Capítulo 15: A materialização da floresta

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 A reconstrução gradativa dos músculos sempre causava uma dor excruciante em Raksena. A habilidade natural de todo ser vivo, de alguma maneira, a machucava sem nem pensar duas vezes. Tecidos e células retornam ao estado inicial enquanto o cérebro recebe constantes pontadas das ligações nervosas. Esse fato desgasta a consciência de Raksena como uma onda. E mesmo em uma situação ruim, essa não seria uma exceção.

 - ...

 Após restaurar superficialmente os machucados mais leves, a primeira coisa que Raksena sentiu foi um mal-estar. Sentiu ânsia com a sensação ruim de pontadas afiadas na consciência antes mesmo de perceber. Tossindo com uma sensação de algo preso na garganta e cheiro ruim de terra sobre a língua, Raksena usou todas as forças para respirar profundamente.

 - Arhhg...! - deixou escapar, com a respiração arranhada.

 A demi-humana mordeu os lábios, apertando os olhos no local mal iluminado. Após piscar algumas vezes e se acostumar com todas as dores que sentia, olhou para o céu azul, sendo tomado pelas cinzas da destruição e fumaça que, há pouco tempo atrás, haviam infestado ambos os seus pulmões.

 A movimentação rápida do fluxo espiritual por todo o corpo, sem dúvida, era extremamente conveniente, mesmo com a dor do próprio tecido se regenerando. Contudo, limpar os alvéolos pulmonares era um trabalho difícil, que teria de ser minuciosamente feito, caso contrário, poderia colapsar a qualquer momento num futuro próximo.  Portanto, respirar ainda era uma tarefa bastante difícil para ela.

 - ...!!

 Após uma breve fungada, além da dor, o característico cheiro da morte pairava pelo lugar. Sem dúvidas, estava melhorando.

 Colocando as mãos na grama, Raksena ergueu o tronco e remendou as lembranças bagunçadas para tentar ignorar a dor latejante que vinha da própria virilha. O cérebro não conseguia processar a enchente de dados durante a sessão de cura.

 Assim que pisou para fora da cela, logo foi atacada impiedosamente por Konall, que não mediu esforços para machuca-la. E então, apesar dos machucados, conseguir fugir e sair da prisão. No caminho, estava completamente esgotada - todo o carbono que inalou apenas piorou a situação.

 "aqueles idiotas soltaram os lagartos e estão subindo pelo caminho dos depósitos", foi o que Rokku disse. Raksena sentiu um calafrio. 

 Ela tocou na parte da coxa que fora lacerada e sentiu um pouco de sangue escorrer. Obviamente, um ferimento profundo como aquele não seria cicatrizado tão rápido. 

 Deslizou os dedos da lateral até a virilha. O buraco estava lá, gerando uma dor latejante na demi-humana. E quem causou isso fora um "empecilho idiota".

 - Preciso ir... - ela disse.

 Enxugou o suor na testa com as costas da mão. Em sua mente pairava a figura da singela garotinha com longos cabelos dourados: Elisalina, a pequena elfa que sempre a acompanhava.

  - Tá, tá...

 Finalizando a organização de informações, Raksena concentrou-se na realidade. Tendo descansado por alguns minutos e deixado com que o corpo se curasse, esse era o momento para levantar. Uma vez que conseguira recuperar a própria percepção, poderia seguir em frente.


 ..........



 Ela pisou forte no chão e pulou para frente. Impulsionou na raiz grande e redonda debaixo dela, batendo os pés com o máximo de força que pôde.

 Ela tinha sido verdadeiramente enganada ao pensar que não havia nenhuma base segura ao entrar mais fundo na floresta sem estradas adequadas. Tudo o que ela tinha que fazer era seguir naturalmente o percurso e não hesitar em seu julgamento quanto ao lugar onde deveria ir. Confiando a firmeza de seus pés enquanto avançava.

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