P.O.V. Isadora
— Alô? — Atendo o celular ainda meio grogue de sono. Não devia ter chegado tão tarde ontem.
— Alô! Isadora dos Santos?
— Sim!
— Meu nome é Cristiane, sou do RH da Conservation, a empresa que você deixou um currículo... — Meu Deus!
— Sim, sim! — Respondo rápido e interrompendo a moça.
— Estou ligando para informar que temos uma vaga aberta para "ferista", e gostaria de saber se você tem interesse em participar da entrevista.
— Sim! Tenho sim! Confesso que não sei do que se trata, porém de toda forma tenho interesse.
— Não se preocupe, não é complicado. Durante o processo seletivo será tudo explicadinho.
A mulher me dá algumas instruções e avisa que tenho que estar no escritório da empresa amanhã cedinho. Tento me fazer de controlada por telefone, porém minha vontade é gritar de alegria.
Assim que desligo, satisfaço minha vontade e saio gritando pelo barraco totalmente empolgada, até que minha ficha cai. Não tenho roupa para ir!
E é literal!
Num curso sobre comportamento em seleções que fiz numa das ONG's, fomos ensinados sobre a importância de se vestir adequadamente para a entrevista, pois algumas empresas discretamente excluem candidatos antes mesmo da pessoa abrir a boca.
O professor disse que não é preciso ir chique, porém uma roupa comportada, limpa e mais simples conta muito. E é aí que está o problema...
Minhas roupas são velhas, e as poucas peças novas que tenho são decotadas demais, brilhantes demais, ou curtas demais. Bem que minha mãe me xingou quando viu, dizendo que eu deveria usar roupas mais comportadas.
Merda! Odeio quando ela tem razão! Eu deveria ter comprado pelo menos uma calça e uma blusa mais simples e discretas!
Começo a andar de um lado para o outro sem saber o que fazer. Não tenho grana para comprar roupa nova, me recuso a usar as antigas e as atuais não são adequadas.
Meu Deus, me dá uma luz!
Passo a manhã inteira revirando meu guarda-roupa e até para as peças da minha mãe eu apelei, porém não achei nada que me servisse.
Quando a Bela chega da escola, fica feliz em saber da oportunidade e tão preocupada quanto eu. Passamos um tempo pensando em possibilidades até que ela tem uma ideia que não me agrada, porém me faltam alternativas.
— Nem pensar!
— Deixa de ser orgulhosa! Vocês duas têm quase o mesmo tamanho!
— Ela me odeia!
— Greice não te odeia, isso é coisa da sua cabeça. Anda logo, antes que ela vá dormir.
Indignada com o que sou obrigada a fazer, me arrasto até a casa da vizinha do lado esquerdo. A filha dela não conversa comigo há anos, porém o desespero faz coisa né.
A velha fuxiqueira me enche de perguntas sobre o tal emprego, acho que ela não entendeu que nem eu sei direito do que se trata!
A filha chega pouco depois e nos cumprimenta. A mãe diz o que preciso e para minha surpresa ela é simpática e nos chama até seu quarto para buscar algo que me sirva.
Greice é um pouco mais cheia que eu, acho que isso não vai prestar.
Depois de quase uma hora e meia achamos um conjunto de calça social e camisa de botões que caem mais ou menos. A alça está um pouco larga e a camisa claramente é maior do que meu número, porém aceito o empréstimo.
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Descobertas (Degustação - disponível na AMAZON)
RomanceDuas mulheres, duas vidas completamente diferentes. Beatriz é uma advogada criada por uma família de classe média alta, independente e com um lado nerd bem fofo, além de um humor um tanto direto. Isadora é uma mãe de dois adolescentes que descobriu...