Wendellin percorreu um caminho que parecia ser familiar. Os extensos corredores nos quais caminhou durante o período noturno, agora estavam... menores do que podia se lembrar.
- (Eu tô indo para aquela sala de novo? Não importa! Dá para fugir daqui, eu só preciso sobreviver)
Enquanto sentia um leve frio na barriga ao imaginar que poderia novamente ser examinado por aquele senhor, Wendellin se agarrou a uma certeza misteriosa. A certeza até então sem base de que ele seria deixado para trás se desistisse agora. Mas talvez pressionado pelo momento, o rosto do garoto se enrijeceu ao pensar no futuro que poderia acontecer.
Os pensamentos de Wendellin estavam gerando pavor a si mesmo. Contradições, falhas, insegurança, tudo passava pela mente dele. Um ciclo sem fim de negatividade que não o levaria a lugar nenhum.
Percebendo que estava pensando demais, ele apenas levou suas mãos ao rosto, o cobrindo e começou a incentivar a si mesmo, dizendo que tudo daria certo de algum modo, afinal, ele estava disposto a fazer qualquer coisa. Então, aquela expressão apreensiva gradativamente se extinguiu.
Durante todo o trajeto, Wendellin também notou a movimentação de alguns guardas, que traziam e levavam detentos para lá e para cá. Dentre eles - todos elfos -, alguns pareciam mais maltrapidos e sujos do que os outros.
Percebeu também que diversos dos olhares estavam direcionados para ele eram aqueles de rancor e súplica, ambos com um tom leve de curiosidade, como se estivessem vendo algo nunca antes visto.
Obviamente ninguém iria fazer mal nenhum ao garoto. Na verdade, as figuras não passavam tal impressão. Ao invés disso, era clara o sofrimento daqueles que estavam sendo levados para algum lugar.
Mesmo entendendo a situação, Wendellin não conseguiu deixar de cruzar os braços em insegurança enquanto recebia aquela chuva de olhares descarados.
Ser o foco da atenção não era algo tão normal para o jovem recluso, então ele não sabia bem o que fazer, além de tentar manter a postura e seguir o trajeto guiado pelos guardas.
..........
Após passar pela porta negra, refazendo a mesma cena do momento em que chegou ali pela primeira vez, a imagem que saltou aos olhos do garoto não o deixava feliz.
Ao observar a sala onde haviam algumas prateleiras com cristais que emanavam um brilho único. Aquela imagem era a de um consultório médico, quase que idêntico aos que existiam no mundo de onde ele veio. Confirmando a inexistência de qualquer sentimento positivo pelo lugar, Wendellin correu os olhos até a figura já conhecida, que estava à sua esquerda, acompanhado de outros 3 guardas fortemente armados, assim como da primeira vez.
Essa visão causou um leve mal-estar em Wendellin, que desviou o olhar quando o mesmo senhor de antes o olhou.
- É bom vê-lo de novo. Pode se sentar ali - o elfo calmamente guiou o garoto até uma mesa no canto da sala, onde o fez deitar enquanto se preparava para a "consulta".
- Sentiu algo diferente desde ontem?
- Não
"Responder qualquer pergunta de forma direta", foi o que Wendellin pensou pouco antes de entrar nessa sala. Era um pensamento um tanto quanto idiota. Mas desde que soube que poderia fugir daquele lugar, não pensou em mais nada além das palavras ditas por Kelvhan.
Assim como da última vez, o elfo tirou do bolso do peito um cristal transparente, que colocou sobre o peito do jovem e ficou parado, esperando algo acontecer.
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O Berço do Caos
FantasiNo mundo existem aqueles que não aceitam a realidade como ela é e desejam por um lugar mais divertido e interessante de se viver. No meio de muitos que anseiam por isso, está Wendellin Mount, um garoto de 17 anos, estudante do ensino médio e um escr...