Obsessão

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Calliope Burns

Estava sentada na cozinha de casa tomando uma cerveja, a televisão não exibia nada interessante para uma noite de sábado, estava me sentindo ansiosa e sabia que precisava sair para encontra-la. Saber que estava tão perto de finalmente conseguir cumprir a minha promessa ao Theo me deixava daquele jeito, o alcool me fazia companhia, ajudava a acalmar e organizar os pensamentos. 

Segundo informações passadas pelo clã, fora registrada atividades suspeitas na pequena cidade da costa oeste do Maine, estava disposta a seguir com a minha vingaça, havia dedicado toda a minha vida a isso e agora que estava tão perto não poderia falhar. 

Passei todos os meus anos, desde aquela noite em que vi Theo se transformar em algo que ele jurou matar, estudando e treinando, me dediquei a achar um jeito de conseguir mata-la. Ainda não havia encontrado todas as respostas, mas estava cada vez mais perto, precisava tentar de verdade desta vez. Os anos de reclusão foram difíceis, minha família entendia minha obssessão e não falavamos mais no nome dela, aquele nome me dava ódio. 

No começo foi difícil para eles aceitarem que eu estava disposta a deixar tudo e todos em busca de respostas, viajei por vários lugares do mundo, até finalmente encontrar em um lugar do Egito alguém com mais conhecimento sobre os imaculados. 

Não seria como na adolescencia, eu não iria ataca-la com uma estaca de madeira ou tentar feri-la com uma pulseira de prata. Se naquela época eu soubesse tudo o que sei hoje, talvez Theo estivesse vivo, não teria se transformado em uma aberração. 

Segundo os registros de atividades, era comum nos dias de sábado a noite acontecer desaparecimentos misteriosos, pessoas que não se lembravam do que fizeram no fim da noite voltavam para casa, não haviam cicatrizes no seus corpos, não haviam porque desconfiar que alguém havia chupado o seu sangue. Os que não voltavam desapareciam, os corpos nunca eram encontrados, ficou cada vez mais claro que o local era perigoso, mas foi o desaparecimento de pessoas em plena luz do dia que chamou a atenção do clã. 

Foi enviado uma equipe e quando constataram que haviam imaculados na região, ligaram diretamente para mim, eles não eram muitos no mundo eu já havia procurando por ela em várias regiões, nunca havia encontrado. Mas uma foto, um registro em rede social de seu melhor amigo foi o que entregou a localização. Juliette estava com fome e estava caçando, eu iria destroça-la como nunca. 

Só de dizer aquele nome, mesmo que em pensamentos foi o suficiente para sentir a raiva fazer com que o sangue corresse rapidamente em minhas veias, o ódio destilava por dentro de mim. Cerrei os punhos, estava pronta para sair e caça-la. 

Coloquei meus anéis de prata, vesti minha jaqueta de couro por cima da regata branca, apertei o cadarço dos coturnos que ficaram por cima da minha calça preta. Fui de moto até um pubconhecido no pequeno distrito, ele era afastado, próximo a floresta e frequentado por jovens que bebiam e usavam drogas, um ambiente perfeito para um vampiro, um ambiente perfeito para ela caçar. 

Havia uma fila para entrar, tive que aguardar por cerca de dez minutos antes de conseguir entrar no ambiente escuro, iluminado apenas pelos lasers e flashs de luzes que saiam da cabine do dj. Os jovens dançavam loucamente ao som da música bate estaca. Fui até o bar e pedi uma dose de uisque, sentei fingindo estar curtindo o ambiente, mas meus olhos e ouvidos estavam atentos para qualquer movimentação, sabia que tinha grandes chances de encontra-la naquela noite. 

Juliette Fairmont

Estava deitada na minha banheira, relaxando enquanto lia um livro e tomava uma taça de vinho tinto. Era impossível não pensar na minha adolescencia todas as vezes que minha mente não estava ocupada com assuntos humanos. Tinha que manter as aparências, por isso me mudava sempre que caçadores apareciam na região em que morava, não era o ideal, mas foi como eu aprendi a viver. 

Tinha medo de que ela me encontrasse, não porque tinha medo de morrer, sabia que era impossível de encontrar um jeito que isso pudesse acontecer, mas tinha medo de não suportar vê-la me odiando. Naquela noite, em que ela fez a promessa de encontrar um jeito de me matar, senti meu coração despedaçar, as batidas do coração de Calliope não deixaram enganar, ela estava falando a verdade. 

Sabia quando Calliope mentia para mim, o coração batia em um ritmo descompensado, sempre acelerado mais do que o normal. Eu a conhecia assim, sentindo as batidas do seu coração, sabia de cada sentimento que corria em seu corpo, mesmo que ela não dissesse para mim o que se passava em sua cabeça, o coração não mentia. 

No dia em que nos beijamos, naquela dispensa, seu coração martelava o peito, eram batidas fortes, mas regulares. No dia em que jurou me matar, o coração possuia um ritmo intenso, mas não descompensado quando como tentava mentir para mim, naquele dia eu não pude sorrir e dizer que sabia que era mentira, ao contrário disso, eu chorei, sabia que ela me amava, mas também tinha certeza de como ela amava a família acima de tudo e de todos, não havia mais saída para nós. 

Me mudei uma semana depois, com todo os problemas envolvendo minha irmã a quem eu denunciara para a polícia e meu irmão de volta a cidade, eu não queria mais ser a herdeira de tudo aquilo, mas acabei sendo, era o meu destino, não havia como fogir do meu próprio sangue. 

Sangue que me condenou a viver sem meu grande amor. Não havia como negar minha própria natureza, depois da minha primeira morte tudo ficara mais claro, eu precisava de sangue para sobreviver, evitava ao máximo matar, apesar de que aconteceu algumas vezes, me alimentava o mínimo possível, não sentia prazer em causar dor. 

Vivendo nessa pequena comunidade na costa oeste do Maine eu estabeleci meu lar, viva tranquilamente, saia para me alimentar na região, ninguém desconfiava de mim, eu era apenas uma empresária que vivia em uma mansão afastada do centro, meus vizinhos gostavam de mim e minha família raramente me visitava. Mas a paz iria acabar, estava ciente disso, haviam mortes acontecendo na região, pessoas desapareciam sem deixar rastros, não poderia ficar por muito tempo, teria de sair antes que os caçadores chegassem na região, antes que eu pudesse encontrar Calliope Burns. 

O nosso fim - First killOnde histórias criam vida. Descubra agora