Ato IV

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Voltei minha atenção ao professor infame, tentando de todas as formas não demonstrar que meu rosto estava vermelho de vergonha.

— Uau, uma briga logo antes do treino — Josh Beauchamp falou naquele tom galante e meloso.— Isso acaba trazendo uma paixão única à performance.

O professor Niky largou minha visão raio laser e caminhou em toda a sua pompa para cumprimentar o adorável convidado.

— Josh... Josh... que prazer imenso. — Uau. O professor realmente estava bastante eufórico. Vi pelo canto dos olhos, enquanto recolhia minhas coisas, que Josh apenas se afastou, tentando evitar um abraço caloroso. Hum...Quando coloquei a mochila no ombro, me preparando para sair dali, os olhos azuis magnéticos de Josh Beauchamp capturaram os meus.

— E você, vai para algum lugar, senhorita? — ele perguntou num tom debochado. Senti uma vontade imensa de enfiar minha sapatilha suada por sua garganta abaixo.

— Só vou almoçar, se me for permitido, senhor. — Meu tom sarcástico não passou despercebido e fui brindada com um olhar rancoroso e aterrador.

— Você ia, não é mesmo? No verbo passado — ele disse e jogou suas tralhas chiques no chão, exatamente ao lado do meu pé esquerdo. — Eu não tenho tempo para perder com horários descompensados de alunos malcriados, então, se não for muito, gostaria de iniciar o treino agora mesmo. Tenho compromissos depois.

Uau. Ele é um asno ambulante. Lindo, fino e admirado. Mas ainda assim, um asno.

— Eu... eu...

— Ela vai adorar treinar agora, não é mesmo, querida? — O professor Niky apertou meu ombro dolorosamente.

Certo. Meu dia estava uma merda. Respirei fundo e resolvi que, já que tinha que enfrentar aquilo, que fosse de barriga vazia, assim eu não correria o risco de vomitar em cima do infeliz.

— Claro. Quem precisa de comida quando a arte nos alimenta, não é? — eu disse e recoloquei minha mochila no chão, ajeitando as sapatilhas logo em seguida.

O que era um pouco de doação de sangue naquela hora da manhã, não é mesmo? E falo de sangue naquele momento, porque seria o estado calamitoso que meus pés ficariam ao final daquele treino mortal. Estava sonhando com o período do almoço apenas pela expectativa de colocar meus calos ao vento e, quem sabe, dessa forma, receber um pequeno sopro no ardor.

Como o professor não fazia sequer questão de sair do estúdio, Josh resolveu o problema.

— Niky?

— Sim, querido?

Eu revirei os olhos diante de tanta adulação.

— Você já pode se retirar.

Uau. O cara era grosso, irritante e arrogante. Tudo numa mesma frase. Mas gostei do tom beterraba que ele conseguiu colocar na cara do professor.

— Ah... ahn... mas eu pensei que vocês poderiam precisar de mim aqui...

— Não. Eu não preciso. Você precisa? — ele perguntou olhando diretamente para mim. Que filho da puta. Acabou me colocando em uma situação embaraçosa.— Viu? Ela também não precisa — ele disse, já alongando a musculatura das coxas poderosas. Oh, céus. Por que este homem tinha que ser bonito assim?— Eu prefiro treinar livre das metodologias que você passa às suas alunas. Elas tendem a ficar receosas de estarem errando em alguma coisa, e a preocupação primordial dessas pequenas borboletas é ficar tremendo, assustadas com uma possível bronca sua, quando na verdade deveriam estar receosas de uma reprimenda minha.

— Ah... mas... você não precisa que alguém coloque a música?

— Não. Para isso eu sempre trago minha assistente.

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