Capítulo 10

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P.O.V. Isadora

Será que se eu jogar na loteria eu ganho?

— Parabéns, Mamãe, é uma menina! — A médica fala sorridente e tenho vontade de chorar, e não é de emoção.

— Obrigada. — Respondo seca e a pobre mulher fica sem graça. — Desculpe não estar empolgada, é que as coisas não serão fáceis com mais um filho.

— Entendo. Acontece com mais frequência do que se imagina.

Terminamos a consulta e ela me passa a lista de medicamentos que já conheço. Pego o resultado do ultrassom e guardo na bolsa enquanto ando pelo corredor do hospital. Meu celular vibra e atendo o pai da minha filha.

— Oi, Júlio.

— Oi, Isa. E aí, como foi? Deu pra ver?

— Deu sim. Teremos uma menina.

— Sério? Ah meu Deus, eu vou sofrer um negócio! Uma menina? Pai eterno, preciso de uma arma! Não vou deixar marmanjo chegar perto da minha princesa e...

— Calma! A menina nem nasceu ainda!

— Mas eu preciso pensar nessas coisas!

Sério que eu fui arrumar uma filha com um sujeito extremamente ansioso? Ele me manda mensagem todo dia, perguntando zilhões de coisas e tentou a todo custo me convencer a me mudar para a cidade onde está morando no interior de Minas.

É tentador, porém não posso largar minha família para trás, ainda mais agora que precisarei da minha mãe e irmã de novo para me ajudarem com o novo bebê.

— Deixa de ser ansioso, uma coisa de cada vez.

— Você acaba com meu coração, sabia? Estou quase pedindo demissão e voltando para São Paulo e...

— Nem pensar! Seu emprego é ótimo e o plano de saúde melhor ainda, vai ajudar bastante nos primeiros anos de vida da Maria Júlia.

Conversamos mais um pouco e ele avisa que combinou com o chefe que tirará as férias quando nossa filha nascer para acompanhar os primeiros dias da pequena.

Já que era para ter outro filho, pelo menos o destino foi generoso comigo e colocou mais um cara legal na história. Pena que foram apenas umas ficadas sem compromisso que esquentaram demais e numa delas esquecemos da camisinha.

Você deve estar pensando: porque essa criatura não toma anticoncepcional?

A resposta é: todos me fazem mal, e engravidei no período que meu nome estava na fila do serviço público para colocar DIU. Aliás, até hoje nem sinal de sair a vaga.

Ah, mas isso não é desculpa. Não mesmo, foi burrice minha e uma péssima escolha encher a cara de cerveja sabendo que fico com ainda mais libido quando bebo. Enfim, fiz besteira e a besteirinha nascerá daqui alguns meses.

Não preciso nem falar a treta que deu com minha mãe. Só não foi pior porque aparentemente ela desistiu de mim. Dona Luzia falou que nem vai colocar mais meu nome em oração, apenas as pobres almas que coloco no mundo. Pegou pesado, Mãe.

Enfim chego em casa e passo um tempo olhando para a beliche que divido com o Juan. Não vai ter jeito, precisamos de um barraco maior.

Conversei com o Júlio a respeito e ele dará uma pensão boa para a nossa Maju, o que vai ajudar com as contas e com isso consigo pagar um lugar um pouco maior. Ainda bem que ele recebe um bom salário e é homem para assumir a filha.

Quando suspeitei da gravidez ele havia acabado de ser transferido. Propus aguardar o nascimento para fazermos o DNA, porém o homem ficou eufórico e disse que sempre quis ser pai. Me perguntou se eu tinha certeza e quando disse que sim, ele confiou em minha honestidade.

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