Capitulo 5 - Quermesse

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Sete minutos.
Foram exatos sete minutos para que Fabiana soubesse que Lucas era um admirador das obras de Camões, que gostava de história de fantasmas – embora não acreditasse nelas – e que preferia perder a cabeça a comer coisas verdes.
Em sete minutos ele descobriu que ela detestava chá, passava mal sempre que comia camarão e que sonhava em ter uma casa cheia de crianças.
Sete minutos foi o que precisaram para terem certeza que não era uma impressão vã, que havia algo entre os dois, uma chama, uma ligação, o inicio de uma paixão.
Em sete minutos Lucas soube que ela perfeita para ele, mas não podia ser dele.
- Ouvi dizer que existe lobos marinhos por esta região, a senhorita já viu um?
- Ah sim, muito comuns, aparecem sempre lá pros lados da quinta secção da barra. Uma vez quis descer da carruagem e tentar tocar em um, para minha infelicidade papai não permitiu. – Ela sorriu ao contar – seria uma história fascinante, que um dia eu gostaria de contar para meus filhos.
- Por que quinta secção da barra? Deve ter uma razão para o nome desta localidade.
- Mulheres não podem ir a escola, mas fui educada por professores em casa, meu pai sempre disse que os Cerqueiras não são tolos e sua filha também não seria. Ouvi brevemente nas aulas de história que nos tempos do imperador, o representante do rei cobrava na barra os impostos que eram a quinta parte da produção, por isso quinta secção da barra.
Ele lhe elogiaria, mas não houve tempo. Uma gritaria tomou conta do hospital.

- Emergência na sala da entrada, emergência. – Uma voluntária gritou.
Em sintonia a enfermeira e o médico correram rumo a uma pequena sala ao lado da recepção. Na cama um homem gritava de dor, sua mão sangrava. Alguém, que não foi notado pelos dois, explicou que sua mão foi atingida por um tiro em uma briga no bar do Lotaca.
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- Senhoritas saiam! Vou ter que amputar. – As senhoras saíram correndo, amputação a sangue frio era algo que lhes tirava o sono. Mas eu fiquei.
- Senhorita, saia, vai haver uma amputação. – O doutor Lucas disse me encarando.
- Não, eu fico. – meu maior defeito era minha teimosia, que também era minha maior qualidade.
- Não ampute minha mão. – O paciente gritou.
Rapidamente levei aos seus lábios uma garrafa de licor, recomendei que tomasse o máximo possível. O doutor Lucas mandou que ele esticasse o braço, apoiei meu corpo sob o braço do paciente o impossibilitando de se mexer muito. Lucas amputou, o homem gritou e depois desmaiou. Limpamos o ferimento e o costuramos.
Nossos olhares se cruzaram ao final de tudo, havíamos conseguido realizar o procedimento, havíamos conseguido sobreviver a mais um dia no nazareno.
Nunca soube ao certo porque o nome do hospital era O nazareno, mas acreditei por toda vida que se dava ao fato de acolher a todos, de usar de misericórdia para com todos, assim como Jesus Cristo de Nazaré.
- Aceita um café? – Lucas perguntou.
- Eu preciso ir para casa.
- Te vejo amanhã então.
Me troquei as pressas, não podia chegar ensangüentada em casa, meu pai me mataria, e sai do hospital a passos largos esperando o amanhã para o ver de novo.

O nazarenoOnde histórias criam vida. Descubra agora