Kookie + Milk | JinKook

III

Seokjin acordou do seu cochilo e, por sorte, a casa ainda estava imersa em um silêncio gostoso. Não era como a falta de som que o sufocava em Seul, capaz de fazer com que as vozes em sua cabeça falassem tão alto, ao ponto dele achar que estava prestes a enlouquecer. Pelo contrário, era uma quietude que transmitia a paz que só aquela casa podia oferecer ao jovem Kim, a calmaria que o acolhia e trazia o equilíbrio que ele precisava em sua vida.

Olhou para o lado e viu a pequena fada tão relaxada, entregue a um sono que pode ter sido causado pelo grande baque de emoções que Jungkook sofreu naquela manhã. Imaginou que também poderia ser efeito dos ingredientes tão diferentes que o pequenino devorou em questão de segundos, pois com certeza açúcar refinado, manteiga e farinha branca não estavam à sua disposição no meio da natureza, então talvez seu corpo estivesse ainda reagindo àquela novidade a qual o fada se expôs.

Decidiu então deixar Jungkook descansar mais um pouco e voltou até a cozinha para se certificar que não havia deixado para trás nenhum resquício da presença da fada por ali, além de guardar a torta para que seu cheiro doce não atraísse insetos. Mas, enquanto estava na cozinha, imaginou o que poderia fazer para que o ser mágico que dormia em seu quarto pudesse comer sem se intoxicar. Por sorte, ele estava em uma fazenda e sua avó gostava de plantar legumes e vegetais orgânicos, o que já impediria que o fada passasse mal por causa de agrotóxicos.

Com a desculpa de que faria uma salada bem colorida para o almoço, começou a lavar bem as verduras e legumes para ter certeza que não havia nenhuma terra ou larva nas folhas antes de ralar tanto a cenoura e a beterraba bem fina, pois queria deixá-las mais in natura o possível. Talvez desse jeito, Jungkook não dormiria com a sensação de que seu pequeno corpo estava tão pesado quanto agora.

"...dormir?", Jin ficou alarmado com o rumo dos seus pensamentos. Jungkook realmente passaria a noite na sua casa? Em seu quarto? Como ele seria capaz esconder uma fada? De onde surgiu essa fada?

E, sem que pudesse se controlar, Seokjin começou a rir.

Riu até que seus olhos marejassem com lágrimas de nervoso e um pouco de desespero, até por que quem seria capaz de ouvir aquela história sem cogitar que o Kim havia enlouquecido?

Parou de rir quando não conseguia mais encher seus pulmões de ar e percebeu que já era hora de se recompor.

— Jin, você está louco. — O rapaz começou a falar consigo mesmo em voz alta. — Não bastava o costume de falar sozinho, na terceira pessoa e em voz alta, agora você vai abrigar uma fada. — Começou a balançar a cabeça em negativa e bufou descrente com os rumos que sua vida tomaram. — Eu sabia que a minha cabeça 'tava bem fudida, mas... uma fada. — Mais uma pausa, porém agora Seokjin suspirou desanimado. — Que merda, Jin. Toma vergonha na cara.

Apesar de praticamente discutir consigo mesmo em sua mente, o rapaz continuou seu plano de preparar uma refeição bem natural a qual pudesse servir Jungkook, caso o fada acordasse com fome. Havia também fatias de melancia na geladeira que estavam docinhas, então serviria perfeitamente para um suco tanto para ele e os humanos da casa, como para o serzinho que dormia pesado no andar de cima.

Seokjin só não contava com o fato que Jungkook despertou assim que o humano saiu do quarto. De repente, toda a paz que o fada sentia se esvaiu e ele abriu os olhos assustado, o que piorou nos primeiros minutos ao se ver sozinho em um ambiente diferente. Apesar de confortável, sentia-se intimidado por estar em um cômodo diferente do único o qual ele tinha visto antes e o humano não estava ali ao seu lado. Mesmo adormecido, Jungkook podia sentir a energia que Seokjin emanava e aquele local parecia frio sem a presença do humano ali.

E aquele frio incomodou a fadinha.

Jungkook ficou de pé sobre o travesseiro o qual Seokjin o deitou e esticou os seus braços antes de encarar a janela para tentar descobrir as horas através da posição do sol. Já havia passado do ponto mais alto, ou seja, já era de tarde e ele poderia contar com só mais algumas horas daquela fonte tão abundante de luz natural. Fechou os olhos e respirou fundo conforme abria suas asas com a intenção de voar um pouco por aquele ambiente, mas foi quando ele percebeu que o cheiro do humano estava em todos os cantos daquele cômodo.