Capítulo 09

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2009

P.O.V. Beatriz

Minha psicóloga diz que às vezes o meu raciocínio é mais rápido que as resposta do meu corpo, por isso sou estabanada. Já a terapeuta ocupacional afirma que a causa de tantos desastres é o fato de ter nascido canhota e condicionada a ser destra por minha mãe. É como se meu cérebro se confundisse.

Sei lá qual das duas está certa, a única coisa que sei é que com o tempo passei a conhecer meus limites e aprendi lições valiosas...

Não bebo nada enquanto estudo. Refiz um trabalho manual de quatorze páginas após entornar o leite com achocolatado logo que escrevi a última linha da primeira versão.

Não uso saltos muito altos depois de torcer o pé esquerdo quatro vezes no ano passado. Ah, e sempre coloco as mãos no assento das cadeiras para evitar quedas por sentar-me muito na beirada ou errar a mira e passar direto para o chão. Eu sei, parece impossível porém eu consegui fazer isso algumas vezes.

Desisti de tentar identificar todos os hematomas que aparecem no meu corpo. As quinas dos móveis e até algumas paredes me atraem.

Quando eu tiver minha casa, terei uma coleção de xícaras e copos diferentes. Kits completos não duram muito tempo comigo por perto.

— Vamos, Bia!

— Estou indo!

Saio do quarto com as mãos geladas. Estou indo com a Sam para o prédio do cursinho para sabermos os nossos resultados no vestibular, conforme combinado com colegas do preparatório.

Samantha perdeu dois anos, sendo um por ser reprovado no ensino médio e outro por não conseguir passar de primeira no vestibular. Com isso, ela fez a prova pelo segundo ano seguido e eu fiz assim que me formei. Se tudo der certo, estudaremos na mesma turma de direito da USP, a melhor do país.

Chegamos ao prédio e a ansiedade é palpável. Andamos em silêncio até o local dos resultados e vemos as mais diversas reações.

Nós poderíamos ter acessado o resultado em casa, porém a turma preferiu se reunir para comemorar e consolar.

— Ai, Sam, olha você. Tenho medo de desmaiar de aflição.

— Deixa de ser molenga, Bia.

— Por favor!

Aff, ok.

Minha amiga entra no meio dos outros estudantes e procura pelas listas de aprovados em direito. Quem diria que a Sam mudaria tanto depois da confusão que aconteceu quando a madrinha abriu sua mochila? Foi horrível, porém, ao mesmo tempo, a melhor coisa que poderia ter acontecido.

Até hoje me pergunto o que aconteceria se os pais não tivessem descoberto os segredos da Samantha. Talvez ela em estaria entre nós mais. Credo, que pensamento horrível!

Tão horrível quanto a cara que ela está fazendo nesse momento enquanto vem em minha direção.

— Não deu? — Pergunto quase chorando e ela abaixa a cabeça. — Ah... eu jurava que...

Do nada a maluca me abraça com força e me tira do chão.

— Nós conseguimos! Nós passamos, Bia!

— Sério? — Pergunto começando a chorar e sou colocada no chão por uma Samantha eufórica.

Siiiimmm! Passamos, porraaaaaaaa! — Ela grita a plenos pulmões e vários colegas nos cumprimentam.

Aproveitamos a tarde comemorando e chegamos em casa com as roupas, cabelos e rostos cobertos de tinta, batom e farinha. Foi quase uma hora para conseguir tirar tudo.

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