Capítulo 3

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Azriel

Estava naquele acampamento, algo que meu pai havia vindo fazer nele e não me disse o que era.

E ao menos eu esperava que ele dissesse.

Meus irmãos me encaravam de forma estranha e duvidosa, então, ouço o sussurro das sombras.

Cuidado, cuidado.

Eu franzo o cenho e sacudo a cabeça, até que um de meus irmãos me agarra pelos ombros e me arrasta até um lugar afastado.

— O que estão fazendo? -vejo um deles se aproximar com uma garrafa, outro com uma tocha.

Pânico e alerta me invadem.

— Apenas testar uma coisa. -disse um deles.

— Como será a resistência de um illyriano contra óleo e fogo? -Jonas surgiu.

Eu estremeço.

— Mas temos que achar um lugar para testar... —seus olhos correm por mim, até pararem em um lugar— estenda as mãos.

— Não. -nego.

— Você vai nos obedecer. -dou golpeado na cabeça.

Eu cambaleio para frente inerte e sou segurado de forma brusca, dois deles segurando os meus braços, abrindo as palmas de minhas mãos.

— Parem. -me debati.

Sinto o líquido de odor forte ser despejado em minhas mãos.

— Vamos testar sua resistência, Azriel. -Jonas sorriu.

Então, ele ateou fogo.

Nada, nada até os meus gritos ecoaram quando senti o fogo correr por minha palma e meus dedos, cobrir as minhas mãos como uma luva flamejante.

Eu gritei, de novo e de novo, gritei e fui ao chão, agonizando, sendo segurado para me manter imóvel e não apagar o fogo.

— Por favor! Por favor parem! -grito.

As lágrimas quentes caem por meu rosto, meus gritos são ensurdecedores e carregados pelo vento.

Eu grito de novo e de novo, me perguntava se sou digno de gritar, me perguntava se eu era digno de pena, nascido das sombras e torturado pela vida.

Essa alma não podia ser digna de nada a não ser de dor, desespero, pânico, vazio e impiedade.

Eu gritei outra vez, os gritos saindo do fundo da minha garganta, os gritos chegando a se tornar tão altos quanto rugidos.

A dor, ela parecia não correr só por fora como também por dentro, e eu sabia que nada mais seria como antes depois disso.

Eu grito outra vez em meio aos soluços.

— Socorro!!

Eles riram, me observando.

— Está resistindo bem. -disse Jonas.

Eu grito de novo, e de novo, a voz chegando a falhar muitas vezes enquanto a dor me corrói e me leva ao vazio.

— O que está havendo aqui??

Meus meio irmãos se alertam e dois guerreiros illyrianos se aproximam às pressas.

Xingamentos.

— O que pensam que estão fazendo!? -vocifera um.

Eu agonizo de dor no chão e um deles corre até mim com água.

— Calma. —ele atira a água aos poucos, tentando apagar o fogo e não aumentar mais— cacete, dê uma lição nestes que ficaram.

Corte De Sombras Que Habitam Em MimOnde histórias criam vida. Descubra agora