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-...Oi?

- Às vezes acho que você tem problemas auditivos.

- Engraçado você. - Ironizei e voltei ao foco, ainda confusa. - Mas por que diabos você iria me buscar todo dia?

- Minha mãe não quer que seja um casamento tão artificial. Ela quer manter as "aparências", fazer com que já tivéssemos algum contato e uma relação. - Estacionou o carro na frente da (nossa) casa, tirando o cinto de segurança em seguida.

- Sua mãe realmente está se esforçando nisso.. - Suspirei e tirei o cinto também. - Bem, pelo menos não volto sozinha de noite.

- Você volta de noite? - Me olhou intrigado e levantei os ombros.

- Hoje foi uma exceção. - Saí primeiro do carro.

Em questão de segundos, Micael consegue me acompanhar e está ao meu lado novamente, questionando novamente meu horário.

- Minhas aulas são em tempo integral, por isso tento chegar mais cedo para organizar melhor minha manhã de estudos.. - Abri a porta, entrando. - segundas, quartas e sextas costumo sair umas sete da noite, terças saio pelas seis e meia e hoje, quinta, é cinco e quarenta.

- Vou ter que anotar num papel. - Fez careta e dei um sorriso sem mostrar os dentes para baixo, enquanto ele olhava para mim com um certo jeito pidão. - Agradeço se fizesse isso por mim.

- Com todo prazer.. - Usei o sárcasmo e iria dobrar para meu quarto, porém ele segura meu cotovelo.

- Jantar. Apenas avisando. - Soltou quase no mesmo instante. - Tome um banho ou sei lá.. Enfim, estarei esperando você de qualquer forma.

- Okay.. - Falei com uma certa desconfiança na voz e segui para meu quarto, observando de longe Micael indo para o corredor que vai para a sala de jantar.

Me espreguicei entrando no quarto e notei umas caixas ao chão e perto da mesa. E quando fui para o banheiro percebi minhas roupas extremamente bem organizadas no mini closet, que para mim já era grande o bastante, perto do banheiro.

Quando acabei de usar o banheiro e segui para o closet com uma toalha amarrada ao corpo e o cabelo preso num coque, reparei que havia mais roupas que o normal naquele local.

- Mas que.. - Senti o tecido estranho de um vestido que parecia de gala e balancei a cabeça. Devem ter trago roupas erradas. - Vou nem tocar.

Se ele apenas falou "jantar", não deve ser grande coisa. Vesti uma calça moletom com um cinza mais escuro e uma blusa branca de alças encima. (Mídia)

Manti o coque por preguiça e saí do meu quarto assim que conferi se todos meus livros estavam ali.

Quando cheguei lá, novamente me senti desarrumada, como de manhã. E surpresa, já que meus pais estavam presentes desta vez e todos pareciam me esperar.

Olhei confusa para eles porém minha mãe apenas abriu um sorriso gostoso de ver e me abraçou.

- Que saudade princesa. - Fala me acolhendo em seus braços e meu pai toca em meu ombro, do mesmo jeitinho dela.

- Oi, vocês.. vocês não deram notícias o dia inteiro. E, meu deus. - Eu dei uma risada indignada, resmugando. - Por que ninguém me avisa para vir arrumada?

Micael.

Enquanto Lizandra conversava até um pouco empolgada com os pais, não deixei de reparar que, até simples ela..

Ela é linda.

Aquela calça moletom de cintura baixa mostrava muito bem a cintura que tinha e a camisa branca não era tão longa nem tão curta, apenas o ponto de não cobrir muito sua barriga.

Eu não me arrumei muito na verdade, fiquei sabendo de jantar encima da hora. Eu usava uma calça preta no estilo alfaiataria e, no mesmo tom, uma camisa preta social com as mangas menores. Troquei de camisa tão depressa que tenho quase certeza que um dos botões está errado.

Quando voltei a prestar atenção à mesa, todos estavam sentados novamente.

- Ahm.. Acho que teve um engano com as minhas roupas. - Lizandra falou receosa no começo mas ganhou a atenção da minha mãe. - Eu tenho certeza que a maioria não são minhas.

- Oh, eu sei, querida. - Ela riu de um jeito educado, até esnobe. - É apenas uma renovação no seu guarda-roupa. Percebi que não tinha muitos vestidos finos e de agora em diante, precisará deles.

- Ah.. - Deu uma risada sem graça mexendo o dedo no meio que batia na mesa apressadamente. - Eu... Agradeço.

Deu uma olhada para os pais e enfim, todos começam a comer.

- Micael, meu filho. - Mamãe chama minha atenção sentindo uma docura na voz. Até parece que era assim. Me segurei para não revirei os olhos e olhei para ela. - Já conversaram sobre a carona?

- Sim. - Meu olhar por um breve momento foi à Lizandra, que parecia gostar da comida. - Ela.. Me falou os horários dela.

- Ótimo. - Falou satisfeita e a conversa dos maiores começaram. Eu e Liz não trocamos muitas palavras durante isso.

Lizandra foi a primeira a acabar de comer, pegando o prato e talheres e levando para a cozinha.

- Querida, aonde vai? - Minha mãe pergunta e a garota vira meio que achando óbvio o quê iria fazer.

- Lavar os pratos?

- Deixe como está, Lizandra, outras pessoas irão lavar. - Abana uma das mãos como se não fosse nada e senti que a garota segurou uma risada irônica, porque eu também segurei.

- Não, obrigada. Deixa que eu lavo. - Seguiu para a cozinha com um sorriso forçado no rosto.

- Peço licença, também.. - Levantei da mesa, pegando meu prato e talheres, fazendo o mesmo caminho que a garota.

Se fosse por minha mãe, eu não saberia lavar uma louça na minha vida, visto que ela mesma não sabe. Mas eu praticamente refiz minha educação com a ausência dos meus pais.

Cheguei segundos depois dela no local e a ouvi imitar minha mãe com uma voz mais fina e xingando sorrateiramente.

- Quem ela pensa que é? Nunca deve ter lavado uma louça na vida, nem ajudado alguém.. - Resmunga esfregando forte a esponja no prato.

- Não mesmo. - Falei me aproximando, dando-lhe um susto que me fez soltar um meio sorriso.

- Você estava aí a muito tempo? - Voltou a atenção aos talheres ensaboados.

- O suficiente para já saber que odeia minha mãe. - Fiz uma pausa levantando os ombros - Não posso julgar, então não se preocupe, seu ódio estará guardado comigo.

- Que gentileza. - Senti o sárcasmo em sua voz e me olhou enxugando as mãos. - Eu não vou lavar isso, se é o que me veio pedir.

- Diferente da minha mãe... - Falei a primeira parte mais baixo e a olhei, entrando no lugar dela na frente da pia. - Eu sei lavar o que eu sujo.

Nos olhamos e coincidentemente sorrimos ao mesmo tempo, virando cada um para frente em seguida.

- O lance da sua mãe de me dar roupas.. Posso devolver? Eu tenho certeza que não vou usar quase nada de lá.

- Mas vai usar, pode acreditar.. - Ensaboei os talheres por fim e enxaguei.

Amanhã praticamente começa a nossa rotina, e então Liz irá perceber o sentido daqueles vestidos exagerados.

Continua...

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