Paper ball

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O frio se fazia presente. As palavras de Sana circulavam em minha mente como uma espiral sem fim. Sabia o que queria em troca, só não sabia como falar aquilo sem sair estranho, sem soar que eu estava afim da minha mais nova unnie. Só queria abraços em troca, apenas isso, eles me deixavam confortável e temporariamente quentinha, era algo que jamais havia sentido.

Crispei os lábios e juntei forças para respondê-la, já que a mesma já esperava ansiosa com seus dedos sujos de glacê.

-- Abraços. Gosto dos seus abraços quentinhos. — disse já querendo recuar, me arrependendo de cada palavra que dissera.

-- Ah, só isso? Ok, Olaf. — ela respondeu com um sorrisinho esboçado em seus lábios enquanto limpava seus dedos em um guardanapo que por pura sorte havia trazido consigo.

Na hora entendi a referência à Olaf, o boneco de neve do desenho animado "Frozen" que ao se apresentar falava: Eu sou Olaf gosto de abraços quentinhos.

Me senti uma boba por ter falado aquilo, tudo que eu queria naquele momento era ter uma capa de invisibilidade igual ao do Harry Potter ou que existisse mesmo uma poção que me deixasse invisível naquele momento.

Ao viajar em meus pensamentos, nem fui capaz de perceber Sana se aproximar de mim, sorrindo gentilmente. Olhei para ela, confusa com a situação e tudo que a mesma fez foi me abraçar de modo que sua inspiração quente entrasse em contato com a minha tez. Por um momento fiquei totalmente estática, sem reação alguma para a ação da mais velha.

-- Sabe Tzu, eu também gosto dos seus abraços, mesmo que sejam frios. — a garota cochichou rente ao meu ouvido, fazendo meu corpo arrepiar e em minha cabeça passar várias coisas erradas.

Mordi meu lábio e apenas retribui o abraço dela, fazendo os meus pensamentos impróprios voarem para longe.

Seus braços estavam em volta do meu pescoço e os meus em sua cintura. Quem nos visse assim pensaria que éramos um daqueles casais clichês de filmes antigos que faziam piqueniques na grama e ao ar livre, mas nada disso era real, éramos apenas amigas.


⋆⋆⋆


A sala estava uma total bagunça, não com cadeiras e mesa reviradas, mas sim com gritaria, bolinhas de papéis e aviõezinhos sendo arremessados e conversas ecoando pelo local. Aquilo estava uma zona.

Andei até o meu devido lugar e sentei, na esperança de tirar pelo menos um cochilo, o que não pude fazer pois após alguns segundos, uma bolinha de papel foi arremessada em mim, fazendo com que eu me levantasse aos poucos.

O silêncio pairou sobre a nossa classe. Era evidente que todos haviam visto e estavam com medo, afinal, já sabiam que eu poderia ser a pessoa mais amorzinho do mundo, mas, quando atrapalhavam o meu sono, era Deus no céu e Chou Tzuyu na terra.

-- Q-Quem foi? — uma garota sussurrou para a outra, com um timbre nervoso.

Por que tinham medo de mim? Não sabia ao certo, nunca fiz nada com ninguém, se bem que várias vezes já havia cogitado a ideia de bater em alguém daquela sala. Eles tinham medo de mim por conta das minhas atitudes frias, era isso que eu pensava.

Levantei e joguei a bolinha no lixo, fazendo todos olharem pra mim.

-- Fui eu Tzu, calma. — a voz de Momo se fez presente para quebrar todo aquele silêncio.

-- Estou perfeitamente calma.

Voltei para a minha cadeira, dessa vez com a postura erguida. Em cerca de minutos a bagunça voltou a acontecer e eu me perguntava onde diabos estava a senhora Yoo.

-- Por que têm tanto medo de você? — Sana, que estava ao meu lado, perguntou receosa.

-- Não faço a menor ideia.

-- Você não dá medo, parece uma bebê. — a mais velha disse e aos poucos ficou com as bochechas vermelhas.

Ri baixo.

-- Você acha??

Ela assentiu com a cabeça e sorriu, fazendo um sorriso bobo aparecer automaticamente em meus lábios.

Quando Sana estava pronta para falar, uma bolinha de papel atingiu-lhe a cabeça, fazendo a mesma recuar em suas palavras, ela estava envergonhada. A mais velha estava tão fofa e sua atitude de criança mexia com o meu psicológico. Ela crispou os lábios, deixando seu olhar abaixar até seus sapatos.

-- Quem foi?! — perguntei com o tom de voz elevado e me levantei bruscamente, trazendo o silêncio à tona novamente. As pessoas me olhavam com certo "pavor" e eu não ligava, tudo que eu queria naquele momento era punir a pessoa que havia jogado aquilo em Sana que aparentemente ficou desconfortável.

-- Tzu, não precisa...

-- Fui eu! — Momo mais uma vez respondeu. Dessa vez ela me olhava com certa revolta e pairava o olhar matador em Sana que revidava. -- Desculpe atrapalhar o momentinho do casal!

-- Nós não somos um casal! O que te faz pensar isso?! Só porque a fiz rir?

Momo, com o nariz empinado e aparentemente sem respostas para a pergunta de Sana, apenas revirou o olhar e sentou bruscamente na sua cadeira, cruzando os braços, vermelha de raiva. Ela nunca agira assim, nem mesmo quando brigávamos então por quê? Por que estava agindo daquele jeito?

Desde o começo da nossa amizade Momo sempre fora engraçada, fofa e nada temperamental e aquela sua mudança de humor me deixava totalmente confusa.

-- Tzu? — a voz de Sana soou preocupada.

-- Sim, unnie?

-- Não fique irritada com isso. — ela disse com seu timbre calmo e sorriso sereno, fazendo com que toda a raiva que ainda me restava, fosse para longe.

Assenti com a cabeça. Não iria brigar com Momo naquele lugar e nem naquele momento, mesmo que eu estivesse bastante decepcionada com sua atitude, eu não faria aquilo, já bastava o meu terrível histórico na classe. Sentei-me na cadeira, sem tirar meu olhar de Momo que obviamente olhava para Sana como se fosse matá-la e eu estava pronta para atacar se ela ao menos triscasse ou até mesmo direcionasse uma palavra à Sana.

Não sabia que sentimento era esse, mas apenas queria proteger minha unnie.

-- Hey saeng, podemos começar o trabalho hoje! Você pode ir na minha casa à tarde! — as palavras da japonesa tiraram-me de meus devaneios e me fizeram sorrir. Ok, tenho que admitir, estava ansiosa para passar a tarde com ela.

-- Ou pode ser na minha casa, só eu e minha halmeoni vivemos nela... então não iremos ser atrapalhadas já que ela vive fazendo bolos na cozinha.

-- Ah, ok! Então estarei na sua casa às 14:00.

Meu coração quase saltou para fora.

Warm Me 》Satzu. Onde histórias criam vida. Descubra agora