Kookie + Milk | JinKook

I

A cabeça de Kim Seokjin parecia estar prestes a explodir.

Não é de hoje que o rapaz sabia que ser criado por pais narcisistas era a causa de muitos dos seus traumas de infância. As inúmeras memórias péssimas com os seus progenitores não saiam da sua cabeça e foi preciso muita terapia para que parasse de se sentir um merda, porém ainda estava em sua jornada para descobrir quem ele era de verdade.

O passo mais importante nesse processo foi deixar a casa dos seus pais, contudo era quase impossível fugir da presença esmagadora dos dois. Por insistência do pai, fez faculdade de Administração para seguir os seus passos e herdar a empresa de seu bisavô, mas se Jin acreditou que esse seria o fim dos seus problemas com o pai, ele estava enganado. Todo dia ele era comparado com alguém, geralmente com a intenção de diminuí-lo e, para deixar tudo pior, era sempre na presença de outras figuras que ocupavam cargos importantes na empresa.

Ele não aguentava mais ser ridicularizado no trabalho.

O pior foi quando tentou arrumar uma vaga em outra empresa. Assim que seu pai descobriu, fez questão de inventar inúmeras mentiras sobre o desempenho do próprio filho a ponto do recrutador cancelar a entrevista com Seokjin e colocar seu currículo na pilha dos candidatos rejeitados. Então, na frente de todos os funcionários, fez questão de humilhar o filho e o lembrou que se ele tinha um emprego, nunca foi graças ao seu talento - o qual o homem fazia questão de frisar que ele não tinha nenhum -, mas só pelo fato de ser o seu filho.

Naquele dia, enquanto Jin chorava e vomitava pela terceira vez de nervoso, sua gastrite nervosa judiava ainda mais do seu próprio estômago, que não conseguia nem segurar um pouco d'água dentro de si, ainda teve que lidar com a ligação da sua mãe. E ela estava enfurecida! Gritava como ele era a vergonha da família, que ele não merecia carregar o sobrenome Kim já que estava disposto a trair a sua família daquela forma... Era possível ouvir uma segunda voz aos berros com a mulher no fundo da ligação, mas Jin estava focado em lembrar de inspirar e expirar para não desmaiar sozinho e nu no banheiro do seu apartamento.

Por sorte, ele era uma pessoa cautelosa. Nunca foi de gastar o seu dinheiro de maneira imprudente, nem mesmo quando era adolescente. Tudo isso porque seus pais quase nunca gastavam dinheiro com o jovem, então, assim que Jin conseguiu seu primeiro trabalho de meio período quando estava na escola, juntava quase todo o dinheiro e sofria ainda mais pressão para que suas notas não caíssem, afinal ele não podia destoar da imagem de família perfeita e precisava ser aceito nas faculdades mais prestigiadas da Coréia do Sul.

Esse hábito não mudou durante a vida adulta, pelo contrário. Nos seus primeiros meses morando sozinho, Jin anotava cada gasto seu em um caderno para manter um controle total das suas finanças. Para muitos isso pode até soar obsessivo, mas Seokjin lembrava que sua mãe só lhe dava atenção e novas roupas quando percebia que os filhos das suas amigas exibiam por aí seus novos pertences e Jin não podia fazer o mesmo, já que era negligenciado pela progenitora. Ou quando ela brigava injustamente com ele e, em vez de pedir desculpas, o enchia de presentes por um dia para tirar o peso da consciência.

Mas, na maior parte do tempo, Seokjin sentia que era indesejado em sua própria casa, um objeto que destoa da decoração brega da casa dos Kim.

Só existia uma pessoa nesse mundo que compreendia e amava Jin incondicionalmente e essa pessoa era a sua avó materna. O menino nunca entendeu como uma pessoa tão amorosa e generosa foi capaz de criar uma pessoa sem coração como sua mãe, mas então ele lembrava como sua mãe era mentirosa e manipuladora e talvez a sua avó só tenha percebido o monstro que sua filha era quando já era tarde demais.

Ele só tinha contato com sua avó materna uma vez por ano, durante as suas férias de verão no meio do ano, diferente da velha amarga paterna que Jin se recusava chamar de avó desde a infância. Ir para a fazenda e ter a chance de cuidar dos poucos animais que ela tinha era incrível, mas a sua parte favorita era cuidar do pomar. Havia uma estufa com uma plantação de morangos, a paixão da sua avó por ser um projeto o qual ela deu início anos atrás com o grande amor da sua vida e, após a morte de seu avô, ela decidiu modernizar só aquela parte da fazenda para ter certeza que todos os anos teria a sua pequena colheita de morangos para lembrar-se do amor da sua vida.