção. Minha mãe, principalmente. Ela que "trouxe" essa fama para a nossa família. Era atriz, meu pai fazia plantas porém não tinha dinheiro o suficiente para colocá-los em obra.. - Falei tão naturalmente que não percebi até que ponto cheguei. Fechei minha boca e balancei minha mão. - Desculpe, é..

- Relaxa. - Se adiantou, falando suavemente. - Pode continuar, eu quero saber onde me meti mesmo. Onde me meteram, na verdade.

- ..Eles.. Se casaram para terem um filho. - Continuei, por fim. Falar sobre aquilo realmente me incomodava. - Não teve amor, não teve sentimento, era apenas para terem alguém pra continuar com essa família. - Minha voz quase falha por uma certa dor no meu peito. Sabe, é péssimo saber que você só foi feito para continuar com uma família.

- Caralho. - Foi sua primeira reação e a acabei rindo de um jeito sarcástico disso, que a faz entender outra coisa diferente. - Não que eu esteja zoando e tudo mais, só é.. Um choque. Quer dizer, seus pais.. Parecem ser um casal unido, apaixonado e tudo mais..

- Aparências enganam. - Suspirei e observei pessoas numa mesa distante encarar a nós. Dei um leve sorriso, acompanhado de uma risada baixa, estendendo minha mão para ela. - Assim como iremos enganar alguns agora.

Me olhou confusa e a chutei debaixo da mesa coberta pelo pano. A garota fez careta e olhou para a mesma direção que eu, onde agora o casal estava vindo até nós. Liz por uns segundos respira fundo e toca a palma da minha mão com seus dedos gelados descendo com uma certa insegurança. Trocamos olhares e ela havia ficado com as bochechas avermelhadas. Finalmente juntou sua mão na minha no exato momento que eles chegam à mesa.

- Micael? Micael Alencar? - A mulher parece me reconhecer e ri alto, tocando em meu ombro. Logicamente dei uma recuada por não me lembrar quem seja.

- Nos conhecemos? - Perguntei desconfiado. Acontecia muito isso, pessoas fingirem me conhecer para ter contato comigo. Mas o rosto dela me parecia familiar.

- Não brinca, Cael! Da boate, esqueceu? Conversamos até o lugar fechar. - Riu desacreditada e finalmente lembrei. Claro, a doida.

- Ah, Raíssa. - Forcei um sorriso e meio automaticamente apertei um pouco a mão de Liz. - Não sabia que estava namorando. - Me referi ao homem atrás dela, parecendo esperar ela acabar de conversar.

- Namorado? Claro que não, Cael. - Riu de um jeito debochado e subiu um pouco mais sua mão de meu ombro, quase alcançando meu pescoço. - É meu irmão. - Então, se aproximou um pouco de mim, cochichando. - Nunca superei o nosso lance.

Se eu pudesse eu me enfiava num buraco e não saía tão cedo.

Raíssa foi uma das ficantes mais grudentas que eu já tive. Numa festa, me arrastou com ela a noite inteira e ainda fiz que foi maravilhoso. E quando chegamos ao "finalmente", eu me arrependi por inteiro e então tive uma desculpa para me afastar dela. Mas cá estamos.

- Ele perguntou se você tem namorado, você deveria ter perguntado o mesmo. - Liz chamou a atenção da garota que, mesmo tendo demorado, recuou e sorriu cinicamente.

- Desculpa, quem é você? - Ela riu e senti a mão de Liz apertando a minha, puta de raiva.

- Sou a namorada deste.

Juro, me arrepiei todo.

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