Enquanto estava deitada fingindo dormir enquanto esperava a casa silenciar, Fabiana pensava em cada palavra escrita naquela carta, na carta de Lucas para ela, não para Elena, para ela.
" Eu achava que a pior dor do mundo era perder para a morte alguém que se ama, eu estava completamente errado. A pior dor do mundo é ver o sorriso sumir do rosto da pessoa por quem se é enamorado, é saber que ela continua vivendo sem sorrir, sem alegria.
Foi essa dor que eu senti quando a pouco vi o desespero em seus olhos quando perdemos um paciente, é essa dor que sinto quando te vejo na ala infantil com aquelas crianças mesmo sabendo que poucas resistirão.
Não permita Fabiana, que essa escuridão deste lugar retire essa luz que há em você. Eu te peço que preserve esse sorriso para mim o máximo de tempo que for possível, e se não for possível sorrir, então me de seu cansaço, me de suas lagrimas, e eu vou te ajudar a carregar, só não me de sua ausência.
Me permita cuidar de você e permita que isso comece agora.
Eu te espero as vinte e três horas na clareira das sete figueiras.
Sempre seu, Lucas."
Fabiana não sabia como aquela carta deixada em sua mesa havia ido parar nas mãos de Elena, não queria nem pensar em como seria sua ruína aquela carta em mãos erradas, então somente agradeceu por a carta ter voltado para ela.
Já haviam se passado muitos minutos desde que o relógio soara dez badaladas, então arrastou-se da cama e vestiu um casaco negro com capuz, não havia retirado o vestido marrom escuro, era o mais escuro que possuía para camuflar-se a noite.
Com os meses que trabalhava no nazareno aprenderá a ser rápida, discreta. Com os anos que vivia sob o teto de Emiliano aprenderá a nunca ser vista, nunca ser ouvida, tão silenciosa e opaca que um dia se perguntariam se ela realmente existiu.
Foi com esse silencio sorrateiro que ela abriu a janela, que ela esgueirou-se pelas sombras do jardim, então pela mata, até chegar a clareira, até Lucas que a esperava.
Não pensou duas vezes ao se jogar nos braços dele, ao beijar sua boca até arfar por mais, até precisar ver o sorriso de Lucas, até ver os olhos dele brilhando e saber que brilhavam por ela.
- A vida inteira eu procurei você. – Tocou o rosto dela, afastando um cacho para de trás de sua orelha. – Meu sonho.
Fabiana pegou a mão dele e levou até seu peito.
- Não, eu sou real. Não um sonho, não uma miragem, eu sou uma pessoa e eu sou feliz porque você coloriu minha vida Lucas.
- Não, você colocou um sorriso no rosto e coloriu ela sozinha, o branco é a soma de todas as cores.
- Mas você me deu o pincel. – Por um momento o olhar de Lucas ficou longe, ele não pareceu ouvir o que ela disse, então falou:
- Eu coloquei um sorriso tão lindo no seu rosto que eu tenho medo de um dia precisar partir e ele sumir.
- Pode partir, eu sei que você voltaria, por mim.
- Sempre se volta pra onde o coração se finca.
Fabiana deixou escapar uma risada, mais alta do que devia.
- Então finque seu coração no meu.
- Fincado, fundido e forjado no seu.
- Amo você Lucas.
Um barulho sorrateiro ecoou ao redor e então a mata ficou quieta mais uma vez.
- Que barulho foi esse Lucas? – Estava assustada, se a vissem ali estaria perdida, sua reputação arruinada e nem queria pensar no que Emiliano faria com ela, com certeza a morte mais cruel não seria o bastante para vingar a vergonha de sua filha fugir no meio da noite para encontrar-se com seu amante.
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O nazareno
Fiction HistoriqueNão é um romance qualquer, um mistério, segredos, uma tragédia e um amor diferente de tudo que você ja viu.