5. phoebe muller

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Depois de uma reunião de negócios longa e cansativa, resolvi passar na cafeteria antes de voltar para a minha sala. Não era algo que eu costumava fazer, geralmente pedia pra que a Mabel me trouxesse tudo o que precisava, mas já que eu estava aqui, que mal há?

Entrei na cafeteria e as conversas entre os funcionários tiveram um fim instantâneo e como de costume, todos me encararam com estranheza.

- Parem de olhar pra mim! - ordenei irritada e automaticamente, eles desviaram o olhar.

Andei até me aproximar da máquina de café, havia uma garota em minha frente e ela se virou tão bruscamente que acabou esbarrando e derramado o café quente na minha roupa.

Ergui os braços e apertei os olhos sentindo minha pele queimar. O silêncio se instalou pesado ainda mais no local e nem mesmo as respirações eram ouvidas. Respirei fundo e encarei a garota que me olhava amedrontada.

- Sua idiota! - berrei. - Não olha por onde anda?

- Ah...eu... - gaguejou. Notei o crachá com a palavra "estagiária" na blusa dela.

- Tinha que ser uma incompetente mesmo! A gente abre portas pra que esses pobres coitados aprendam a trabalhar e no final, não sabem nem segurar um café direito! - eu falava num tom alto e agressivo. - Esse vestido custou mais do que você vai ganhar a sua vida inteira! Nem que trabalhe vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, conseguirá  pagar o prejuízo que me deu! Garota imprestável!

- Não precisa tratar a garota dessa forma! - Vinnie se colocou entre mim e ela.

- E quem disse que você podia se meter? - o repreendi.

- A senhorita deveria se acalmar, deve ter se queimado com o café quente e é bom que cuide disso rápido. - falou de forma despreocupada. Era incrível a capacidade dele de me irritar com apenas algumas palavras.

- Sim, me queimei por causa de uma garota estúpida que mais parece ser cega! Agora sai da minha frente e não se mete! - ordenei.

- A senhorita vai ter que me desculpar, mas isso é muito mais do que uma questão de trabalho. Foi apenas um acidente, poderia ter acontecido com qualquer um.

- Está tentando me acalmar, ou me irritar ainda mais, Hacker? - me aproximei o encarando.

- Estou tentando fazer com que a senhorita não seja injusta com uma pessoa que não lhe fez nada demais. - ele disse um pouco baixo, como se quisesse que apenas eu ouvisse.

- Não cometa o erro de me contrariar.

- Longe de mim... só estou sendo justo. - sorriu de lado.

Me afastei com alguns passos sem tirar meus olhos dos dele. Ele parecia se divertir em me ver brava, mas também tentava esconder isso.

- Tem sorte de eu estar de bom humor, garota! Se não, à essa hora, você estaria esfregando o chão dos banheiros com uma escova de dentes! - declarei. Ela abaixou a cabeça constrangida.

- Sinto muito, senhorita Muller. - ouvi ela dizer baixinho.

- Que seja!

Dei as costas e saí apressadamente em direção à minha sala.

- Senhorita Muller, o que aconteceu? - Mabel se espantou ao me ver toda suja de café.

- Uma estagiária burra derrubou café em mim. Ligue pra minha casa e mande a governanta enviar um vestido pelo motorista.

- Qual deles?

- Qualquer um serve. - a forma como estaria vestida não importava, não pretendia sair da minha sala até o horário de ir embora.

Me atirei em minha cadeira e respirei fundo. A forma como Vinnie  falava comigo era um tanto quanto desrespeitosa, pelo menos ao meu ver.

Era o primeiro homem daquela empresa, ou de qualquer outro lugar a ir contra mim na maioria das coisas e de forma tão decidida. Era como se ele estivesse fazendo isso de propósito, só pra ver até onde eu chegaria.

Isso precisava acabar. Eu não ia deixar alguém falar comigo daquela forma. Todos aqui me respeitavam acima de qualquer coisa e isso não ia ser diferente com ele. Eu o colocaria em seu devido lugar.

Em meia hora, o outro vestido chegou e eu me troquei em meu banheiro. Por sorte, não havia tido nenhuma queimadura séria e minha barriga só estava um pouco avermelhada.

Provavelmente, no dia seguinte já teria sumido.

Me olhei no espelho observando o vestido que a governanta havia separado. Era um dos meus favoritos, mas também era um dos vestidos que eu jamais usaria na empresa. Eu o usava aos domingos, quando eu era apenas a Phoebe, uma mulher cujo o sobrenome não fazia a mínima diferença.

Girei fazendo com que a saia rodada dançasse por minhas pernas. Ele era de um azul claro, florido e com um ar suave. Completamente diferente da imagem que eu passava para meus empregados.

- Velha idiota... - murmurei comigo mesma, condenando a escolha da minha governanta.

Voltei aos meus afazeres e fui embora da empresa um pouco mais tarde. Quase todos os funcionários já haviam indo embora, incluindo Mabel.

Indo em direção ao elevador, notei que as portas iam se fechar e apressei o passo. E antes que fechassem, uma mão vinda lá de dentro segurou a porta para mim.

Entrei encarando o rosto de Vinnie que sorriu da maneira mais irritante possível.

Ele apertou o botão do térreo e as portas se fecharam. Ficamos em silêncio por um tempo, até que me incomodei ao notar que ele me olhava de cima a baixo.

- Perdeu alguma coisa? - perguntei grossa.

- Não... é só que... a senhorita ficou bem nesse vestido. - o olhei de canto procurando qualquer rastro em seu rosto que indicasse que ele estava brincando, porém parecia mesmo falar sério.

- Sei. - respondi apenas.

- É muito difícil aceitar um elogio? - riu fraco.

- É muito difícil ficar em silêncio?

- A senhorita tem uma arrogância genuína, sabia? - ironizou e eu o olhei incrédula.

- Qual é o seu problema?

- Meu problema? - franziu a testa e logo depois tornou a rir.

O elevador finalmente se abriu e eu dei graças a Deus em poder me afastar dele. Comecei a andar, mas senti ele me seguir.

- O meu problema é que eu não tenho medo de quem você é. - parei bruscamente. - Eu sei que está acostumada com todos a tratando como se fosse uma rainha impiedosa, mas eu não vou fazer isso. Infelizmente, não serei um desses a satisfazer sua sede de poder a qualquer custo. - virei de frente para ele e o analisei. - Talvez nunca tenha sido tratada como alguém igual aos outros em toda a sua vida, não é mesmo? E isso a incomoda.

- Você não sabe o que diz. - falei apenas.

- Isso é discutível. - enfiou as mãos nos bolsos e desviou o olhar. - E então, se machucou com o café?

- Bem lembrado, Hacker. Tem uma mancha vermelha na minha barriga e eu não vou esquecer isso.

- Não pode fazer mal à garota por um simples acidente. - ficou preocupado.

- Eu posso fazer o que eu quiser. - sorri de lado e dei as costas.

Assim que chegasse em casa, mandaria uma mensagem pra Mabel pra que ela resolvesse a demissão da menina. Eu suportava muitas coisas, até mesmo incompetência. Mas me machucar? Isso jamais.

O motorista abriu a porta do banco de trás para que eu entrasse e antes de meu carro sair, vi Vinnie ainda em frente à empresa me olhando de forma séria.

O encarei de volta com um sorriso sarcástico nos lábios, tornei a olhar para a frente e subi o vidro pra que eu saísse de sua visão.

Parece que a minha forma "injusta" de agir o estava incomodando à ponto de ver que não deveria brincar comigo. Uma hora as pessoas começam a temer, basta mostrar do que sou capaz.

𝗗𝗢𝗡𝗔 𝗗𝗘 𝗠𝗜𝗠 ✗ vinnie hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora