Capitulo 6 - Quermesse

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O largo a frente da igreja matriz estava iluminado por lampiões presos a cada arvore, barraquinhas vendendo doces e refrescos contornavam toda pista de dança, e o espaço vazio nas laterais havia sido preenchido por bancos almofadados e mesinhas com cadeiras. No céu, a lua iluminava soberana, como se também apreciasse aquela que não seria uma noite qualquer.

No meio daquela sinfonia de luzes, sons e pessoas, um casal se destacava. Flávia e Emiliano.

Quando a orquestra tocou a primeira valsa da noite, Emiliano ofereceu o braço a sua esposa e a conduziu para o centro da pista. Flávia parecia ainda mais jovem aquela noite, com andar de rainha e porte de uma mulher da corte, e parecia ainda mais bonita sob as luzes da noite que reluziam o vestido escarlate. Por sua vez, Emiliano se orgulhava de ter em seus braços a mulher mais linda da cidade e se orgulhava por todos ali o respeitarem por ser quem ele era, o grande Emiliano.

Foram eles dois que abriram a pista de danças, não o prefeito e sua esposa, ou o juiz viúvo com uma de suas belas filhas, mas o sim o respeitado Emiliano Cerqueira.

Ao longe, Fabiana observava os pais, sentia que não se encaixava naquele pequeno mundo, que vivia uma vida para os outros e ainda assim, por mais que se esforçasse, por mais que lhe corroesse o peito, nunca atingiria a expectativa que os pais tinham sobre ela.

Poderia se casar, poderia ter filhos, mas ainda assim, queria seguir ajudando pessoas no Nazareno, e nunca teria a formosura da mãe. Não podia ser o que aquela cidade esperava que ela fosse, não podia ter o porte de rainha de Flávia com o uniforme de enfermeira sujo de sangue.

Mas agora, agora seu coração batia forte, seu coração dançava ao som da esperança, aquela inquietação lhe dizia que finalmente havia encontrado alguém com quem poderia viver uma vida sem abrir mão do que ela acreditava. E ele devia de estar por ali, a final de contas, ele disse que iria.

Tão perdida em seus pensamentos estava que não percebeu que sua mãe havia voltado para junto dela.

- Que tanto você olha para os lados menina. – Ralhou Flávia sem permitir que ninguém percebesse que não era algo doce que falava com sua filha.

- Eu estava distraída.

- Deixe-me ver seu cartão de danças. – Flávia pegou a mão da filha e analisou o cartão vazio que estava preso ao pulso. Em seguida pegou a caneta do bolso do vestido e escreveu "Marco Antônio" em duas das cinco linhas.

- O que a senhora está fazendo?

- Seu pai prometeu a este moço que você dançara com ele.

- Mas eu não conheço nenhum Marco Antonio.

- São assuntos do seu pai filha, você sabe o que deve fazer, sorrir, ser cordial e não citar aquele hospital.

Fabiana apertou os lábios com força para evitar de revirar os olhos, sabia o quanto isso era deselegante e sabia quantos dias trancada em seu quarto o tal ato de rebeldia lhe custaria.

- Como a senhora sabe, uma moça só pode dançar por cinco vezes em uma noite e eu gostaria de não dançar com um estranho. Além de que, a senhora lhe preencheu duas danças e eu posso ficar mal falada.

- Bobagem, uma moça só é mal falada depois que dança três vezes com o mesmo rapaz, isso significa que estão noivos.

- Não seria uma falácia totalmente desagradável, você precisa mesmo se casar em breve, fazer algo útil da vida.

Como se seu trabalho no nazareno fosse algo útil, sem valor. A mãe conhecia o coração da filha, sabia como lhe atingir em cheio.

Flávia seguiu falando sobre os próprios feitos, discorreu sobre quando tinha a idade da filha e já estava muito bem casada com Emiliano e grávida. Mas o coração dos jovens é ardiloso, escuta o que quer e dança quando quer, Fabiana que em qualquer outro dia estaria com lagrimas nos olhos alegrou-se, pois enxergou Lucas ao longe.

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