O Berço do Caos

Capítulo 6: Contestação infantil

 Era a terceira vez que Wendellin se encontrava sem um futuro claro. A primeira aconteceu aos 8 anos, quando acabou perdendo seu ursinho de pelúcia favorito em uma viajem para outra cidade. A segunda foi aos 12, tendo uma discussão sobre o que escolheria para o seu futuro como evento central. E a terceira era justamente o que estava presenciando desde que chegou no mundo alternativo.

 Até antes de ser invocado, por mais que sua vida estivesse estagnada, ainda existiam indícios de que ela iria para algum lugar. Contudo, agora, ele tinha abraçado a morte pela primeira vez, sem sequer descobrir o que estava acontecendo ou o que de fato fez com que ele fosse para aquele mundo. Muito embora, o garoto começava a acreditar que foi parar ali puramente para sofrer, mas essa era uma opção que ele negaria até o final de sua vida.

 Wendellin sempre viveu de maneira leve e evitando qualquer tipo de confronto físico. Sempre que possível, tentava resolver as desavenças de forma pacífica, e em caso de não falhar, iria embora com o rabo entre as pernas.

 Se considerar tudo o que já passou, Wendellin não teria a capacidade de machucar nem uma mosca, apenas mosquitos que o atacavam durante a noite, fazendo com que ele não conseguisse dormir direito por se coçar muito.

 De fato, o garoto possuía um coração limpo. Visto a sua aparência e personalidade simples, certamente era impensável ele fazer algo de ruim por vontade própria.

 De um jeito ou de outro, Wendellin, pelo menos poderia se orgulhar disso em outras ocasiões. Mas, se quisesse sobreviver mais um dia, deveria começar a pensar mais sobre suas ações pacifistas. De outro modo, continuaria a se encontrar em lágrimas a todo o momento.

 Wendellin sabia de tudo que passou até agora. Não havia como ele esquecer. Aquela humilhação e impotência latente o lacerava por dentro, causando uma dor maior do que qualquer outro machucado que adquiriu até agora.

No entanto, sem um corpo atlético, experiência em combates, noção sobre a magia daquele mundo e sagacidade, o que ele poderia fazer contra o mundo? Todos que apareceram para o jovem rapaz possuíam esses elementos, tais quais os faziam assustadores à visão de um simples estudante do ensino médio.

 Era óbvio que, por ser um verdadeiro otaku, conhecia muito bem os sistemas de magias e já estava familiarizado com aquelas figuras de orelhas pontudas ou de orelhas e caudas animalescas. Contudo, fazer parte daquele meio era algo que ele não estava preparado na prática. Aquele simples sonho de ser invocado para um outro mundo, quando realizado, em um piscar de olhos se tornou a última coisa que Wendellin desejasse que tivesse acontecido.

 Quem sabe, se ele não tivesse cochilado no sofá, a história poderia ter seguido um rumo totalmente diferente. Esse é um pensamento que surgiria na cabeça de qualquer um, mas ninguém pode voltar atrás para provar que as coisas teriam mudado. Nesse caso, devemos aprender a conviver com essa decisão, mesmo que ela tenha sido a errada.

 Claro que, podemos passar a vida inteira tentando evitar de fazer escolhas através de não fazermos nada. Com certeza essa opção nos tiraria um grande peso das costas justamente por estarmos seguindo o fluxo da vida, apenas aceitando que, o que houvesse de ocorrer, seria lucro, mas mesmo isso é uma escolha.

 Os diversos pensamentos acabam gerando soluções únicas, que parecem responder aos questionamentos, mas que em essência, acabam por serem exatamente aquilo que estamos tentando contornar. É bastante inconveniente achar mais problemas em soluções que, à primeira vista, parecem estar corretas, mas é dessa forma que a existência funciona, e não seremos nós que mudaremos essa regra.

 O significado de resposta: ato de solucionar uma questão. Um conceito que tece seu caminho desde os primórdios das civilizações. Um conceito sólido, mas que nunca encerra de forma definitiva uma contestação, apenas sugere um novo início para mais perguntas, dando seguimento a esse necessário ciclo sem fim.