Capítulo Nove

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Com a mão no trinco, e os olhos vidrados no número e na letra, não conseguia me mexer, o futuro estava ali, somente a um passo, mas não conseguia prosseguir, algo estava me deixando travado, e aquilo estava me afetando, a secretária que tinha me acompanhado até ali, já tinha partido, com certeza tinha assuntos muito mais importante para resolver, do que ficar observando os meus medos e as minhas brigas internas.

Não saberia dizer se o tempo andava rápido demais ou extremamente lento, as vozes que vinham de dentro da sala, soava como uma felicidade desconhecida por mim, eu iria encarar uma turma que já se conhecia, e como sempre seria o estranho, em um lugar que todos observariam atentamente as coisas que eu fazia.

A curiosidade era algo perigoso, não sabia ao certo o que encontraria atrás daquela porta, talvez muitos amigos ou muitos inimigos, como não poderia ficar assustado, tudo aquilo estava fazendo meu estomago embrulhar, sentia que as forças das minhas pernas estavam se esvaindo, ou eu tomava uma atitude ou não ficaria de pé por muito tempo.

Não tinha para onde fugir, a saída não era uma escolha para mim, tinha que ser forte o suficiente para poder encarar a vida de frente, e todos os desafios que a mesma me mandaria, depois de fazer o esforço que tinha feito para estar ali, as insanidades que fui submetido com Biel, não existia motivo para a desistência.

A mudança tinha que ocorrer, e eu estava me forçando a isso, não tinha mais espaço para o medo em meu corpo e nem na minha mente, tinha que ser corajoso e brigar as minhas lutas de cabeça erguida, e mesmo que nada saia como esperado, isso não seria um motivo pelo qual deveria desistir de ser quem eu sou, de ser um ser humano melhor.

Meu último momento de reflexão me deu forças, e lentamente abri a porta e quando fui empurrando, percebi que algo estava errado, ela estava leve demais para uma porta de metal, ele se abriu rapidamente, e com esse puxão forte na direção ao qual eu empurrava, meu corpo foi direcionado para frente com certa agressividade, como se alguém me puxasse para entrar logo para a sala.

Mas como sempre a vida tinha que brincar comigo, e com as minhas crenças, sempre que era submetido a algum tipo de reação favorável, o destino vinha e me mostrava que quem realmente mandava, e quem controlava tudo aquilo era ele, e isso estava ficando cada vez mais claro.

A cor, a serenidade, e desejo, a sensibilidade, tudo estava presente naqueles círculos perfeito que me olhavam de cima a baixo, como se não entendesse o que eu estava fazendo travando a passagem da porta, minha postura pareceu patética e somente depois pude concordar com ele nisso, mas naquele instante soava como se fosse um psicopata perdido no seu próprio crime.

A nossa transmissão foi instantânea, senti o que ele sentia, a forma como ele agia, a maneira que ele me olhava, com toda a sua ternura, como se quisesse entender cada passo que eu dava. No primeiro momento que você o via, sentia calma e tranquila, como se ele fosse um sonho, ou um anjo que vim até você para confirmar que no final ficaria tudo bem, e que não devíamos se preocupar.

Se eu achava que o tempo estava maluco, quando nossos olhos se encontraram e a aquela sensação estranha tomou conta da nossa atual situação, ali parecia que tínhamos perdidos anos da nossa vida, somente olhando um para o outro, como dois amantes que não se viam a muito tempo, e que não precisava de palavra para expressar o que ambos estavam sentindo, só a química e as faíscas que saiam ao nosso redor já explicariam cada sentimento.

Nem ele e nem eu se movia, era como se rolasse aquela típica cena clichê dos filmes de romance, quando tudo muda de direção e de cor, quando você encontra o amor da sua vida e ambos ficam se olhando como se aguardasse alguma coisa acontecer, e realmente aconteceu.

— Vai ficar parado na porta Pedro! A professora que estava na sala tentando explicar a sua matéria tinha ficado brava, porque o aluno não saia logo? E por que tinha ficado estacionado na porta de entrada?

Mesmo não querendo admitir o que estava sentindo percebi que aquilo tinha sido uma forma estranha de saber seu nome, e segundo os meus instintos aquele seria um rosto familiar, mesmo não sabendo qual rumo iria tomar, sabendo que Biel era tão lindo como ele ou até mais, seria essa a pessoa que mudaria a minha vida, de fato não, não seria ele, minha mente boicotava todos os meus pensamentos, e sempre me mostrava o Biel como minha primeira opção, como o meu grande amor.

Garotos (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora