Saturday

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A atriz amassou aquele pequeno pedaço de papel e o guardou disfarçadamente no bolso da calça que vestia, quando, por um vislumbre, notou suas filhas eufóricas adentrando a casa com algumas sacolas de mercado que Patrick havia entregado à elas.

- Você está bem? Está pálida? - Wilson questionou preocupado com a feição de Vera, que parecia ter visto um fantasma.

- Sim, estou, acho que minha pressão caiu, só isso. - Mentiu, levando as duas mãos trêmulas até os bolsos na calça na tentativa de evitar que o ator percebesse os efeitos que aquele bilhete tiveram sobre seu corpo.

- Deve ser a felicidade em me ver. Sei que estou irresistível. - Brincou na tentativa de fazer a mulher rir e aliviar aquele clima no mínimo estranho. Vera o fitou por alguns segundos com o cenho franzido e inevitavelmente riu. Se Patrick tinha algum poder, era o de fazer a mulher rir, por mais bestas e sem graças que suas piadas ou seu ego alto soassem.

- Ainda consigo fazer você rir, viu só? - disse ele esboçando um sorriso sincero para a mulher. A olhou com um olhar repleto de ternura e saudade, o que a fez suspirar fundo, por de certo modo, retribuir o mesmo olhar. Ambos se amavam, ambos estavam morrendo de saudade um do outro, ambos enfrentaram uma das semanas mais tenebrosas de suas vida. A distância física e emocional do casal os fez perceber o quão valiosa e sublime era a relação que eles haviam construído ao longo de vários anos. Dizem que o tempo cura tudo, mas quanto tempo é necessário para perdoar a dor causada pela pessoa que você mais amou na vida? Farmiga tentava encontrar a resposta dentro daqueles olhos azuis esverdeados do homem a sua frente.

- Pai, vem logo! - Clara gritou da cozinha, fazendo Vera e Patrick finalmente adentrarem na casa.

- O que é isso? - Farmiga questionou assim que viu as meninas colocando pratos e talheres na mesa de jantar.

- Papai vai fazer o almoço. - disse Georgia animada.

- Almoço? - Vera questionou caindo em si sobre o que tinha nas sacolas de mercado. - Ah não Pat-, querido, não precisa. Já almoçamos. - Vera deu de ombros, afinal, já havia esquentado as sobras da janta do dia anterior para ela e as meninas antes de Patrick chegar.

- Mas mãe, nem comemos direito e ele vai fazer torta de frango! - Clara exclamou, expressando seu descontentamento com o que havia almoçado. A atriz sabia o quanto as meninas amavam torta de frango, o quanto elas faziam a festa quando era o pai que estava no comando da cozinha e, acima de tudo, o quanto Patrick era bom cozinheiro.

- Acho que alguém não está satisfeita. - Patrick esboçou um sorriso largo para Clara e em seguida, fitou Vera, que estreitou o olhar para o homem, fuzilando-o enquanto cruzava os braços. Estaria ele insinuando que ela não alimentava as filhas direito?

- E... e além do mais eu preciso comer, certo? Então vamos lá, filhas! - Patrick e as meninas foram em direção a cozinha, deixando Vera paralisada e furiosa.

...

- Mãe, você precisa experimentar isso! Está muito bom! - Clara disse animada, colocando mais uma garfada da torta de frango na boca.

Enquanto Clara, Georgia e Patrick desfrutavam a deliciosa torta de frango que havia saído do forno a alguns minutos na mesa de jantar, Vera terminava de lavar a louça do café da manhã. Estava visivelmente irritada. Mas com o que? Com Patrick se dispondo a mimar as filhas fazendo o prato favorito delas? Por que diabos ela se negou tanto a experimentar a maldita torta de frango feita pelo homem? Por pura teimosia? Talvez.

- Obrigada querida, não estou com fome. - Respondeu a mulher em alto e claro tom.

- Ei, ei, não comam tudo. Vamos deixar um pedaço para a mamãe comer depois, okay? - Patrick disse para as filhas, observando Clara cortando outro pedaço em questão de minutos. Certamente aquela torta não duraria por muito mais tempo.

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