Capítulo Onze

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O primeiro dia tinha sido um sucesso e um fracasso, não tinha sido bom em nenhuma das minhas tentativas de fazer amizade, acho que não iria fazer tão cedo, as coisas eram diferentes do que pensei, a faculdade não eram aquelas coisas que os filmes americanos nos mostram, não tinha fraternidade, na verdade era o contrário, muitos dos alunos estavam focados na carreira e outros projetos paralelos, mas não ia me abalar, na verdade a única coisa boa nisso tudo, foi poder conhecer o Pedro.

Como podia estar pensando nele, tinha muito tempo que alguém não me fazia esquecer tudo o que estava a minha volta, na verdade a última pessoa que tinha me feito perder o ar, tinha sido o Biel, o mais engraçado nisso tudo era como tinha caído feito um patinho nas histórias dele, sempre com aquele sorriso bem definido, e com o olhar de que nunca te machucaria, será que o sentimento que tinha por ele estava mudando?

A vida tem muito dessas coisas, coisas que não compreendia mais me fazia ficar decepcionado, pois as coisas que aconteciam comigo, era sempre assim, acontecia uma coisa boa e depois dez coisas ruins, e se conhecer Pedro fosse uma coisa boa, estava esperando agora somente as coisas ruins aparecer, nem sei bem se estaria preparado para tudo.

O sentimento que passa com você quando sabe que algo ruim vai acontecer, passa a se tornar banal, já que está acostumado com a sequência que a vida dava, e na verdade não me importava muito, sabia que de um jeito ou de outro conseguiria passar por aquilo e levantaria a cabeça por mais uma guerra ganha, talvez.

As batidas na porta, alguém estava impaciente, e como a única pessoa que conhecia esse endereço era o meu Namorado/Marido, já sabia que era ele que estava esmurrando a porta.

No caminho não conseguia tirar a cena dele na cantina com aquelas moças ao seu lado, rindo e o tocando, ver toda a cena me deixava confuso, pois não sabia se ficava feliz em ver ele com outras pessoas, ou me deixava triste porque ele nunca ria comigo, na verdade ele nunca se quer deu tempo para que possamos ter uma conversa digna, depois do sexo ele ia sempre embora, me sentia a prostituta dele particular, e na realidade era isso que estava acontecendo, mas eu tinha quebrado a primeira regra da zona, tinha me apaixonado pelo meu cliente.

Parei diante da porta, e me vi na cena da faculdade, diante daqueles olhos esverdeados, com o sorriso contagiante dele, com a maneira que ele me olhava, o sorriso apareceu no canto da minha boca, aquele simples momento bobo, ele parado na porta me observando com atenção, pode parecer clichê, mas no fundo mesmo não tendo conversado com ele, sabia que nos daria bem.

— Rafael, eu estou vendo você atrás da porta, dá para abrir essa porra! A voz grossa dele me despertou do desejo momentâneo, virei a chave duas vezes e abri a porta, ele entrou feito um furacão, seu humor não estava dos melhores, como sempre.

— Desculpa, estava procurando a chave – Menti

— Que demora do caralho! A primeira coisa que ele fez foi se jogar no sofá e pegar o console do Playstation 4! Aquele presente que ele tinha se dado em um dos seus aniversários, ele sempre aparecia no meio da tarde, quando o seu trabalho, que eu ainda não sei qual é o estressava demais, na verdade não me importava mais, porque se ele não se preocupava em me contar, não me atreveria em tentar uma conversa com ele, capaz de acordar sem um dedo.

— Vou fazer um suco, quer que faça um para você? Meu corpo estava virado para a cozinha, retornei minha atenção a ele para ver se ele estava afim, mas ele somente balançou a cabeça negativamente.

O cheiro da laranja sendo cortada, a maneira que aquilo me remetia uma lembrança de quando eu era criança, não lembrava muito de meus pais, mas sabia que eles me amavam, a maneira como a acidente ocorreu, aquilo ainda me causava pânico, sempre tinha lapsos de memória enquanto dormia e acordava assustado, mas tinha vezes que podia ouvir minha mãe dizendo que tudo iria ficar bem, não contava dessa coisas com ninguém, mesmo querendo compartilhar essas coisas, não tinha com quem conversar, uma vez que Biel estava dormindo aqui no apartamento, me lembro que nessa noite tive um pesadelo horrível, só o que me lembro era de ter caído da cama, mas sei que tinha sido ele que me empurrou para fora, nessa mesmo noite, fui dormir no sofá, estava certo que se o incomodasse mais ele daria um jeito de me silenciar.

Garotos (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora