Capítulo 02

771 109 26
                                    

P.O.V. Isadora

Minha mãe está completamente fora de si, e honestamente temo pela minha integridade física. Independente da minha idade, ela é minha mãe e acha que tem o direito de nos bater de cinta até hoje.

— Fala, Dorinha! Fala o nome do desgraçado que te abusou!

— Calma, deixa eu ver se eu entendi. Vocês estão achando que eu fui estuprada? — Pergunto em choque para a enfermeira e minha mãe, que confirmam com a cabeça.

— Estávamos esperando você acordar para nos dizer quem foi o maldito que...

— Mãe, eu quis!

— O quê? — Ela pergunta horrorizada e engulo em seco já imaginando o tamanho da tempestade que está chegando.

— Isso mesmo que a Senhora ouviu. Pra falar a verdade, eu nem sei o nome do rapaz. Nos conhecemos na quadra, ele me ajudou quando passei mal, nós ficamos e eu deixei acontecer. Depois me perguntou onde eu morava e se ofereceu para me levar em casa.

— E como você foi parar no meio da rua, jogada?

— Não sei, Enfermeira. Depois que aceitei uma bala e um copo de cerveja que ele me deu, apaguei.

— Meu Deus, Isadora! Cala a sua boca! O que as pessoas vão pensar? — Minha mãe grita e se aproxima da maca com um olhar mortal. — Você foi estuprada, está me entendendo?

— Claro que não, foi consentido, tenho certeza e... — Me calo após o tapa doloroso que é desferido em meu rosto.

— Eu não aceito isso! Não aceito!

Escuto boquiaberta as palavras da minha mãe e a enfermeira parece tão chocada quanto eu.

— Mãe, você deveria estar aliviada! Estupro é coisa séria e pode acabar com a vida de uma mulher e...

— CALA A BOCAAA! Eu mandando você calar a maldita boca, Isadora! — Meu Deus, ela está transtornada! — Eu já pedi o pastor para orar por você e seu nome será elevado no culto de hoje, para que Jesus purifique sua alma e... e quem sabe coloque algum bom rapaz na sua vida que não se importe que você não seja mais pura e...

O momento é péssimo, porém não consigo me controlar e solto uma gargalhada estrondosa, fazendo-a se calar. Minha irmã fica com os olhos arregalados, afinal ela sabe o quanto é perigoso desrespeitar nossa mãe.

— Tá rindo do quê?

— Mãe, eu não vou mentir para tentar salvar uma imagem que não me ajuda em nada. Quer saber de uma coisa? Eu cansei.

— Cansou de quê?

— Cansei de seguir a sua cartilha. Não pedi para nascer, muito menos concordo com as coisas que acontecem naquela igreja. Sinto muito, mas não dá mais. Eu sou uma mulher adulta, capaz por maturidade e pela lei de tomar minhas próprias decisões!

Dona Luzia parece que vai ter um treco a qualquer momento, e até a enfermeira fica preocupada com ela. Depois de fechar os olhos com força e balbuciar coisas sem nexo, volta a me encarar.

— Já que é assim, dona da razão, use toda a sua maturidade para se virar sozinha a partir de agora. Na minha casa você não entra!

Sabe o lado bom de ser filha de alguém preocupada com imagem e com o que os outros vão pensar? Eles fazem tudo para manter as aparências, e esse é meu trunfo.

Dou um sorriso sacana e Bela arqueia as sobrancelhas sabendo que lá vem bomba.

— Sério? E como a Senhora vai explicar para a Igreja que sua filha foi expulsa de casa após ser abusada? Onde está o amor cristão que a Senhora tanto prega?

Descobertas (Degustação - disponível na AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora