Capítulo Um

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Aquela altura a garota já não estava mais no controle do sono, estava de fato ouvindo o professor explicar algo, mas sua voz estava tão longe, que obviamente ela não se lembraria de nada mais tarde.
Sentiu um chute por debaixo da cadeira, mas ignorou, permaneceu com a cabeça apoiada na mesa, segundos depois, outro chute desta vez mais forte. No susto ergueu a cabeça com metade do cabelo bagunçado cobrindo o seu rosto sonolento, encarou tudo ao redor, todos os olhares da sala tinham como alvo algo específico, ela.

— Senhorita Giovanna. — Disse o professor Alec retirando os óculos, as rugas do seu rosto estavam mais visíveis naquele momento graças a sua expressão carrancuda. — Você melhor do que ninguém, sabe o quanto essa matéria é de extrema importância.

A garota piscou diversas vezes sentindo o rosto queimar e arrumou os óculos no seu rosto, logo ajeitando a postura e engolindo seco antes de dizer algo.

— Sim, senhor...

— E não me interrompa. — Ele ergueu a mão direita. — Eu sugiro que você passe menos tempo em atividades fúteis e comece a se dedicar nos estudos.

Ficou em silêncio segurando o máximo possível um bocejo, aquela não era uma boa hora.

— Dispensados! — Ele disse fazendo com que todos da classe se levantassem.

— Ele pega no meu pé até se eu respirar errado. — Resmungou

— Ele nunca gostou de você mesmo. — Disse Yeji na cadeira de trás, se virou para ela observando a garota guardar o resto dos materiais.

— O que acha de ir lá para casa hoje? — Perguntou e Yeji ergueu uma sobrancelha. — A gente chama as meninas, assiste a um filme de terror.

— Sabe que a Isabela odeia filmes de terror. — Yeji sorriu — E hoje o pessoal vai se reunir no bosque, esqueceu?

— A festa no bosque. — Disse pensativa. - É que eu esqueci.

— Nós podemos dar uma passadinha por lá. — Yeji se levantou colocando a mochila no ombro — Vai ser legal.

Giovanna concordou em relutância e Yeji sorriu vitoriosa. A garota caminhou até a saída, sumindo em meio a multidão, então pegou a mochila que estava nos pés e fez o mesmo.
Na rua, colocou o capuz do moletom sobre a cabeça e enfiou as mãos no bolso já que o vento estava começando a ficar forte. Seguia a linha do paralelepípedo, em particular, ela gostava de andar pelo lado esquerdo da rua, que era onde dava entrada para a imensa floresta.
Winter por ser uma cidade pequena, não possuía pontos turísticos, pelo contrário, as pessoas não visitavam o lugar onde era repleto de lendas.
Nas aulas de história, os alunos eram obrigados a ter mais conhecimento sobre a cidade pacata, poderiam existir milhares de lendas urbanas, mas nada se comparava à principal, onde no século XVII, a pequena Winter se tornou o lar de lobisomens.
Apesar de nunca comprovado, as pessoas botaram tanta fé nisso que os lobos cinzentos que tinham como habitat a floresta, começaram a se tornar raros devido aos caçadores.
Na sua cabeça isso não fazia sentido algum, mas a caça se tornou uma prática legal na cidade, onde até a própria polícia atirava para matar. Em todos os anos que passou conhecendo a floresta, os animais não apresentavam risco algum.
Mas hoje, o matagal parecia um pouco mais inquieto, provavelmente por conta da ventania daquele dia, então resolveu não se arriscar caminhando por ali.
Depois de quinze minutos de caminhada, havia chegado em casa que estava vazia. O seu pai, Richard, que trabalha com entregas, provavelmente só chegaria de madrugada. Se jogou no sofá deixando a preguiça dominar, hoje não seria uma daquelas tarde em que ela estaria disposta a fazer qualquer coisa, então adormeceu.
Tentou um sono tranquilo, apesar do local onde se encontrava, pois, o sofá estava muito desgastado. Giovanna não podia se considerar uma pessoa medrosa, pelo contrário, poucas coisas a assustavam. Entretanto, o sonho que surgiu na sua mente trouxe-lhe um arrepio.
No seu sonho, ela estava andando numa floresta muito familiar. A floresta de Winter. Mas o que realmente lhe assustou foi a sombra na escuridão, que sumia e aparecia a poucos centímetros de onde ela estava, na floresta, Giovanna não conseguia se mover, ela apenas observava enquanto sentia o peito arder em medo. Num momento, a sombra parou a sua frente, mas a garota não conseguia identificar a figura, parecia uma fumaça preta em meio às árvores. Mas aquela fumaça mudou quando a forma de duas bolas de gude surgiram em meio ao breu, o seu brilho era tão forte que ela precisou fechar os olhos rapidamente.
Acordou levantando-se e sentindo uma leve dor no pescoço, aquele sofá não era o lugar mais confortável do mundo. Ao olhar pela janela não estava mais claro, já passava das sete horas. Giovanna balançou a cabeça afastando qualquer lembrança do sonho esquisito.
Pegou o celular no qual havia uma mensagem de Yeji, mensagem a qual a garota não ficou surpresa em ler.

Winter's Howl | 𝑆𝑡𝑟𝑎𝑦 𝐾𝑖𝑑𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora