Warm Me 》Satzu.

Pudim de chocolate

— Ok, então quer dizer que você se sente péssima porque… — Sana gesticulava com as mãos enquanto mantinha um palito de cenoura em seus dedos.

— Porque pensei que eu e Jihyo éramos amigas, amigas próximas ao ponto de chegar na outra e contar tudo. — respondi enquanto mexia na ponta da toalha que me cobria os ombros. —Quem menos a julgaria seria eu.

— Talvez ela só não estivesse pronta para falar abertamente.

Dei de ombros, ela pronta ou não, o que custava vir até mim e falar sobre tais sentimentos? Tudo bem que ela ficou fora da cidade durante as férias mas, celulares e mensagens de texto existem e ela sabe muito bem como usar.

— Olha, tenho quase certeza que tudo isso é só um grande mal entendido. Você já falou com ela?

— Ainda não.

— Então. — falou a japonesa enquanto tratava de mordiscar o palito de cenoura em seus dedos.

— Mas eu não preciso… se ela quiser contar algo, que venha até mim.

Findei a conversa ali, sem nem ao menos ter a certeza de que eu queria mesmo terminar aquela conversa. Ficamos um bom tempo no silêncio.

Sana balançava os pés freneticamente ao meu lado enquanto comia o que havia trazido de casa, ela disse ser boa em fazer sua comida favorita então sempre que poderia, iria levar para a escola.

Eu queria saber cozinhar bem, já me peguei várias vezes sonhando em ser uma ótima confeiteira como minha avó, porém eu era um desastre. Já fui capaz de queimar miojo e após esse ocorrido, nunca mais dei as caras a uma panela no fogão.

— Então, eu demorei porque a fila estava e-nor-me. Mas não se preocupa, os pudins ainda estão geladinhos. —falou Momo caminhando até ali com potinhos nas mãos com um sorrisinho pequeno nos lábios antes de ver que eu estava acompanhada. A mais velha desfez o sorriso vagarosamente como se o brilho tivesse sumido naquele momento. — Desculpa pela intromissão, eu não sabia…

— Relaxa, vem pra cá, besta. —disse movimentando minha mão com gestos desordenados.

Momo caminhou então até bem perto de mim para entregar o pote com pudim e uma colher de plástico, provavelmente nada fácil de conseguir com a galera da cozinha.

— Momori, essa é a Sana, Sana, essa é a Momo. — apresentei-as com um sorriso nos lábios.

— Oi.

— Oi.

Foi isso, isso foi tudo que foi dito durante uns dez minutos antes de dar o horário pra voltarmos para a sala. Um clima totalmente tenso reinou sobre nós três e eu estava começando a ficar desconfortável com a falta de comunicação entre elas, até mesmo quando voltávamos para nossos devidos lugares na classe, os olhares intrigantes continuaram entre ambas e tudo que eu queria era findar aquilo mesmo que eu tivesse que jogar uma por uma da janela.

💥

Podia até ter aguentado as duas primeiras aulas sem ir ao bebedouro e ter ficado meia hora de intervalo num frio lazarento, mas, ter de ficar a terceira aula toda sem sequer encostar numa gota de água, era demais até pra mim.

Após ter a autorização da professora de Gramática, finalmente saí o mais rápido que pude em direção a primeira fonte de água que aparecesse em minha frente e ainda bem que foi mesmo o bebedouro e não um balde com água e desinfetante das "tias da limpeza".

Enquanto degustava da minha boa e saudável água, pude escutar um estalo. Não um estalo qualquer, um estalo de beijo, um beijo muito estranho e barulhento por sinal.

Céus, não se pode mais beber água sem que os outros te lembrem que você é uma encalhada.

— Vamos voltar para a aula antes que a professora note nossa demora. — a voz de Jihyo dançou pelos arredores daquele corredor semi-vazio e um arrepio correu por todo o meu corpo.

Eu deveria ter tomado um gole de água bem rápido e voltar correndo para a minha sala, mas eu tinha que ser curiosa e Maria fifi, tinha que ser.

Dei meia volta mesmo que eu ainda estivesse com muita sede e rumei para a minha sala novamente, no intuito apenas de que todo aquele dia chegasse logo ao fim.