11. phoebe muller

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Não estava nada animada com a idéia de ir à esse baile beneficente, mas prometi a mim mesma que iria dar uma última chance para a minha vida social, se é que ela ainda existia.

Allan chegou com pontualidade e nós seguimos até o local do evento. Respirei pesadamente quando ele parou e eu avistei as dezenas de jornalistas e fotógrafos parados em frente ao local, sedentos por uma entrevista.

- Por que eu aceitei fazer isso? - resmunguei.

- Porque sabe que é bom pra sua imagem, por mais desagradável que seja estar aqui.

Nós saímos do carro e depois de entregar as chaves para o manobrista, ele estendeu o braço pra que eu o enlaçasse ao meu. Relutante, forcei um sorriso enquanto andávamos pelo tapete vermelho cercado por fotógrafos.

Assim que chegamos à entrada do evento, vários microfones foram empurrados na frente do meu rosto e por impulso, eu dei dois passos para trás, me afastando. Allan me olhou com espanto, como se me perguntasse o que diabos eu estava fazendo.

Me recompus e tornei a sorrir como se estar naquele lugar fosse a melhor coisa da minha semana.

- Phoebe Muller, Allan Morgan, que surpresa vê-los chegando juntos! - uma das jornalistas disse. - Contem para o público, estão tendo algum tipo de relacionamento? - e é claro que essa seria a primeira coisa que ela insinuaria.

- Não! - respondi rápida. - Somos apenas amigos.

- Eu e Phoebe já fomos muito próximos um dia e infelizmente, devido à concorrência profissional, deixamos a amizade de lado. Estamos consertando as coisas. - Allan falou. - Agora, se nos derem licença, queremos entrar na festa.

Ele foi na frente abrindo espaço sem largar o meu braço.

Finalmente dentro do local, eu olhei em volta reconhecendo cada rosto presente.

Inevitavelmente, a alta sociedade se conhecia e era falsamente simpática uns com os outros. Ir à eventos, convidar para festas pessoais, sorrir para fotos, cumprimentar com elogios exagerados... eram apenas algumas das várias façanhas em busca de uma boa imagem na mídia.

Eu simplesmente detestava todo esse veneno.

As pessoas me chamavam de megera, cobra e até de diabo, mas aquelas pessoas eram piores do que eu. Porque eram igualmente ou até mais cruéis, porém às escondidas. E não há nada pior do que lidar com uma ameaça que você não conhece.

Eles passavam por mim e me cumprimentavam com um aceno de cabeça e um sorriso no rosto, alguns até paravam pra ressaltar a surpresa por me ver ali.

Eu não conseguia disfarçar a minha acidez e não me preocupava em forçar simpatia.

- Phoebe Muller! - uma das antigas amigas da minha mãe se aproximou. - Está impecável! - sorriu.

- Claro. - respondi sem interesse na conversa.

- Como vai a sua mãe? Faz tempo que não a vejo.

- O fato de ninguém vê-la significa que ela está muito bem. Tem que se preocupar se caso esbarrar com ela por aí de repente. - falei ironicamente.

- Ah... claro. - pareceu constrangida. - Fico feliz que esteja aqui. Creio que vai contribuir com alguma causa, não?

- Talvez uma coisa discreta. - dei de ombros.

- Diferente de todos aqui, me preocupo muito mais em ajudar quem precisa do que me exibir pro mundo. - o pouco sorriso que restava no rosto dela morreu.

- Phoebe, trouxe champanhe pra nós. - Allan apareceu com duas taças em mãos.

- Eu acho melhor deixar vocês à sós. Bom te ver, querida. - ela deu dois tapinhas desconfortáveis em meu ombro e quase pareceu correr pra se afastar de mim.

- A gente pode sentar? Essa falsidade me cansa!

Peguei a taça de champanhe que ele me trouxe e comecei a andar na frente, procurando por um assento. Me confortei em um dos sofás que estavam dispostos perto do bar.

- Você não devia cumprimentar as pessoas? - Allan perguntou.

- Meu único interesse era ser fotografada chegando aqui. Não tenho porquê fingir simpatia com ninguém.

- Não fala com ninguém mesmo. Vai acabar fazendo alguém chorar. - revirei os olhos em resposta. - Melhor eu procurar alguém com mais senso de educação.

- Já vai tarde. - forcei um sorriso.

Continuei observando o vai e vem das pessoas quando meus olhos se prenderam no casal que acabava de entrar.

Meu queixo caiu ao ver que Catarina havia insistido em Vinnie e até levando ele à compromissos importantes. Os dois entraram de mãos dadas e ambos seguravam uma expressão satisfeita no rosto.

Eu sabia que isso ia muito além de ter gostado do Vinnie. Ela com certeza saiu com ele novamente porque sabia que eu me irritaria.

Detestava que meus funcionários tivessem contato com os rivais, ainda mais sendo um contato tão íntimo. Hacker poderia ser deixado levar e dar informações que prejudicariam a empresa.

Os dois se aproximaram assim que me viram. Fiquei prontamente de pé segurando a minha melhor pose de poderosa.

- Não achei que você fosse mesmo vir. - ela disse.

- Não achei que dormiria com o Hacker por mais de uma noite. - alfinetei. Ele franziu a testa e arfou em surpresa.

- Acho melhor você desconstruir o que pensa sobre mim, Phoebe. Quando a gente encontra as pessoas certas, muita coisa muda. - ela falou olhando para ele.

- Sei... Até que ele não te sirva mais. - dei risada.

- Sua mãe não te ensinou a ter controle sobre o que diz? - dessa fez foi Vinnie quem me respondeu. O olhei incrédula enquanto Catarina sorria vitoriosa.

- Se você prefere andar com pessoas falsas, Catarina é perfeita pra você!

- Tratar as pessoas bem não é falsidade, é educação. - ele enlaçou o braço sobre os ombros dela, o que me fez irritar mais. - Você é muito inteligente, chefinha. Mas realmente, gentileza não é o seu forte.

- Gentileza não deixa ninguém rico.

- Tem razão. - ele assentiu. - E já que dinheiro é o mais importante pra você, não interessa quantas pessoas terá que menosprezar, não é? - ironizou. O olhei séria, sem ter o que dizer.

- A gente não tem que perder tempo com ela. Vem, bonitinho. - Catarina saiu o arrastando para falar com outras pessoas.

Como minha taça já estava vazia, eu logo substituí por uma cheia. Tornei a me sentar no sofá até o início das doações.

Vi algumas madames discutirem pra serem as que doariam mais por determinada causa e não segurei minhas risadas. Era divertido ver a forma como se matavam por um pouco de atenção.

Fiz algumas doações para causas animais, que não chamassem tanto foco para mim. O espetáculo de verdade eram as disputas fúteis que os milionários travavam enquanto tentavam reafirmar uma bondade que não existia.

𝗗𝗢𝗡𝗔 𝗗𝗘 𝗠𝗜𝗠 ✗ vinnie hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora