Capítulo 1

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Dar passos é um desafio, você escolhe se quer ou não aprender a andar. Escrever é uma benção e talvez seja a minha maldição, assim como eu continuar vivendo.

~Autora.


Azriel

530 anos antes de tudo...

Sou jogado dentro daquele quarto escuro, sem luz alguma, não enxergava nem mesmo minhas mãos.

Eu soluço, as lágrimas banhando o meu rosto que representava apenas a dor e o desespero.

— Me deixe sair!! Por favor! Me deixe sair! -grito aos soluços, batendo com os punhos contra a porta.

— Você terá direito de sair daí apenas um hora por dia. —a voz da minha madrasta soou— e só verá a sua mãe uma hora por semana.

E então silêncio, eu não a ouvia, seus passos se distanciaram e silêncio recaiu na cela, se não pelos meus ofegares e soluços audiveis.

Não podia gritar, não podia chorar, mas era o que eu mais fazia. Medo do escuro, aquele mendo horrendo me atingiu como um soco e eu gritei de novo, e de novo.

Minhas mãos batiam contra a pirta até que eu me cansasse e a exaustão do desespero me envolvesse.

Eu fui ao chão, às cegas buscando o canto da parede, me arrastando a ela.

Eu me sentei, abraçando os meus joelhos, chorando e soluçando baixo.

— Mamãe. —soluço— mamãe.

As paredes pareciam querer se fechar ao meu redor, tudo parecia diminuir e o meu peito se apertou.

Eu soluço outra vez.

Sinto algo frio tocar a minha nuca, me causando um arrepio, ouço sussurrares, muitos deles como cochichos de velhos sábios.

— Q-quem está aí? -gaguejo trêmulo.

Algo se enrosca em meu pulso e não enxergo nada para identificar o que era aquele toque fantasmagórico em minha pele.

Eu inspiro fundo.

— Quem...

Não tema.

Não tema.

Não tema.

Um coral de sussurros sem gênero ecoou em meus ouvidos, entrando por eles e se fixando em minha mente.

O silêncio é uma virtude, não um castigo.

Eu estremeço.

O silêncio é uma virtude, não um castigo, é uma arma, o silêncio para você será uma lâmina afiada que matará mil a sua esquerda e a sua direita.

Eu soluço baixo novamente.

Desligue isso, a emoção, a desligue para aqueles que não a merecem enxergar.

— Eu não sei como. -soluço.

Desligue, isso.

Seja imbatível, o mais poderoso de sua espécie, seja imparável.

Eu encarei a escuridão e então, ela me encarou de volta.

Não deixe nada o derrubar, montanhas não desmoronam com facilidade, você também não deve.

— Quem são vocês? -eu sussurro.

Silêncio.

— Quem são vocês? -repito baixo.

Silêncio espectral reinou naquela cela.

— Vocês são o silêncio? -sussurro.

Sim. E você o nosso mestre.

Eu deixo lágrimas caírem e aquele vento frio e gelado, aquele toque fantasmagórico as secou.

Não chore, faça-os derramarem lágrimas.

Observo a escuridão novamente, a mesma me encara sem tédio, sem cansaço, sem medo de passar a eternidade ali, me olhando de volta.

Mas o pânico ainda existia em mim e eu não conseguia parar de chorar.

Até que, mesmo sem janelas ou qualquer abertura o vento trouxe um som, uma melodia com sigo.

Eu ergui minha cabeça, os olhos cegos ao escuro, os ouvidos captando aquele som que era... Belo.

Tenho a flecha do cupido
a riqueza é ilusão
e só pode consolar-me
meu marujo alegre e bom.

Eu fungo, aquela voz, doce como mel deslizando em meus ouvidos, banhando minha audição com sua doçura e hipnotizante melodia.

Venham todas belas damas
aqui deste lugar,
que amam um bravo marujo
cruzando o alto mar.

— De.. de onde vem essa música? -sussurro.

Aquele frio espectral se agarra em meu pescoço e ombros levemente.

Um chiar.

Vem do mar. -sussurram.

Estamos muito longe dele. -murmuro, apreciando a melodia.

As sereias conseguem tudo, apenas para afogar um coração. -respondem.

Eu presto atenção.

Tenho a flecha do cupido
a riqueza é ilusão
e só pode consolar-me
meu marujo alegre e bom.

Aquela bela música parou, a música sumiu e eu já não chorava, estava calmo e sereno, não sentia mais medo, o coração havia se aquietado com a canção. E minha mente parará de criar monstros no escuro.

Aquela voz, eu a guardaria no coração.

E creio que ela sozinha o havia afogado nas profundezas.

*Até o próximo capítulo ☄️ deixem seu comentário e seu voto pfvr ☄️*.

Corte De Sombras Que Habitam Em MimOnde histórias criam vida. Descubra agora