Ato VII

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Fechei a boca, que devia estar escancarada em puro choque por não faço ideia de quantos segundos. Só espero que não o suficiente para que um fio de baba tenha escorrido.

— O que você está fazendo aqui? — Minha curiosidade superou minha educação.

Ele apenas deu um sorriso sem vergonha e disse:

— Vim me redimir diante do meu ato mais cedo. Posso entrar?

Pensei por cinco segundos antes de dar espaço a ele para que entrasse no meu pequeno apartamento. Era pequeno, mas era super aconchegante. E nem estava sujo ou com milhares de peças de roupas espalhadas pela sala. Eu havia feito uma faxina dois dias atrás. Obrigada, Senhor.

Como se conhecesse a casa como ninguém, ele se dirigiu à cozinha minúscula e depositou a caixa de pizza ali, bem como a sacola de papel. Sem falar mais nada, abriu a sacola, retirou uma garrafa de vinho e começou a abrir a caixa. O cheiro da pizza de pepperoni chegou ao meu nariz, fazendo com que minhas papilas gustativas começassem a salivar. Na minha mente fértil, começaram a fazer um grand plié.

Não era sempre que podíamos nos dar ao desfrute de comer carboidratos.

— É sério, Sr. Beauchamp...

— Josh. Meu nome é Josh, Any... e você sabe muito bem disso.

Fiquei com a boca aberta como um peixe de aquário.

— Ahn...

Ele se virou para mim e agarrou minhas mãos sem me dar chance de falar.

— Olha, eu vim me desculpar por ter sido um imbecil hoje mais cedo. Fui completamente insensível e impus um ritmo brutal ao ensaio, sem nem me atentar para o fato de que você já estava treinando desde cedo.

— Você não precisava, eu já havia dito isso... — Eu estava sem graça.

Josh Beauchamp já me deixava nervosa por ser apenas quem era. Um Josh Beauchamp gentil me deixava mais tensa ainda. Como uma adolescente diante do grande ídolo.

— Eu sei que você disse isso, mas aqui estou eu, fingindo que você não disse. Portanto, aceite.

Eu engoli em seco e apenas acenei com a cabeça.

Como eu não conseguiria fazer absolutamente nada para impedi-lo de me atormentar, acabei entrando no cubículo que eu chamava de cozinha e peguei dois pratos e duas taças. Eu o segui para a sala, onde percebi que ele observava tudo à sua volta. Seus olhos pousaram no canto aconchegante onde eu me encontrava antes. Uma confusão de cobertores, um livro aberto largado no encosto do sofá, um monte de papeis de bala. Ótimo, agora ele descobriria também meu pequeno vício em doces.

Porém, o que mais lhe chamou a atenção, aparentemente, foi o pano ensanguentado que se encontrava no chão. Falando em um apartamento limpo, aquilo não parecia deixar uma boa impressão.

— Posso me sentar aqui? — perguntou educadamente. Quem era aquele homem que havia assumido o corpo de Josh Beauchamp? Ele nunca era gentil ou pedia as coisas. Ele simplesmente mandava que tudo fosse feito à sua maneira.

— Claro.

Sentei-me o mais longe possível e segurei um pouco a baba que teimava em querer escorrer por conta daquele cheiro fabuloso de pizza.

— O professor Niky não ficaria muito feliz se me visse comendo esta pizza neste exato momento — falei, rindo.

— Ele não precisa saber — Josh respondeu, abocanhando um pedaço de sua pizza. — E não acho que uma pizza de vez em quando faça mal à rotina de uma bailarina.

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