Capítulo 2

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Azriel

Quando eu saí daquela cela eu pisquei para a claridade, apenas uma hora fora dali, apenas uma hora fora da cela para não me esquecer como é a luz, apenas isso.

Eu ouço sussurros e encaro minhas mãos, vendo então a fonte daqueles toques gélidos em minha pele.

Filetes de fumaça negra se agarravam em minhas mãos e dançavam em meus ombros, assim como as asas.

Quando minha madrasta pôs os olhos em mim ela me encara com repulsa, já o meu pai com curiosidade sombria. Os olhos azuis frios dele, como gelo.

Nada comparado aos olhos avelã gentis e bondosos de minha mãe, portadores de amor e alegria, carinho.

— Você é um encantador de sombras. -ele diz mais para si mesmo do que para mim.

Meus irmãos me encaram de cima a baixo.

— E o que esse bastardo pode ser com isso? -Jonas questiona.

— Nada. -minha madrasta responde.

Tudo. -aquelas sombras sussurram em meus ouvidos.

Sem me importar com nada nem mesmo com sua presença eu saio de perto deles e vou para o quintal, apreciando o sol em minha pele, as sombras recuaram, se escondendo.

— Não gostam? -sussurro.

Luz demais é chateante. -sussurram.

Eu encaro uma árvore próxima e vou para debaixo de sua sombra, assim as corajosas que se agarravam a mim surgiram de seu esconderijo.

Eu as observo, curioso e sem saber ao certo o que são e como funcionam.

Mas parecia bem que elas tem vontade própria.

— Vocês nasceram ontem? -pergunto.

Risos, muitos deles.

Nós estamos aqui, desde o início dos mundos, e consequentemente estaremos quando ele não existir.

— Então são muito velhas?

Eu pisco e me repreendo mentalmente.

— Desculpem, não é elegante perguntar a idade de damas.. -inclino a cabeça.

Elas riram novamente.

Tão educado e gentil...

— Minha mãe disse que deveria ser sempre assim, cordial, até o fim.

Eu olho para os lados e sussurro para elas.

— Más há vezes em ué a boa conduta não adianta e eu tenho que brigar, não contem para ela. -sussurro.

Prometemos.

Eu suspiro e fito o céu, as nuvens, minhas asas farfalham.

Como seria ter o sabor de voar? Não posso treinar e muito menos aprender a voar, meus meio irmãos sabem.

Pedir ajuda a eles seria como barganhar com demônios e se humilhar muito para isso.

— Mãe! -pulo em seus braços abertos.

A mesma me agarra, me erguendo do chão alguns centímetros, beijando meu rosto e meus cabelos.

— Meu bebê, como você está? -ela pergunta preocupada.

Eu ergo o rosto e toco o seu, observando seus olhos.

— Melhor com você aqui. -sussurro.

Ela sorriu, me erguendo no colo, mesmo que eu protestasse, eu admito que gosto de ela fazer isso comigo.

Corte De Sombras Que Habitam Em MimOnde histórias criam vida. Descubra agora