Na manhã daquele novo dia, Farmiga dirigia rumo ao consultório da Dra. Laura Simons para sua sessão de terapia individual, após ter deixado Georgia e Clara na escola.
A morena estava radiante, tanto por fora, quanto por dentro. Estava se sentindo viva novamente e disposta a dar cento e dez por cento de si para sua família.
Se sentia terrivelmente culpada de diversas formas por não ter conseguido ser forte o suficiente para lidar com a morte da sua filha caçula e ter se distanciado tanto das suas filhas e do seu marido por meses, a ponto de quase ter colocado um ponto final no seu casamento com Wilson, já que ela acreditava ser incapaz de amá-lo novamente na mesma intensidade que o amou por tantos anos de companheirismo e cumplicidade. Vera, por meses, se sentia quebrada demais e acreditava que a solidão seria sua única companhia dali a diante, uma vez que a atriz aceitara por impulso um novo trabalho bem na sua época mais frágil e inconsolável - duas semanas após o falecimento de Alice -, mas que Farmiga acreditava ser o necessário para conseguir se reerguer. Sozinha. As gravações do filme ocorreram em sua maior parte no Canadá, obrigando a mulher a se afastar da sua família. Foram três meses que a mulher se dedicou inteiramente a sua carreira de atriz no Canadá e esse tempo pareceu ter ajudado a mulher a esquecer da realidade, a terrível realidade de que quando retornaria à sua casa jamais ouviria os choros da caçula novamente, jamais pegaria aquela pequena garotinha nos seus braços novamente. As noites frias e solitárias eram terríveis, especialmente após as vídeos chamadas que Farmiga fazia com suas filhas e com Wilson, que sempre diziam o quanto a amavam, o quanto queriam que ela voltasse para casa logo. Após as chamadas, Farmiga só conseguia se sentir culpada por ter decidido por contra própria que o melhor seria se afastar da sua família, jogando nas costas do marido a responsabilidade de ser forte na maior parte do tempo, uma vez que precisaria cuidar de Georgia e Clara. Como ele pode continuar amando-a depois dela te-lo abandonado em um momento tão frágil da família? Ela havia escolhido o trabalho e a solidão. Enquanto Wilson escolhia sua família todos os dias, lutava por ela, lutava por suas filhas, lutava incansavelmente por Vera.
Farmiga deixou algumas lágrimas caírem em seu rosto enquanto as lembranças tomavam conta da sua mente. Ela falhara. Falhara como mãe e como esposa. Porém, depois de semanas de terapia com a Dra. Simons, Vera agora percebia com clareza que amava sua família, suas filhas, incluindo Alice, que sempre estaria com ela - na memória e no coração. Amava seu marido incondicionalmente. Não havia como negar, ainda mais depois de se permitir provar novamente os toques bruscos e carinhosos do seu homem sobre si na noite anterior.
A luta agora seria em encontrar uma forma de se redimir com suas filhas, principalmente com Clara, que parecia estar magoada e até furiosa com a mãe por algo que Vera sabia bem do que se tratava e se culparia pelo resto da sua vida, mesmo que a mulher não tivesse como evitar a cena que Clara acabou presenciando com seus próprios olhos. Era uma situação embaraçosa que Farmiga lutava em esquecer, porém passou a assombrar a atriz como um espírito maligno grudado bem nas suas costas. Sabia que aquilo poderia atingir proporções bem maiores e afetar drasticamente seu casamento com Wilson. Temia tanto por magoar o marido novamente, temia que o homem a odiasse e a desprezasse pelo resto da vida.
...
Patrcik Wilson chegou até o estúdio onde James Wan solicitou que os atores do seu novo filme de terror se encontrassem para que ele pudesse passar os roteiros e alguns direcionamentos. Após a reunião com o elenco, Wilson permaneceu algum tempo sentado em uma poltrona afastada do pessoal com o roteiro nas mãos, fingindo estar intrigado com as palavras ali redigidas, porém seus pensamentos vagavam longe dali. O ator usava um óculos escuro, na tentativa de esconder as olheiras da noite mal dormida.
- Meu amigo, com essa sua animação acho que vou ter que encontrar outro ator para o papel! - Wan disse sarcástico, se aproximando do ator, que, em silêncio, finalmente tirou o óculos escuro da sua face, espondo suas olheiras para o diretor, que diziam que ele havia tido uma noite "daquelas".
- Prometo que não vou te decepcionar, James. Só não estou em um dos meus melhores dias. - Explicou Wilson sincero, deixando o diretor e amigo do ator preocupado.
- Caramba, Patrick! O que houve? - Wan questionou preocupado.
- Acho que estou ficando maluco. - O ator riu cabisbaixo.
- Você e a Vera brigaram de novo? - James puxou uma cadeira, ficando de frente com o ator.
- Não... na verdade acho que finalmente nos entendemos... - Patrick dizia com o cenho franzido quando sentiu o poder daquelas palavras que saíram da sua boca. Wan ficou perplexo com a revelação. Não era para o homem estar dando pulinhos de felicidade pelo set? Mas porque diabos ele estava tão abatido?
- Meu amigo, parece que a Vera te pegou de jeito então! A madrugada toda?! - Wan riu brincalhão deduzindo que a chama da paixão do casal ficou acessa a noite toda, impedindo que o homem dormisse, o que justificaria as olheiras... mas e o mau humor?
- James, a verdade é eu preciso conversar algo com a Vera, mas não sei como fazer isso. Tenho medo de como ela vai reagir, tenho medo de estragar tudo! - Explicou Wilson, cada palavra carregada de mistério.
- Você andou traindo ela, Patrick? - James olhou para os lados para certificar-se de que não havia ninguém por perto, olhando furioso para o ator à sua frente.
- Meu Deus James, é claro que não! - Patrick bufou frustrado pela interpretação do amigo. Era melhor ele providenciar a conversa com a esposa o mais breve possível, aceitando as consequências, caso contrário não conseguiria ter um segundo de paz.
Horas depois
- Oi querido, como foi a reunião? - Vera atendeu a ligação de Patrick, enquanto colocava algumas roupas e pertences pessoais que estavam no seu camarim em uma bolsa. Após a sessão de terapia, a atriz havia ido até o set do seu filme em Nova York à pedido do diretor para esvaziar seu camarim, uma vez que as gravações estavam oficialmente encerradas.
- Oi amor, foi ótima! James está animado com o projeto! - comentou Patrick entusiasmado por ouvir a voz da esposa. - Está no set? Posso te passar aí te pegar para almoçarmos juntos? - questionou.
- Claro, estou mesmo faminta! E quero ouvir mais sobre o roteiro do James! - disse sorrindo.
- Prefiro te entreter com outra coisa hoje, Farmiga. Me espera. - disse com a voz sedutora, desligando a chamada e deixando a mulher sorrindo a toa do outro lado da linha.
O sorriso de Farmiga sumiu quando ouviu duas batidas na porta do seu camarim e a figura de um homem invadindo apressadamente seu espaço antes que ela pudesse dar autorização para entrar.
- Como ousa entrar aqui assim? - Farmiga fuzilou a figura masculina com os olhos, cruzando os braços, enquanto o fitava com medo e desdém.
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Shadow Preachers
FanfictionQuando alguém que você ama se vai, é quase inevitável se perder dentro de si mesmo.